Mesmo com depoimento marcado, Cavendish não deve falar em CPI 

Por

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira tem quatro depoimentos marcados para esta semana. Entretanto, o mais esperado deles não deverá ocorrer - o ex-presidente da empreiteira Delta Fernando Cavendish apresentou habeas-corpus no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo para não comparecer à sessão. Se o pedido não for atendido, ele pede que lhe sejam asseguradas todas as garantias que vêm sendo conferidas a outros convocados, a de permanecer em silêncio e não assinar termo de compromisso de dizer a verdade. Cavendish foi convocado para depor na quarta-feira.

Com o provável silêncio de Cavendish, as atenções se voltam para o ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antônio Pagot, que irá depor na terça-feira. Ele disse em diversas entrevistas que está disposto a colaborar com a CPI. Pagot deixou o Dnit em 2011, após denúncias de irregularidades, e atribui a pressão por sua saída ao grupo comandado por Cachoeira, que defendia os interesses da Delta no órgão. À imprensa, ele disse que era procurado por partidos para captar doações ilegais de empreiteiras para campanhas políticas.

Quem também tem depoimento marcado para terça-feira é o empresário Adir Assad, que é dono das empresas JSM Terraplenagem e SP Terraplenagem, entre outras, apontadas como 'laranjas' do suposto esquema Delta/Cachoeira. Assad também pediu ao STF um habeas-corpus para garantir o direito de ficar em silêncio e para não se autoincriminar.

Na quarta-feira, a comissão vai ouvir o engenheiro Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto. Ex-diretor da empresa Desenvolvimento Rodoviário S.A. (Dersa), do governo de São Paulo, ele é acusado de atuar junto ao Dnit em busca de recursos para a campanha do ex-governador José Serra (PSDB) à Presidência da República.

Cavendish

A convocação do empresário que elevou a Delta ao patamar de uma das maiores construtoras do país, maior detentora de contratos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em vários Estados, foi pedida por 11 requerimentos assinados por 14 parlamentares. O presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), disse não esperar muito do depoimento de Cavendish. O senador precisará administrar a pressão de alguns parlamentares contrários ao atual rito da CPI - de dispensar imediatamente os convocados depois que eles evocam o direito constitucional ao silêncio. "O depoimento de Cavendish é o de uma testemunha como outra qualquer. Não podemos tratá-lo diferente de Demóstenes Torres, diferente de A, B ou C. Temos um rito a cumprir, definido por decisão colegiada", disse.

O líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), acredita que Cavendish ficará calado. Para o deputado, isso será mais um indício de que o ex-presidente da Delta tem envolvimento com o esquema ilegal. "Provavelmente não vai falar, porque agora virou daqueles que se comportam como uma máfia. É o silêncio absoluto, negociado, articulado com Carlinhos Cachoeira, com todos aqueles que estão trabalhando com o mesmo objetivo: de não falar nada para esconder o que tem atrás disso."

Acusações contra Cavendish

De acordo com a Polícia Federal (PF), a Delta recebeu quase R$ 4 bilhões dos contratos com o governo e repassou pelo menos R4 413 milhões a empresas de fachada ligadas a Carlinhos Cachoeira. Este, por sua vez, aparece em ligações telefônicas, gravadas pela PF, atuando em favor da Delta.

O relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), afirmou que já tem convicção de que o empresário é vinculado ao suposto esquema criminoso de Cachoeira. "É claro que Fernando Cavendish serviu à organização criminosa, vinculou-se a ela, na medida em que a empresa da qual ele é sócio-proprietário passou volumes importantes a empresas dirigidas pelo senhor Carlos Cachoeira."

Para Odair Cunha, o espaço aberto para o ex-presidente da Delta será a chance para ele se defender. "Ele é sim vinculado à organização. Terá oportunidade, no seu depoimento, de dar informações que nos convençam de maneira contrária, na medida que estamos em uma fase preliminar do inquérito parlamentar".

Informações da Agência Câmara