Voto de Ayres Britto também condena Cunha por lavagem
Presidente do STF acrescentou o sexto voto, contra quatro de seus pares
O voto do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ayres Britto na tarde desta quinta-feira (30) acrescentou o sexto voto a favor da acusação de peculato ao deputado João Paulo Cunha (PT-SP).
“Ficam comprovadas a autoria e materialidade da lavagem de dinheiro por parte dos réus João Paulo Cunha e Henrique Pizzolato”, afirmou o presidente do Supremo. Britto admitiu que condenar um réu à pena privativa de liberdade deixa “gosto amargo” na boca. E acrescentou: “Nós, magistrados, condenamos alguém, sobretudo, no direito penal, à pena privativa de liberdade. E isso deixa gosto amargo na boca. Gosto de jiló, mandioca roxa, beringela crua.”
A 17ª sessão do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF) foi iniciada às 14h31 desta quinta-feira. Depois de abrir os trabalhos, o presidente da Corte, Carlos Ayres Britto, deve iniciar a leitura de seu próprio voto. O ministro é o último a pronunciar posição sobre os fatos que tratam do desvio de dinheiro do Banco do Brasil e da Câmara dos Deputados para o grupo de Marcos Valério, apontado como operador do esquema, relacionados no item três da denúncia apresentada pelo procurador-geral da República Roberto Gurgel.
Após o esgotamento do item, com a definição das primeiras condenações, a tendência é a de que o relator do processo, Joaquim Barbosa, comece a leitura do capítulo cinco da denúncia, no qual estão descritas as condutas dos réus do Banco Rural. Segundo o Ministério Público Federal (MPF), os dirigentes do banco José Roberto Salgado, Kátia Rabello, Ayanna Tenório e Vinícius Samarane cometeram o delito de gestão fraudulenta na concessão de empréstimos fictícios a empresas de Valério para financiar o mensalão e com a criação de "artifícios fraudulentos" para impedir que os fatos fossem descobertos.
Segundo a procuradoria, o Banco Rural disponibilizou R$ 32 milhões para o esquema. O MPF alega que os empréstimos da instituição não foram operações bancárias típicas, tendo sido cobradas apenas depois da divulgação do escândalo pela imprensa.
O mensalão do PT
Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.
No relatório da denúncia, a Procuradoria-Geral da República apontou como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda por corrupção ativa.
Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.
O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.
A então presidente do Banco Rural, Kátia Rabello, e os diretores José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson.
Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e o irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas.
A ação penal começou a ser julgada em 2 de agosto de 2012. A primeira decisão tomada pelos ministros foi anular o processo contra o ex-empresário argentino Carlos Alberto Quaglia, acusado de utilizar a corretora Natimar para lavar dinheiro do mensalão. Durante três anos, o Supremo notificou os advogados errados de Quaglia e, por isso, o defensor público que representou o réu pediu a nulidade por cerceamento de defesa. Agora, ele vai responder na Justiça Federal de Santa Catarina, Estado onde mora. Assim, restaram 37 réus no processo.
Com Portal Terra