ARTIGOS
Por gravidade
Por TARCISIO PADILHA JUNIOR
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Publicado em 28/04/2021 às 10:53
Em meio à realidade,
nada de experimentos.
Konrad Adenauer (1949)
A modernidade é definida pela rapidez das mudanças, rapidamente pelo desaparecimento de quadros de referência. Confusão frequente consiste em defini-la como um simples avanço para certo tipo de sociedade. Uma sociedade pode ser favorável ao desenvolvimento da ciência e tecnologia; entretanto, isso não a impede de virar as costas à modernidade, quando não privilegia os direitos humanos, como faz com sistema de produção.
Muitos conflitos entre grupos derivam do modo distorcido como um julga o outro, gerando incompreensão, rivalidade, desprezo ou escárnio. Identificação com grupo faz com que se perceba o outro como diverso, ou mesmo hostil. O conflito é reforçado por grupos que se discriminam reciprocamente. Não por acaso, os grandes conflitos que marcaram a história da humanidade foram derivados de guerras entre nações ou povos.
A democracia assegura que a maioria deve prevalecer. Um dos desafios democráticos flagrantes atualmente é gerar acordos, por mais precários que possam ser ou parecer, que não apenas reflexo da maioria, mas do pensar em conjunto. Significa, concretamente, reconhecer que a responsabilidade é um modo de compartilhar a vida pública, sempre dentro de contextos frágeis, nos quais a irresponsabilidade jamais deixa de apontar.
A paixão pela uniformidade pode levar a maioria a controlar a minoria em questões que não lhe concernem. Deve, então, haver esforço paciente e sustentado para incentivar a expressão de novos questionamentos. Podemos dizer que nefastos resultados da democracia instrumental no século passado foram possibilitados pela precedente concepção meramente formal da democracia. Um e outro demonstraram-se estreitamente ligados.
Democracia é mecanismo inadequado se desacompanhada de delegação de poderes em larga escala. Preservar o impulso criativo que produz a individualidade deveria ser objetivo crucial das instituições políticas. Em geral, o sistema econômico em vigor esmaga o que dele sobra nos jovens. Como resultado, homens e mulheres deixam de ser indivíduos, tornam-se maquinais, pusilânimes, convenientes para burocratas de plantão.
Empreendedores conseguem criar empresas e estabelecer empregos reais. Vínculo sólido entre empresa e meio social alavanca diferenciais fundamentais de produtividade, que adequam competição e cooperação. Que efetividade esperar dos meios empregados para alcançar um objetivo ou gerar o resultado desejado? O caráter errático da política governamental compromete fundamento da economia real: previsibilidade e segurança.
Conforme recente sondagem de opinião, o presidente Bolsonaro e o ex-presidente Lula detêm cerca de 1/3 do eleitorado, pretendem que as circunstâncias econômicas e políticas façam com que o restante venha por gravidade.
Engenheiro, é autor de "Por Inteiro" (Editora Multifoco, 2019)