Polícia Federal e Abin ainda longe de uma conciliação

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Vasconcelo Quadros, Jornal do Brasil

BRASÍLIA - Os advogados do banqueiro Daniel Dantas continuam colhendo munição com as declarações de autoridades. Ao analisar os supostos desvios praticados pelo delegado Protógenes Queiroz, que se socorreu à Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para realizar a Operação Satiagraha, o ministro da Justiça, Tarso Genro tocou indiretamente num dos pontos explorados pela defesa do banqueiro.

Por mais correta que seja a investigação, por mais importante e mesmo pelos bons objetivos que ela tenha alcançado, nenhum tipo de investigação justifica desvios de conduta, porque ela corre o risco de perder o mérito e isso é uma preocupação da corregedoria disse o ministro, nesta terça-feira, em Brasília, horas antes de uma reunião entre a dirigentes da Polícia Federal e Abin para tentar contornar a crise entre as duas instituições.

Motivado pela decisão de Protógenes, que escondeu a operação de seus superiores e foi buscar um ostensivo apoio da Abin, o choque entre as duas instituições está sendo explorado pelos advogados do banqueiro. Eles tentarão emplacar nos tribunais superiores a tese de que a cooperação foi ilegal e contaminou a investigação.

O ministro não afirmou que as investigações estejam contaminadas, mas a análise não agradou a polícia. Um dos diretores do órgão afirmou nesta terça que não existe a mais remota possibilidade de a defesa se beneficiar. Segundo essa fonte, os indícios de que o banqueiro praticou gestão fraudulenta na administração do fundo dos investidores do Opportunity são robustas. Na denúncia por corrupção ativa contra um delegado federal, o dinheiro apreendido, a presença de seus assessores na falsa negociação e as imagens e o áudio da ação controlada, autorizada pela Justiça, não deixam margem de dúvida de que houve crime.

Na PF, a Satiagraha é avaliada em duas situações distintas: o papel de Protógenes, que a direção recrimina por ter violado normas internas, e o resultado das investigações por ele desenvolvidas, que deram aos inquéritos em andamento os caminhos para uma condenação do banqueiro Daniel Dantas.

Na terça pela manhã, na solenidade de lançamento de um plano de controle de insumos químicos usados para dificultar a ação dos cartéis de cocaína na Colômbia, Peru e Bolívia, o diretor da PF, Luiz Fernando Corrêa, disse que Protógenes poderá voltar ao trabalho assim que encerrar sua licença, no próximo dia 26, mas não deu nenhuma indicação de que o delegado pode retornar às investigações contra Dantas. Corrêa também avisou que o mérito da operação não legitima a prática de desvio.

Ele é um servidor como qualquer outro da Polícia Federal. Estamos usando cada um dentro do seu potencial e de forma a dar maior retorno ao serviço. Não personalizamos a gestão da polícia ou as operações. Isso não é patrimônio de ninguém, é o Estado brasileiro reagindo ao crime argumentou.

À tarde, Corrêa recebeu, numa visita de cortesia, na sede da PF, três dirigentes da Abin o diretor em exercício Wilson Trezza, o adjunto, Luiz Alberto Salaberrí, e o de integração, Carlos Ataídes. O objetivo foi demonstrar que as duas instituições estavam se esforçando para superar a crise. Mas a reunião acabou lembrando a imagem do maestro do filme Titanic, que regia a orquestra enquanto o navio afundava.

PF e Abin estão em guerra, sem previsão de trégua enquanto não for superada as desconfianças. Pela manhã, ao responder uma pergunta sobre as buscas num escritório da Abin, no Rio, e dentro de um furgão, na sede do órgão em Brasília, o diretor da PF disse que nenhuma instituição está imune a ação da polícia.

Aonde a prova estiver, nós vamos buscar destacou.