Transposição do rio São Francisco por conta própria
Jornal do Brasil
BELO HORIZONTE - Entre os bens de Doutor Luciano arrolados estavam incluídas pelo menos 12 empresas, sendo que algumas delas eram, na época, as maiores do país em sua atividade. A Imobiliária Fayal era proprietária de mais de 40 mil imóveis na capital mineira, incluindo lotes, estacionamentos, edifícios comerciais, lojas, salas, barracões, prédios de apartamentos e vários bairros inteiros, altamente valorizados. Concorrentes diziam que o médico era dono de metade de Belo Horizonte. Outra empresa do setor, a Rural Baiuiru, tinha mais de 600 fazendas, a maioria latifúndios no norte de Minas.
O médico era proprietário de uma imensa usina de açúcar em Lagoa da Prata, avaliada em US$ 120 milhões e toda a sua produção provinha de canaviais próprios. O patrimônio incluia ainda quase todos os cinemas de Belo Horizonte, exceto dois, que eram obrigados a exibir filmes mexicanos e franceses por pressão de Luciano junto às distribuidoras. ndo morreu, deixou 240 mil reses no pasto. Seu poder era tão grande que desviou o leito do Rio São Francisco em quase sete quilômetros de extensão, apenas com o propósito de melhor irrigar seus canaviais.
Por ironia, o desvio do leito do rio da integração nacional só foi descoberto há poucos meses, por técnicos do Ministério da Integração Nacional, que preparavam a uma viagem do ministro Gedel Vieira Lima à área. Os especialistas denunciaram o crime ambiental à imprensa, na suposição de que fora perpetrado pelos proprietários atuais da usina. No entanto, conforme ficou comprovado, tratava-se de obra do Doutor Luciano e seus tratores, ainda na década de 70.
O magistrado determinou a substituição do inventariante, Antônio Luciano Pereira Neto, filho primogênito do médico. Na sentença, Lorens afirma que o inventário foi uma espécie de ação entre amigos, que desconsiderou a existência de herdeiros menores que necessitam de assistência judicial.
Como o desejo do inventariante era o de distribuir o dinheiro rapidamente, bastava a apresentação do exame de DNA feito com o médico geneticista Dr. Sérgio Pena, que recebera amostras de sangue do médico e fez mais de 2 mil testes. Doutor Luciano, também industrial, banqueiro e deputado federal pelo antigo PSD, gostava de dormir com garotas virgens, geralmente pobres e seduzidas por dinheiro, segundo o inventário. E teve um filho com a própria filha.