Defender a Petrobras também é defender a democracia, diz Pinguelli

"Às vezes temos problemas devido a parasitas oportunistas que dominam a situação"

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Há uma articulação contra a Petrobras, alerta o físico Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ e ex-presidente da Eletrobras, em conversa com o JB. No cenário de combate à corrupção, surgiu um oportunismo menos preocupado com o ataque à prática criminosa, e os efeitos práticos disso para o mercado de trabalho, a produção de petróleo e gás e a pesquisa científica brasileira já apontam no horizonte. Para Pinguelli, defender a estatal desse movimento é ainda proteger a democracia, visto que, junto com o enfraquecimento da empresa, há também o esforço de atacar um governo eleito pela maioria da população, há quatro meses.

Em meados de dezembro do ano passado, a Coppe/UFRJ já realizava evento público para chamar a atenção para o uso político do caso revelado pela Operação Lava Jato. Na época, a Petrobras ainda sofria pressões para mudar sua presidente, recebia novas notícias de processos estrangeiros e as ações, no Brasil, e ADRs, nos Estados Unidos, já chamavam atenção pela queda acentuada. A Security Exchange Commission (SEC) tinha iniciado uma investigação que poderia suspender os ADRs na Bolsa de Nova York. 

"Eu acho que há uma articulação contra a Petrobras. Nós, seres humanos, inclusive, temos às vezes problemas devido a parasitas oportunistas que em certas ocasiões dominam a situação. Há um oportunismo em cima dessa corrupção, que é abominável, que tem que ser condenada, mas esse oportunismo não é contra a corrupção, é até o contrário, usa a corrupção para acabar com o patrimônio do povo brasileiro, que é a Petrobras", destacou Pinguelli.

Mesmo entre ataques, salientou o físico, a Petrobras, aumentou a sua produção de petróleo, inclusive o do chamado pré-sal, que chegou a ser desacreditado. Dos 3 milhões de barris por dia (boe/d), marca que a estatal ultrapassou no início deste mês, 600 mil barris por dia são do pré-sal. A empresa, contudo, já está impedida de cumprir vários compromissos, o que compromete os muitos empregos que gera, o investimento em engenharia. "Há uma série de aspectos que nós temos de olhar em torno da questão de combate à corrupção. Combater a corrupção, todos nós somos a favor. Agora, em nome do combate a corrupção, destruir a Petrobras, nós temos de ser contra."

O  Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras (CENPES), por exemplo, que tem uma importância mundial, também fica em perigo se a Petrobras é tolhida de usar seus recursos. "Você pode acabar com o CENPES. Ele é uma reunião de engenheiros, cientistas de várias áreas, equipamentos caríssimos e é um foco de aglutinação de empresas. Existe um parque tecnológico ao lado da Ilha do Fundão, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, existe a Coppe, onde eu trabalho, que é um centro de pós-graduação de pesquisa em engenharia, tudo isso trabalha numa relação muito próxima com o CENPES, e está em ameaça de extinção."

Pinguelli indica que defender a Petrobras, neste momento, também é defender a democracia, já que ao lado do movimento que ataca a corrupção há o movimento que ataca o governo. Não o governo de um partido, mas um governo democraticamente eleito, que tem que ser respeitado, de acordo com a constituição. 

O físico conversou com o JB durante o lançamento da Aliança pelo Brasil, em defesa da soberania nacional, um grupo de representantes de entidades diversas, como a OAB, a Coppe/UFRJ, Associação dos Engenheiros da Petrobras e o Instituto Brasileiro de Estudos Políticos. O objetivo, alertar para a fragilização da Petrobras, ancorada nos vazamentos da Operação Lava Jato, com o propósito de "torná-la uma presa fácil para a fragmentação e a desnacionalização", conforme destacou manifesto do grupo.

Na ocasião, Pinguelli falou para a plateia presente no auditório do Clube de Engenharia que é preciso unir nossas forças para resistir, pois está se montando uma farsa que dá "um verniz de legalidade à ilegalidade", com o objetivo não de enfraquecer um governo específico, mas o que foi conquistado na história do Brasil recente. Ele chamou a atenção para uma "uma aliança midiática" de setores majoritários, com interesses econômicos, e de setores políticos, que não aceitam a visão de esquerda que ocupa o governo. 

"Vamos lembrar que há pouco tempo foi divulgado, e a presidenta da República assumiu uma posição a respeito, que um governo estrangeiros, um sistema de espionagem, espionava a Petrobras. A Petrobras foi alvo da espionagem norte-americana e muitas das questões que estão por trás do debate atual em torno da Petrobras são exatamente atender aos interesses norte-americanos no Brasil. Isso é muito estranho", salientou.

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