Gurgel: é melhor Peluso votar em partes do que não votar em nada

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O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou nesta terça-feira que prefere que o ministro Cezar Peluso vote em partes do julgamento do mensalão do que se abstenha na análise da ação penal. Peluso, que se aposenta no dia 3 de setembro, corre o risco de proclamar um voto "amputado" no mensalão, tendo em vista a estrutura fatiada do voto do relator do processo, Joaquim Barbosa.

"Olha, eu acho que o ideal seria que o ministro Peluso pudesse votar em tudo. Mas se isso for impossível, é melhor que ele vote em alguma coisa do que não vote em nada, porque nós estaríamos desperdiçando o conhecimento que ele tem dos autos", disse Gurgel, antes do início da sessão plenária do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). "Eu acho que seria bom que o ministro Peluso votasse, evidentemente nós não sabemos em que sentido seria o voto. Mas é um ministro que estudou os autos, que conhece bem os autos e fará sempre falta, seja em que sentido será o voto", afirmou.

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Pela estrutura do voto de Barbosa, os ministros do STF votarão toda a vez que ele esgotar a leitura de um determinado item. Ontem, o relator concluiu o voto do item três, que aborda os desvios de dinheiro da Câmara dos Deputados e do Banco do Brasil para agências do publicitário Marcos Valério. Gurgel elogiou o voto do relator, avaliando-o da "melhor maneira". Ele afastou uma eventual confusão entre alguns ministros, que esperavam começar a votação ontem.

"Eu não vejo nada de confuso. O ministro relator já tinha anunciado que seguiria as acusações postas na denuncia. E fez uma pequena alteração, ontem anunciada, no sentido de dizer que após a conclusão do item 3º, que ele concluiu ontem, que ele saltará para o item 5º, porque tudo a ver com o desvio de recursos", disse, sobre o trecho que trata das acusações contra o Banco Rural.

Gurgel comentou ainda o pedido de advogados de réus do mensalão, que queriam acesso ao novo memorial enviado por ele ao Supremo, para reforçar provas pedindo a condenação de acusados. "Apenas o memorial refuta algumas afirmações postas nas sustentações orais. E eu devo dizer que, se eles acabaram tendo vista dos memoriais que eu ofereci, pelo menos o primeiro memorial e o mais importante, dado pelo próprio Supremo Tribunal Federal, o procurador-geral da República, das toneladas de memoriais oferecidas, recebeu dois memoriais. Então se é paridade de armas, a paridade de armas não está acontecendo, porque a defesa está tendo vista, e o Ministério Público não. Mas isso não tem maior importância", disse.

Criticado durante as sustentações orais de advogados até por tomar café com os ministros, Gurgel se mostrou mais tranquilo com o início do voto do relator, que por enquanto tem acompanhado a denúncia. "Isso (a crítica ao lanche) me parece, acima de tudo, falta absoluta de assunto. O relacionamento do procurador-geral da República no Supremo Tribunal Federal caminha para 200 anos. Então me parece que pretender rever isso a partir do julgamento de um caso é no mínimo curioso", disse.