'Libération': Lula diz que "política é a arte do impossível"

Em matéria de capa, ex-presidente fala que se candidataria  para "proteger políticas sociais"

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A edição de quinta-feira (14) do jornal francês Libération traz em sua capa uma entrevista exclusiva com Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil, ocupando seis  páginas, onde fala obre os Jogos Olímpicos, a crise econômica, política e social que assola o país, e o afastamento de Dilma Rousseff. Questionado sobre uma eventual candidatura à presidência em 2018, Lula diz que poderia concorrer, se achar que as políticas sociais estão ameaçadas.

Ao fazer a matéria intitulada "Os pobres são a solução", entendemos a injustiça política que atinge Dilma Rousseff, vítima de seus erros, mas sobretudo a operação reacionária que muitos brasileiros chamam de golpe", publica Libération.  

> > Liberation Luis Inacio Lula da Silva : «La politique, c’est l’art de l’impossible»

Segundo Libération, Lula é um social-democrata originário do povo". Sua política é contestada também porque ter retirado da miséria 35 milhões de pobres, que os governos anteriores sacrificavam, sem nenhuma vergonha, para o enriquecimento de uma pequena elite. 

O jornal francês de esquerda ressalta alguns problemas dos governos do PT: uma reforma agrária limitada, um sistema político timidamente reformado, minado por escândalos de corrupção claramente condenáveis, além de programas ambientais decepcionantes. Mas aos olhos da direita brasileira, escreve o jornal, o verdadeiro crime de Lula foi ter reduzido as desigualdades com medidas de esquerda em um país sem pleno crescimento, onde o abismo entre ricos e pobres era profundo.

Para Lula, a crise é um problema mundial e o Brasil não poderia ter sido poupado. O ex-presidente ressalta a desaceleração econômica dos Estados Unidos, da China, a crise financeira na Europa, a questão dos refugiados, uma crise que, para ele, também é de "natureza moral, não somente econômica ou política". No Brasil, diz Lula, "há um processo de luta contra a corrupção", a Lava-Jato, que, ressalta, foi realizada durante o governo do PT. O petista lembra que o governo também investiu na formação da Polícia Federal e na criação da Controladoria Geral da União, em uma maior autonomia do Ministério Público, além do que prevê a Constituição. Mas, continua o ex-presidente, "às vezes a justiça está mais preocupada em aparecer nas capas dos jornais do que fazer seu trabalho corretamente".

Ao Libération, Lula não poupou críticas a Michel Temer, a quem repetidamente chama de golpista. "Como presidente interino, ele deveria ter reunido os ministros de Dilma e ter se contentado em coordenar políticas que já estavam em prática. Sobre a grande questão que não quer calar, se Lula será ou não candidato em 2018, o líder do PT é reticente. Diz que já tem 70 anos e a idade é "implacável". "Vou ver como estarei até lá", indica, avisando: "se houver risco contra nossas políticas sociais, eu me apresentarei".

Questionado pelo jornal francês sobre os Jogos Olímpicos do Rio, Lula afirmou que "O Brasil deve agir como um grande país, capaz de organizar tais eventos". "Essas competições são uma oportunidade para promover o país, mesmo se elas abrem os olhos também sobre os nossos problemas. Isso não deve nos amedrontar, não se deve tentar esconder nossos pobres, retirá-los da rua como alguns estão fazendo", observa o ex-presidente numa alusão às recentes ações da prefeitura do Rio de Janeiro.