No passado, integrantes do CV e PCC se juntaram em assaltos no RJ e SP

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Vasconcelo Quadros, Jornal do Brasil

BRASÍLIA - Depois que passou a investigar a estrutura do PCC, cuja organização ganhou o noticiário internacional ao promover, num domingo de maio de 2001, a megarrebelião que levantou, simultaneamente, 29 presídios paulistas, a polícia já descobriu várias ligações com os líderes do Comando Vermelho. Nos inquéritos policiais há referências a telefonemas trocados entre Fernandinho Beira Mar e Marcola. Integrantes dos dois grupos dividiram celas em presídios do Rio e São Paulo e também se juntaram em alguns assaltos, compra de armamento e tráfico de drogas. Estilos como organização e planejamento, as duas quadrilhas adotaram depois de conviver com presos políticos.

O Comando Vermelho foi um das primeiras organizações a abandonar a prática individualista que caracterizava a criminalidade em geral. Fez isso prestando atenção no resultado de reuniões coletivas entre ativistas políticos que, no período militar, foram mandados para penitenciárias em que já se amontoavam presos comuns. O PCC surgiu em 1992, como uma reação ao duro regime da Casa de Custódia de Taubaté, no interior paulista, conhecida como Piranhão, famosa pela rigorosa disciplina imposta aos detentos. Seus principais fundadores, Antônio Carlos Roberto Paixão, o Paixão, Cesar Augusto Roris da Silva, o Cesinha, e José Maurício Felício, o Geleião, citado em pelo menos uma das letras do funk proibidão, também se inspiraram na união entre presos políticos.

Na Penitenciária estadual de São Paulo, um dos presídios do antigo complexo Carandiru, eles conviveram com os sequestradores do empresário Abílio Diniz, ativistas políticos que integraram a esquerda armada do Chile e da Argentina nas décadas de 60 e 70 e, antes da prisão, haviam participado de ações em vários países da América do Sul. As decisões do grupo eram coletivas, mesmo quando se tratava de choque com outros detentos. Numa das ocasiões, o argentino Horácio Paz salvou o brasileiro Raimundo Rosélio da Costa Freire de uma enrascada ao advertir detentos que depois viriam a integrar o PCC que uma ação violenta que estava programada seria respondida por todo o grupo. Um dos dez envolvidos no Caso Diniz, Freire havia contraído uma dívida de drogas e, sem dinheiro para honrar, estava jurado de morte. Houve então um acordo e os grupos passaram a se respeitar.