Familiares e amigos mostram crachás de jovens mortos em chacina de São Paulo
Doze horas depois da chacina que matou seis jovens na noite de sexta-feira em Cidade Ademar, São Paulo, uma jovem chora enquanto segura na ponta dos dedos um cigarro. Deixa a cerveja no chão e é amparada pelo namorado enquanto os ombros sacodem. Com a gravidez aparente, repete que não quer falar com ninguém. "Só quero meu irmão de volta." Ninguém diz o próprio nome na rua Sebastião Afonso, que ainda tinha marcas de sangue seco às 12h deste sábado. Quem estava na rua diz somente que todos que morreram ou foram feridos eram trabalhadores.
Para provar mostram os crachás de dois deles. Vestido com a camisa tricolor do São Paulo Futebol Clube, Willian Adolfo de Carvalho, 26 anos, tem sua foto 3 x 4 em uma identificação da empresa de emprego temporário. Um documento igual ao de Alan Rodrigues da Costa, 22 anos. Os dois trabalhavam em um supermercado e bebiam cerveja durante a folga quando dois homens encapuzados chegaram em duas motos atirando. Dois teriam escapado porque foram buscar mais bebida momentos antes do crime. "Garanto que não tinha um que não trabalhasse", diz uma jovem vizinha do local das execuções.
A supervisora dos dois também não quer se identificar, mas confirma que ambos tinham ocupação na empresa. "Não tenho o que reclamar deles", disse. Mas não fala nada além disso, não quer expor a si nem à empresa. Um muro na altura do número 148 tem a marca dos tiros - que foram muitos, de acordo com a opinião de todos que aceitaram falar. Uma senhora aproveita o caminhão de coleta e sai para tirar seu lixo. Diz que estava dormindo no momento da chacina. A filha a puxa de volta para dentro de casa pedindo com uma expressão de severidade.
As testemunhas afirmam que os tiros foram muitos. Mas os estampidos eram em sequência, não uma rajada. O que indica que as armas seriam pistolas semiautomáticas, não metralhadoras. Um vidraceiro de 32 anos, parente de Alan, afirma que uma viatura teria passado minutos antes dizendo para todos se recolherem. Ninguém deu atenção. Pouco depois, chegou a dupla de assassinos. "Cada um tinha pelo menos duas pistolas na mão. Era gente que sabia matar, todos os tiros foram na cara e no pescoço", disse.
A informação não consta no Boletim de Ocorrência (BO), registrado no 26° Distrito Policial (Sacomã) e divulgado pela Secretaria de Segurança Pública. A reportagem teve o acesso negado ao documento na delegacia. Foi orientada a procurar a assessoria de imprensa da pasta, que não divulga a íntegra do documento, seleciona as informações que repassa. A investigação foi encaminhada ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa e nenhum delegado foi encontrado até o momento para falar sobre as investigações.