Lula diz ter se afastado da influência das 'rodas de cerveja'
BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se despede do posto máximo do Executivo federal dentro de quatro dias, confidenciou nesta segunda-feira que buscou conscientemente se afastar de amigos nos últimos oito anos como forma de garantir que seu cargo estivesse imune a decisões que pudessem ter sido discutidas "nas rodas de cerveja e uísque".
Lula, que recebeu jornalistas setoristas da Presidência para uma confraternização de fim de ano, revelou ainda que impôs restrições a idas suas a lugares públicos por saber que pode haver pessoas "filmando, gravando, bisbilhotando a vida da gente".
"A solidão não deveria existir. Quando me refiro à solidão me refiro, sobretudo, aos finais de semana em que você não pode convidar pessoas para irem a sua casa. Porque você não pode convidar empresários, não pode convidar ministros, porque qual você vai convidar? Se você convida um, os outros que não forem já vão achar que você tem preferência por um", queixou-se o presidente.
"Sou um ser humano de muitos amigos. Eu fiz uma opção. Foi uma opção premeditada minha de ficar oito anos em Brasília. Não fui a um restaurante, a um aniversário, a um casamento, a um almoço, mas fui eu que tomei a decisão premeditada de evitar (porque) qualquer lugar que você vá tem gente com celular filmando, gravando, bisbilhotando a vida da gente", relatou.
"Não me arrependo da quantidade de fins de semana que passamos sozinhos, eu e Marisa, mas acho que foi uma opção correta, porque isso coloca o cargo de presidente menos vulnerável às rodas de cerveja, uísque, vinho, nos jantares, nos almoços que possa ter em Brasília. Já tinham que ser feitos muitos almoços e jantares (...) e agora vou ter um bocado de anos para fazer o jantar que quiser, beber o que quiser, conversar com quem quiser sem nenhuma preocupação", disse Lula.
Ao contrário do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que ao deixar a Presidência disse que sentiria falta da piscina do Palácio da Alvorada, Lula declarou que não terá saudade nem da piscina nem do helicóptero presidencial. "Vou muito pouco à piscina e tenho medo de helicóptero. Então não vou sentir falta do helicóptero nem da piscina", afirmou.