Protocolo é ignorado em cerimônia com príncipe-herdeiro do Japão
Portal Terra
BRASÍLIA - Para evitar quebras de protocolo que representassem desrespeito ao príncipe-herdeiro do Japão, Naruhito, o consulado japonês em São Paulo distribuiu a jornalistas e fotógrafos uma lista de proibições e restrições a serem adotadas durante a cerimônia de comemoração do centenário da imigração japonesa no Brasil. Ainda assim, a solenidade não escapou de pequenas gafes, incluindo a do cerimonial do próprio Palácio do Planalto, que pronunciou de forma errada o nome do príncipe.
As restrições, dizia o consulado, serviria como 'demonstração de cortesia e polidez' e incluía não atravessar o espaço em frente ao ocupado pelo príncipe, não se posicionar em sua frente ou sequer acompanhar ou caminhar ao seu lado. Repórteres de rádio e TV receberam uma lista com palavras-chave em japonês para serem pronunciadas de forma correta. O locutor da cerimônia, no entanto, errou o principal: a pronúncia correta do nome de sua alteza real.
Para os convidados, uma das maiores preocupações dos organizadores da cerimônia foi minimizar a barreira lingüística japonês-português. Nem todos os presentes, porém, tiveram acesso ao aparelho de tradução simultânea. Alguns homenageados japoneses estranharam a aproximação de estudantes de diplomacia do Instituto Rio Branco, que deveriam entregar-lhes medalhas.
O próprio aparelho de tradução quase representou a pior gafe da cerimônia. O príncipe Naruhito o deixou cair por um instante e, ao tentar pegá-lo do chão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quase caiu e derruba a cadeira sobre si.
Oficialmente o cerimonial do Palácio do Planalto disse não ter recebido nenhuma orientação específica ou treinamento para a recepção do príncipe herdeiro. No Congresso Nacional, no entanto, já foi distribuída uma lista de proibições e isolado o acesso ao Plenário para a chegada de Naruhito.
Desacompanhado, o príncipe subiu a rampa do Palácio do Planalto com nove minutos de atraso. Ao fim do trajeto, o esperavam o presidente Lula, a primeira-dama, Marisa Letícia, e o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Logo ao saírem da rampa, Lula e Marisa violaram a primeira regra encaminhada pelo consulado japonês: não atravessar a caminho do príncipe.
Com discursos-padrão, o presidente Lula e o príncipe Naruhito lembraram das dificuldades dos primeiros 781 japoneses que desembarcaram do navio Kasato Maru no porto de Santos (SP) há exatos 100 anos. - Os pioneiros apostaram no Brasil (...) e não levou muito tempo para que os japoneses mostrassem todo o seu potencial. Ajudaram a construir o Brasil e a fortalecer a relação entre dois países tão distantes geograficamente - afirmou Lula.
- Os primeiros imigrantes foram assentados sem ter noção suficiente, (...) tiveram de superar a barreira do ambiente, da cultura e da língua. Quantas dificuldades devem ter passado os imigrantes - lembrou o príncipe.
Para a visita de Naruhito, o saguão principal do Palácio do Planalto, onde normalmente não são instalados painéis em homenagem a governantes estrangeiros, recebeu na noite de ontem um conjunto de televisores LCD que exibiam um vídeo da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), destacando a "disciplina, o trabalho duro, a habilidade na agricultura e o espírito empreendedor". O vídeo inteiro era exibido com dizeres japoneses e em inglês, sem nenhuma referência à Língua Portuguesa.
Durante a solenidade foram lançados dois selos e uma moeda comemorativa do centenário da imigração japonesa. A moeda, prateada, foi cunhada em cuproníquel e tem valor de face de R$ 2. A tiragem inicial é de duas mil unidades, que podem ser compradas a partir de amanhã nas regionais do Departamento do Meio Circulante do Banco Central ou pelo site do BC na internet (www.bcb.gov.br) ao custo de R$ 24.
Os selos em homenagem ao centenário custam R$ 3,50 e retratam elementos característicos da cultura japonesa feitos pela artista Adriana Shibata. O primeiro selo é composto pelo navio Kasato Maru e tem como pano de fundo um mapa do Brasil e a letra C, de centenário. O segundo apresenta um origami diante das bandeiras do Brasil e do Japão também sobrepostas pela letra C.