Após acordo, sem-terras deixam fazenda de Oscar Maroni
Portal Terra
SÃO PAULO - Depois de cinco dias de ocupação, centenas de famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) deixaram na tarde desta terça-feira a fazenda Santa Cecília, do empresário Oscar Maroni Filho, dono da boate Bahamas, em São Paulo, e acusado de exploração da prostituição. A fazenda fica em Araçatuba, interior do Estado. Os sem-terra tinham prazo - dado pela Justiça em reintegração de posse concedida ontem- para deixar a área até as 17h de hoje, mas saíram uma hora antes, após fecharem um acordo com Maroni.
Segundo os coordenadores do MST, o acordo prevê que Maroni discuta a possibilidade de compra da fazenda Santa Cecília pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para realização de reforma agrária. A reunião está marcada para a manhã de segunda-feira na sede da superintendência do Incra, em São Paulo.
- Será uma mesa-redonda entre os acampados, Maroni e os representantes do Incra - disse o coordenador do MST, Jonas da Silva. Segundo ele, está confirmada a participação do superintendente do Incra em São Paulo, Raimundo Pires da Silva, e do chefe da Divisão de Obtenção de Terras do Incra, Sinésio Sapucaí.
Silva disse que, além da presença de Maroni na reunião, a própria decisão da Justiça forçou as cerca de mil famílias de sem-terra a deixarem a fazenda.
- Também saímos para cumprir a determinação da Justiça, mas esperamos que Maroni cumpra a promessa de participar dessa mesa-redonda, porque senão vamos ocupar novamente a área e não sair mais de lá - disse Silva.
Segundo ele, a ocupação, que teve início na manhã de quinta-feira, cumpriu os principais objetivos do MST, que era chamar a atenção para a revisão dos índices de produtividades de 20 fazendas da região e mostrar à opinião pública que os fazendeiros estão mascarando as propriedades para aparentes altos índices de produtividade.
-Essa fazenda de Maroni é um exemplo. Ela é ocupada por plantações e criações feitas em arrendamento. O dono da área mesmo não produz nada. É uma forma de mascarar os índices de produtividade - afirmou Silva.
Segundo Maroni, dos 1.680 hectares, 960 são ocupados com arrendamentos de plantações de cana e 480 com arrendamento para criação de gado de corte, além de outros 90 hectares com o plantio de tomate, também arrendados e criações de cavalos de raça. De acordo com Maroni, a fazenda "é altamente produtiva", pois possui 7 mil m lineares de cocho que alimentam fado suficiente para produzir de 10 mil a 12 mil kg de carne a cada 24 horas em época de confinamento.
Depois de deixar a área, os sem-terra se reuniram no acampamento Zumbi dos Palmares, a 35 km de distância do local. Com isso, eles também obedeceram a outra determinação da Justiça, que é de permanecer distante a pelo menos 10 km das terras de Maroni.
O empresário não foi localizado até as 17h50 para falar sobre o assunto com a reportagem. Na quinta-feira, o empresário disse que se reuniu com representantes do Incra para falar sobre a possibilidade de negociar a área. Depois, com o clima tenso na ocupação, disse que apenas foi ao Incra para se inteirar das formas de comercialização, mas que não tinha intenção de vender a propriedade.