Agnelo: cheques são anteriores a suspeitas sobre ONGs de João Dias 

Por

O porta-voz do governo do Distrito Federal disse nesta quinta-feira que o governador Agnelo Queiroz (PT), que está em viagem à Argentina, apresentará, na semana que vem, os cheques que foram depositados na conta do policial militar João Dias Ferreira, que delatou um suposto esquema de corrupção no Ministério do Esporte, à época comandado por Orlando Silva (PCdoB). De acordo com Ugo Braga, as operações financeiras entre Queiroz e Ferreira referem-se à compra de um veículo, feita em fevereiro de 2008, antes dos primeiros comunicados sobre os possíveis problemas nos contratos da pasta com as ONGs do policial.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira teve acesso a dados bancários oferecidos por Queiroz que mostram três depósitos de R$ 2,5 mil cada para Ferreira. Os parlamentares suspeitam que os pagamentos teriam sido realizados quando o policial militar ameaçava denunciar o esquema. João Dias Ferreira é acusado de desviar R$ 2 milhões do programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte.

No entanto, o porta-voz do governador disse ao Terra que os cheques não podem ter ligação com as ameaças de João Dias porque datam de antes das suspeitas sobre os contratos com as ONGs do policial. Segundo Ugo Braga, os cheques foram emitidos no início de fevereiro de 2008 e o primeiro comunicado oficial (Ofício 229/2008) sobre as possíveis irregularidades - considerado o estopim que fez Ferreira denunciar o suposto desvio - só foi feito pela pasta à corregedoria no dia 2 de abril de 2008.

O policial militar disse, em entrevista à revista Veja em outubro de 2011, que o ministro do Esporte Orlando Silva comandou um esquema que teria desviado R$ 40 milhões da pasta em oito anos. O surgimento dos cheques foi interpretado pelos parlamentares da oposição que participam da CPI do Cachoeira como uma tentativa do governador do Distrito Federal de comprar o silêncio do policial militar.

De acordo com informações da rádio CBN, integrantes da CPI estudam pedir uma nova convocação de Queiroz na comissão. Segundo o deputado federal Rubens Bueno, o assunto deve ser tratado já na próxima terça-feira.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.

Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.

Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.