"Bin Laden" vota em Collor e abomina Heloísa Helena

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Portal Terra

MACEIÓ - José Marinho Muniz Falcão, ou simplesmente Zé Muniz, é o candidato a cargos públicos mais famoso de Alagoas. Suas performances no horário eleitoral gratuito chamam a atenção: já se fantasiou de Bin Laden para criticar políticos no Estado e mostrou um penico na TV: "é isso o que o eleitor merece por vender o voto", dizia.

Ficou mudo, só com a cara fechada por quase um minuto e já apareceu gritando, com as mãos abertas e os olhos esbugalhados, reclamando de alguma coisa. Vangloria-se por não ter pedido um único voto para ele mesmo. É uma candidatura protesto? Uma forma original de pedir votos? Ele sorri. "Sou assim mesmo. As pessoas que votam em mim são os formadores de opinião".

Zé Muniz é candidato desde 1970. Participou de 12 eleições, mas não se elegeu em nenhuma. Vem de uma época em que fidelidade partidária não era penduricalho de luxo, mas coisa de político com palavra. Ficou 42 anos no PMDB. "Por pressão do Renan e por ter brigado com ele", disse, ao citar o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros, atual presidente estadual do partido, Zé Muniz teve de migrar para o PRB.

O homem que critica todo mundo vai votar, este ano, no senador Fernando Collor (PTB) ao governo. Ao Senado, não escolheu ninguém. E em quem você não vota, de jeito nenhum? "Em Heloísa Helena (Psol). Ela não é o quê diz ser. O Brasil precisa conhecê-la melhor", diz o candidato.

Heloísa Helena é candidata ao Senado. Este ano, Zé Muniz sairá a deputado estadual. Não adianta qual personagem vai interpretar este ano na televisão. E o homem que critica todo mundo vai votar em Collor? "Não sou eu quem decido, é o partido. Mesmo que eu não concorde, sou homem de partido. Um homem fiel. Podem dizer o quê for de mim. Só não me chamem de laranja nem puxa-saco".

O "Bin Laden" do horário eleitoral gratuito não sabe se vota em José Serra ou Dilma Rousseff - dois dos candidatos à presidência da República. "Devo votar em Dilma, mas o que me chama a atenção mesmo é a falta de vergonha do povo. Quando chega a eleição, vai o povo votar nos mais corruptos, não em gente ficha limpa", diz.

Zé Muniz não tem um único processo contra ele. "O Ficha Limpa deveria ser implantado para todos os casos, até gente com processo", completa. Ele tem 68 anos, é jornalista e apresentou dois programas de televisão, retirados do ar meses depois por pressão política de algum grupo partidário no Estado. Coleciona prêmios nacionais na área de propaganda, faz questão de falar sobre eles. Ao sair pelas ruas é tão cumprimentado como um artista de televisão e tão abraçado quanto um político.

Apesar do prestígio, na última eleição, para vereador de Maceió, teve 19.600 votos. Mas sua família é tradicional na política e na polêmica. Djalma Falcão, seu irmão, foi prefeito de Maceió, na década de 80. Muniz Falcão, outro irmão, foi governador na década de 60 e derrubado do cargo pelos usineiros de Alagoas por implementar políticas reformistas, de valorização das classes mais pobres, escandalizando os produtores de açúcar e álcool.

Na época, um dos que ajudou a derrubar Muniz foi Arnon de Mello, dono do jornal Gazeta de Alagoas. Arnon é pai do senador Collor, hoje apoiado por Zé Muniz ao governo.