Número de mortos sobe no Nordeste; 123 mil estão desabrigados
Ana Paula Siqueira , Jornal do Brasil
BRASÍLIA - O número de vítimas não para de subir no Nordeste. Até o final da noite de quarta-feira, o total de mortos nas enchentes que assolam Alagoas e Pernambuco desde a semana passada chegava a 45. O Exército está na região e já conta um efetivo maior que o enviado ao Haiti antes do terremoto que assolou a capital daquele país. Os relatos continuam desoladores, e não faltam comparações com a catástrofe vivida em Porto Príncipe, em janeiro.
De acordo com os últimos balanços, divulgados no início da noite pelas Defesas Civis, o número de óbitos subiu de 41, divulgados na terça-feira, para 45. Cerca de 600 pessoas continuam desaparecidas. Mais de 123 mil estão desabrigadas ou desalojadas.
Emergência e calamidade
Em Alagoas, 26 municípios foram atingidos pela enxurrada. Três estão em situação de emergência e 15 em estado de calamidade pública. Em Pernambuco, foram 54 cidades atingidas. Dessas, 30 estão em situação de emergência e nove em estado de calamidade pública.
No município de Braquinha (AL), todos os prédios públicos estão no chão. Em Palmares (PE), o afundamento de um lago deixou um caminhão com as rodas para cima.
Os alagamentos aconteceram por conta das fortes chuvas, que caíram em volume muito maior que o habitual e provocaram o transbordamento dos rios Paraíba (AL), Camarajibe (AL), Uma (PE), Sirinhaém (PE) e Mundaú (PE e AL).
A forte enxurrada provocou deslizamentos e rompimento de barragem, que pioraram os efeitos da correnteza, que arrastaram tudo o que havia pela frente. A quantidade de chuva que caiu na região em três dias era o previsto para um mês.
Prioridade
De acordo com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que passou dois dias na região, situação como a enfrentada por Alagoas e Pernambuco ele só viu no Haiti. Ele afirma que a prioridade agora é localizar os desaparecidos.
O próximo passo é a remoção das pessoas isoladas. Para isso, devem ser preparadas habitações provisórias, como espaços coletivos e barracas, com distribuição de alimentos de consumo imediato disse o ministro à Agência Brasil.
O Exército conta com 1.700 soldados. Desses, 300 estão sendo deslocados para Alagoas e Pernambuco. Além disso, já estão preparados outros 3 mil militares para eventuais deslocamentos. No Haiti, antes do reforço por conta do terremoto de janeiro, havia 1.300 membros do Exército Brasileiro.
Quarta-feira, o município de Barreiras, em Pernambuco, recebeu o hospital de campanha da Aeronáutica. O presidente Lula visita quinta-feira a região.
Quilombolas encontrados em cima de jaqueiras
Pelo menos uma notícia boa surgiu, quarta-feira, em meio a tragédia que assola Alagoas e Pernambuco. As buscas por desaparecidos renderam resultados e 50 pessoas foram localizadas no povoado quilombola de Muquém, que segundo informações da Agência Alagoas, é formado por descentes diretos do Quilombo de Palmares.
Eles foram encontrados pelo secretário de Meio Ambiente, Alex Gama, e sua equipe. Os até então desaparecidos, conseguiram escapar graças a duas jaqueiras. Quando perceberam o nível da água subindo, eles se dividiram e ocuparam as duas árvores.
Preocupações
Uma das preocupações manifestadas pelos governadores de Alagoas, Teotônio Villela Filho, e de Pernambuco, Eduardo Campos, é com o assentamento dos desabrigados. Para eles, não faz sentido reconstruir em locais onde já houve tamanha destruição.
A prefeita de Branquinha (AL), Renata Moraes, concorda com os governadores e não vê possibilidade da cidade ser reconstruída no mesmo local.
Já o Ministério dos Transportes divulgou quarta-feira que R$ 72 milhões serão investidos na recuperação das estradas e pontes dos municípios atingidos. Durante o final de semana, o ministro da pasta, Paulo Sérgio Passos, sobrevoou as áreas alagadas.
Pode ficar pior
O que está ruim sempre pode piorar. Depois da tragédia que causou 44 mortes contabilizadas até a noite de quarta-feira, uma das grandes preocupações é com as doenças e epidemias que surgem depois das enchentes.
O governo de Pernambuco já se prepara para, a partir de sexta-feira, enfrentar um drástico aumento no número de casos de leptospirose e infecções diarréicas. De acordo com a diretora-geral de Vigilância Epidemiológica do estado, Rosilene Hans, o grande problema é a água contaminada que as pessoas inevitavelmente tem ido contato.
Por mais que muitos estejam utilizando botas e sacos plásticos, como água subiu muito, as pessoas se molharam inteiras explicou a diretora ao Jornal do Brasil.
Solidariedade
O embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon, anunciou quarta-feira a autorização de US$ 50 mil em ajuda humanitária para serem usados com produtos de higiene, roupas e remédios.
A partir de quinta-feira, a arena do Fifa Fan Fest, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, irá receber doações de alimentos cobertores e água.