Bilhete era de Arruda, diz Naves

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Jornal do Brasil

BRASÍLIA - O deputado Geraldo Naves (DEM-DF) confirmou sexta-feira que o bilhete entregue ao jornalista Edmilson Edson dos Santos, o Sombra, foi, de fato, escrito pelo governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (sem partido). O parlamentar negou, contudo, que o documento fizesse parte de uma tentativa de suborno por parte do governo para que Sombra alterasse o teor de seu depoimento à Polícia Federal de maneira a facilitar a absolvição de Arruda. O bilhete foi apresentado por Sombra à Polícia Federal (PF) para comprovar a pressão sofrida para desmentir a existência do suposto esquema de arrecadação e distribuição de propina no governo e desqualificar os vídeos e as denúncias do ex-secretário de Relações Institucionais, Durval Barbosa.

Segundo Naves, que admitiu a entrega do bilhete a Sombra em nome do governador em dezembro de 2009, o recado de Arruda tinha apenas o objetivo de tranquilizar o jornalista, que temia uma queda no número de anúncios publicitários e de verba de patrocínio em jornal de sua propriedade depois do escândalo denunciado por Durval, seu amigo. Segundo Naves, o receio de Sombra foi levado ao governador que escreveu o bilhete e o entregou ao deputado.

O bilhete é verdadeiro, mas não se trata de suborno. Depois da crise, Sombra teve medo de perder patrocínio. Nunca recebi proposta para subornar alguém garantiu Naves. Segundo o deputado, o bilhete era formado por tópicos e imaginar que se tratava de uma tentativa de suborno é uma maldade sem precedentes . Ele não ia escrever uma carta. Eram dizeres, tópicos que eu dissertei para ele. Olha, esse bilhete é a prova de que não teve maldade. Se tivesse maldade, isso ficaria nas mãos dele? O governador mandaria o bilhete? Ele quer emergir nesse processo que está longo por ai. Se fosse suborno, eu não me envolveria em um negócio tão baixo desse.

A declaração de Naves contradiz a explicação dada pela assessoria do governo na quinta-feira, data da prisão de Bento Silva. Segundo o GDF, Sombra foi quem procurou o governo diversas vezes após o escândalo para pedir o patrocínio publicitário, pedido que teria sido negado.

O bilhete é formado por seis frases: gosto dele , sei que tentou evitar , quero ajuda , sou grato , GDF ok e Geraldo está valendo . Segundo as explicações do deputado, gosto dele seria uma demonstração de carinho de Arruda para Sombra. Sei que tentou evitar seria um suposto reconhecimento de Arruda de que Sombra tentou fazer com que Durval não fizesse a denúncia. Já o quero ajuda e sou grato não seriam frases relacionadas ao pedido de alteração de depoimento, mas sim, de acordo com o deputado, para que Sombra conversasse com amigos para dizer que não fosse cobrado pelas denúncias, enquanto o GDF ok dizia respeito à liberação do patrocínio publicitário.

Amigo do governador e integrante da tropa de choque de Arruda na Câmara, Naves anunciou sexta-feira que pretendia deixar a vaga de distrital que ocupa na Câmara Legislativa. Naves é o segundo suplente na vaga. Ele teria pedido ao primeiro suplente, Raad Massouh (DEM), voltar ao posto. (Com agências)

Sobrinho de Arruda teria sido o intermediário de negociação

O homem responsável pela entrega dos R$ 200 mil para o jornalista Edmilson Edson Sombra dos Santos, o conselheiro fiscal do Metrô de Brasília, Antonio Bento da Silva, foi transferido sexta-feira da Superintendência da Polícia Federal para o Complexo Penitenciário da Papuda. De acordo com Sombra, a quantia era apenas a primeira parcela de um total que chegaria a R$ 2 milhões, dinheiro que seria entregue ao jornalista em troca de uma ajuda ao governador.

Em seu depoimento à PF, Antonio Bento da Silva afirmou que a negociação do suposto suborno foi feita com Rodrigo Arantes, sobrinho, secretário particular e homem de confiança de Arruda. Silva disse que se encontrou por cerca de seis vezes com Rodrigo nos últimos dias, ocasiões em que teria negociado o pagamento a Sombra.

No depoimento, Silva diz que não chegou a tratar diretamente com Arruda e que Rodrigo foi sempre o intermediário. Os R$ 200 mil com os quais foi preso nas imediações de uma churrascaria em Brasília teriam sido entregues a Silva por um emissário do sobrinho de Arruda. Silva disse ter pedido a Sombra, como requisitado pelo governo, para que desse um depoimento à PF afirmando que as denúncias sobre o esquema de corrupção no governo local eram criadas pelo ex-secretário Durval Barbosa.

Sombra disse sexta-feira que o conselheiro do Metrô foi apenas o último de diversos emissários enviados pelo GDF para negociar a alteração do depoimento. O jornalista contou no depoimento à PF que foi procurado no começo de janeiro pelo deputado distrital Geraldo Naves (DEM), com um recado de Arruda: O governador quer saber se você pode ajudá-lo pois ele tem certeza que o Durval fez tudo isso a mando do velho . Segundo Sombra, o velho seria o termo utilizado por Naves para identificar o ex-governador e adversário político de Arruda, Joaquim Roriz.

O emissário de Arruda, ainda segundo o depoimento de Sombra, também queria conseguir documentos da investigação da PF que pudessem ajudar na defesa de Arruda no inquérito que tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e fitas que ainda não tivessem sido divulgadas sobre o caso e que, em tese, estariam na posse de Durval ou do próprio Sombra .

As negociações com Naves teriam começado no dia 6 de janeiro. Por falta de confiança e intimidade com o deputado distrital, Sombra relata que acabou trocando de interlocutor com o governador. O interlocutor foi trocado, em comum acordo, pelo secretário de Comunicação do GDF, Wellington Moraes, com os mesmos objetivos trazidos por Naves , disse à PF o jornalista.

Moraes, figura responsável pelos contratos publicitários do governo, seria alguém mais próximo de Sombra, tendo em vista que a publicação do jornalista contava com peças da comunicação oficial com frequência. Com a entrada do secretário na negociação, Sombra diz ter passado a falar diretamente com Arruda a partir do telefone celular de Moraes. O governo, contudo, teria enviado, dias depois, Silva, figura ainda mais próxima de Sombra, tendo em vista que era também funcionário dele no jornal O Distrital , levando a entender que mais uma vez o interlocutor teria sido trocado .

Sexta-feira Sombra classificou de mentirosas as explicações de Arruda sobre a suposta tentativa de subornar o jornalista e desafiou o governador:

Eu quero vê-lo (Arruda) frente a frente, cara a cara. Quero ver, quero que ele desminta na cara as conversas todas do Bento e do Wellington.

OAB pede a indisponibilidade de bens de Arruda

A Ordem dos Advogados do Brasil entrou sexta-feira com uma ação civil pública na Justiça Federal de Brasília pedindo a indisponibilidade dos bens de Arruda, dos secretários de governo e dos deputados distritais investigados pela PF por participação no suposto esquema de corrupção local.

Não se está aqui julgando, até porque não é nosso papel, mas exercendo um papel de controle social de zelar neste momento, em havendo desvio de recursos, para que seja devolvido à sociedade aquilo que dela foi retirado justificou o presidente da entidade, Ophir Cavalcante, fazendo um apelo ao Superior Tribunal de Justiça, onde tramita o inquérito. Esperamos que o STJ seja rigoroso e tome este caso como paradigma do combate à corrupção.

A OAB avalia ainda que medida judicial pode adotar para pedir o afastamento do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (sem partido), se ficar comprovado seu envolvimento com a tentativa de suborno do jornalista Edson Sombra, testemunha do suposto esquema de pagamento de propina denunciado pelo ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa. Segundo Cavalcante, o bilhete apreendido agrava a situação do governador.

A Ordem já está estudando uma nova medida judicial para pleitear o afastamento do governador. Dependerá, obviamente, dos elementos probatórios. Já há um link maior que pode atribuir ao governador a condição de estar obstruindo as investigações. Isso pode ser feito especulou o presidente da OAB.

Ophir Cavalcante pediu ainda o afastamento do governador Arruda do cargo como uma maneira de garantir a celeridade das investigações e não descartou a hipótese de pedir sua prisão temporária, por meio de uma ação civil pública, por tentativa de obstrução.

Esperamos que o governador se afaste voluntariamente ou que a Justiça determine seu afastamento completou.