Crise de hipertensão assusta Lula

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Jornal do Brasil

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sofreu uma crise hipertensiva no fim da noite de quarta-feira e precisou ser internado no Real Hospital Português, em Recife. A pressão arterial do presidente chegou a 18 por 12, mas uma hora depois de medicado ele já estava bem, segundo a assessoria de imprensa.

O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que Lula sentiu-se mal na quarta-feira, dentro do avião, antes de embarcar para Davos, Suíça. Lula participou normalmente de jantar com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), quando discutiu a candidatura do deputado Ciro Gomes (PSB) ao Palácio do Planalto.

O presidente estava bem, estávamos numa conversa. No jantar, o presidente nem chegou a jantar porque chegou o horário de embarcar para Davos lembrou o ministro. Dentro do avião, o médico avaliou que pela duração da viagem, deveria ir para o hospital.

O presidente deu entrada no hospital por volta das 23h30 e foi atendido por dois cardiologistas e um cirurgião toráxico. Diagnosticada a pressão alta, Lula foi medicado e, durante a madrugada, fez exames de eletrocardiograma, ecocardiograma, análises sanguíneas, Raios X e tomografia de tórax.

O ministro, que assim como Dilma passou a noite no hospital com Lula, disse que o presidente acordou muito animado por volta das 5h. Padilha afirmou que Lula logo dirigiu-se para a janela do hospital, onde pediu que os ministros olhassem a cidade de Recife e observassem as obras do Programa de Aceleração do Crescimento na cidade.

Ainda no hospital, segundo Padilha, Lula repassou com o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, o discurso que faria em Davos e que será lido pelo ministro das Relações Internacionais, Celso Amorim.

Lula deixou quinta-feira pela manhã o hospital. Ele saiu com aparência abatida, vestido com um conjunto de moletom branco, acompanhado pelos ministros Dilma e Padilha. O presidente cumprimentou a equipe médica e não deu declarações à imprensa.

Quando chegou na Base Aérea de Congonhas, em São Paulo, o presidente foi submetido a um rápido exame. Ele estava sendo esperado pelo médico Roberto Kalil Filho, que o acompanhou até seu apartamento em São Bernardo do Campo (SP), onde Lula descansará até domingo em companhia dos familiares, seguindo recomendação médica. O presidente está acompanhado da mulher, Marisa Letícia, e de quatro filhos. O presidente só deve retornar ao trabalho na segunda-feira.

A viagem de Lula a Davos, na Suíça, onde participaria do Fórum Econômico Mundial e receberia o prêmio de Estadista Global, foi cancelada. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, receberá sexta-feira, em nome do presidente Lula, o prêmio. O chanceler brasileiro lerá o discurso que Lula faria na solenidade de entrega do prêmio.

Roberto Kalil Filho disse que insistirá para que o presidente faça um check-up nos próximos dias, nem que seja amarrado pela orelha . Segundo Kalil, o presidente está bem, mas cansado, e é uma pessoa saudável.

Uma combinação de agenda intensa e exames atrasados

Os médicos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não apontaram possíveis causas para o mal-estar sentido pelo presidente na quarta-feira, que o levou a ficar internado no Hospital Português, em Recife. O problema, contudo, ocorreu em uma semana de agenda de trabalho intensa. O presidente visitou quatro estados em três dias nesta semana e, no período em que permaneceu em Brasília, participou de diversas reuniões na sede provisória do governo, e de eventos como a solenidade de terça-feira, no Ministério da Justiça, em que foi assinado o decreto que criou a Bolsa Copa e a Bolsa Olímpica.

Na segunda-feira, Lula participou de eventos em São Paulo e no Rio de Janeiro e, na manhã seguinte, depois de uma agenda intensa de reuniões e da cerimônia no Ministério da Justiça, participou do ato de sanção da lei que regulamentou a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc). Em seguida, embarcou para Porto Alegre, para cumprir compromissos no Forum Social Mundial (FSM).

Na quarta-feira, o ritmo de trabalho continuou intenso: Lula chegou a Brasília de madrugada e, de manhã, participou de gravações para o programa eleitoral do PT. Antes de embarcar para Recife, reuniu-se na Base Aérea de Brasília com o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e os deputados Henrique Fontana (PT-RS) e Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Em Recife, Lula cumpriu três compromissos, o último deles, um jantar com o governador Eduardo Campos. O presidente vinha há dias reclamando de cansaço. Lula não fez seu check-up de 2009. Dias atrás, chegou a brincar com isso, numa frase que, mais tarde, se revelaria quase premonitória:

Eu não fiz porque o (vice-presidente) José Alencar está com um problema de saúde, a (ministra da Casa Civil) Dilma teve o problema dela. Eu pensei: se eu fizer e der alguma coisa também, a República está desgraçada. Aí eu falei para o meu médico: vamos esperar, em janeiro eu faço.

Dor de garganta

Em Recife, onde passou o dia na véspera queixando-se de mal-estar, Lula disse em um discurso que sentia dor de garganta, por isso falaria pouco. Horas antes de ser internado, arrancou aplausos da plateia quando afirmou não querer ser o primeiro paciente do hospital inaugurado naquela tarde.

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, admitiu quinta-feira que a crise de hipertensão do presidente pode ter sido provocada por cansaço devido à agenda apertada que ele e os demais integrantes do governo vêm mantendo. No entanto, ela ressaltou que Lula não parece estar doente. Para ela o presidente deve a adotar uma agenda mais moderada.

Foi um mal-estar. O presidente não está doente. Ele vai precisar olhar um pouco mais a saúde disse Dilma. Essa história de dormir às 2h da manhã e acordar às 9h não deve continuar. Às vezes não se para nem para almoçar.

Dilma disse que ainda não sabe se o presidente a acompanhará em compromissos que terá em São Bernardo do Campo no próximo sábado. Está prevista a visita de Dilma a uma igreja do município acompanhada por Lula.

O problema é que o presidente é um trabalhador obsessivo, não para. O que ele precisa agora é de descansar acrescentou o ministro da Saúde, José Gomes Temporão.

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, confirmou quinta-feira ter sido informado pelo médico do presidente de que o petista estava com os exames de saúde atrasados.

Com certeza foi um susto. O médico dele comentou comigo que ele estava atrasado com os exames. Provavelmente ele está levando uma bronca dos médicos afirmou Bernardo.

Já o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, lembrou quinta-feira que o presidente Lula tem hábitos saudáveis, como a prática de exercício físicos regulares, por isso não vê motivos para o presidente modificar sua rotina de trabalhos em consequência da crise hipertensiva que sofreu:

O presidente caminha, faz exercícios diários. Ele tem saúde e cuida da saúde melhor do que todos nós.

Doença atinge 17 milhões de brasileiros

Cerca de 17 milhões de brasileiros são portadores de hipertensão, uma doença que não tem cura mas que pode ser controlada. Os dados mais recentes do Ministério da Saúde de prevalência de pressão alta, ou hipertensão arterial, apontam que 35% da população brasileira com mais de 40 anos é portadora da doença.

Um outro estudo da Universidade Federal de Minas Gerais diz que 33% dos óbitos com causas identificadas no Brasil são relacionados a problemas cardiovasculares como a hipertensão.

O Ministério da Saúde explica que a hipertensão ocorre quando a pressão que o sangue faz na parede das artérias para se movimentar é muito forte, ficando o valor igual ou maior que 140/90 mmHg ou 14 por 9 .

A hipertensão arterial, quando não controlada, pode acarretar em derrames, doenças do coração como infarto, insuficiência cardíaca e angina (dor no peito), insuficiência renal ou até falência dos rins, além de alterações na visão que podem causar cegueira. Por isso, é fundamental prevenir e controlar a doença.

Existem alguns fatores que aumentam as chances de um indivíduo desenvolver hipertensão. Uma alimentação não balanceada, especialmente carregada de sal, pode levar ao quadro hipertensivo. O consumo de bebida alcoólica, o sedentarismo e a obesidade também estimulam a doença.

O Ministério da Saúde acrescenta ainda à lista de fatores de risco: diabetes, histórico de hipertensão na família e ser da raça negra. O órgão avisa que, depois dos 55 anos, 90% dos indivíduos correm o risco de desenvolver hipertensão, mesmo que tenham tido pressão normal até então.

Alguns sintomas que podem ajudar no diagnóstico da doença são dores de cabeça, cansaço, tonturas e sangramentos do nariz. Porém, a única forma segura de identificar a hipertensão é checar regularmente a pressão arterial, pois o mal não apresenta sintomas claros no início. Por isso, muitos portadores de hipertensão nem sabem do risco que correm.

Quem já teve o quadro hipertensivo diagnosticado precisa manter a doença sobre controle. Para essas pessoas, o ministério recomenda um consumo diário máximo de sal de uma colher de chá. Além disso, é preciso medir a pressão arterial regularmente, reduzir ou abandonar o consumo de bebidas alcoólicas, manter-se no peso adequado a cintura não deve medir mais de 94 cm para os homens e 80 cm para as mulheres ter uma alimentação saudável, praticar atividade física ao menos cinco vezes por semana, parar de fumar e controlar o estresse.