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Hora de partir para a jugular!
Por PAULO NOGUEIRA BATISTA JR, [email protected]
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Publicado em 03/05/2021 às 09:58
Alterado em 03/05/2021 às 09:58
Há cerca de um mês, escrevi aqui nesta coluna que o governo Bolsonaro estava nas cordas e poderia até cair. Alguns acharam que era delírio e que eu confundia a realidade com meus desejos. Em outras palavras, acusaram-me de wishful thinking, como se diz em inglês.
No entanto, o que aconteceu desde então parece confirmar o que escrevi: o governo está cambaleando e corre realmente o risco de não chegar até o fim do seu mandato. Bolsonaro vive o seu pior momento.
Os fatores fundamentais do enfraquecimento recente do governo são conhecidos. Destacaria o atraso e os embates na aprovação do orçamento de 2021, que provocaram verdadeira crise política, desgastaram o ministro da Economia e devem ter deixado um rescaldo de desconfiança entre o governo e a sua base parlamentar. Mais importante do que isso: as vitórias sucessivas de Lula no Supremo, que reforçaram dramaticamente o principal adversário político de Bolsonaro.
Mas o que pesa, sem dúvida, acima de tudo, é a criação da CPI da Covid no Senado, com composição desfavorável ao governo e Renan Calheiros na relatoria. Bolsonaro está visivelmente apavorado com o que pode sair dessa CPI. Pode ser a antessala do impeachment.
Não vamos nos enganar, entretanto. O governo não está morto! Tem muitos instrumentos de poder. E pode até se recuperar. Espero que os adversários políticos de Bolsonaro não cometam o erro que cometeram os adversários políticos de Lula em 2005. O leitor lembra do que aconteceu? Lula estava no seu ponto mais baixo com o escândalo do “mensalão”. O seu braço político principal, José Dirceu, teve que deixar o governo. Lula parecia liquidado.
Os seus adversários decidiram, se bem me recordo, não levar o impeachment adiante. Tinham medo do vice de Lula, José Alencar, que era um crítico ferrenho do sistema financeiro e dos juros altos. Alencar, embora empresário, estava à esquerda de Lula em matéria de política econômica. Melhor então deixar o Presidente sangrar até o fim do governo e derrotá-lo nas urnas em 2006.
Felizmente, Lula se recuperou e venceu Alckmin no segundo turno das eleições daquele ano. Partiu daí para um segundo período de governo que, contrariando a regra da “maldição do segundo mandato”, foi muito melhor do que o primeiro. Lula deixaria o governo em 2010 consagrado, com altíssimos índices de aprovação. Elegeu, sem grandes dificuldades, a sua sucessora, Dilma Rousseff, uma tecnocrata desconhecida do grande público. O povo queria votar na “mulher do Lula”. E votou.
Uma recuperação semelhante não poderia acontecer com Bolsonaro? Política é o reino da imprevisibilidade. Mas imaginem o seguinte cenário, que não é implausível. Com o avanço da vacinação no segundo semestre de 2021, a situação da epidemia começa a se normalizar e a economia se recupera um pouco. Bolsonaro pode então começar a cantar vitória de novo. Não vamos esquecer que o povo brasileiro tem expectativas bem rebaixadas, modestas mesmo. Pouco ou nada espera dos seus governantes. E outra: é preciso reconhecer que Bolsonaro, por detestável que seja, sabe falar a linguagem popular. Só há dois políticos de destaque no momento que sabem, de fato, falar com o povo. Lula e, infelizmente, Bolsonaro.
Por isso, é que digo e repito: é hora de partir para a jugular! Liquidar, ou começar a liquidar, este governo nocivo, destrutivo, antinacional e antipopular no seu momento de maior fraqueza, isto é, nos próximos, digamos, 3 ou 4 meses. E não me venham falar em “golpe”. Este governo, cometeu crimes de responsabilidade em série. Motivos para o impeachment, dentro da Constituição e da lei, são abundantes. Nunca um governo deu tantas razões para ter o seu mandato interrompido.
Falta o povo nas ruas? Então, vamos para a rua! A revolta é tanta, que muitos atenderão um chamado para a mobilização. Não podemos ficar em casa, acovardados, com medo da pandemia, assistindo passivamente o País ser destroçado.
Há motivos para temer o vice de Bolsonaro? Dizem alguns que o vice é “tóxico”. Mas não creio que ele ofereça perigo remotamente comparável ao que representa a continuação de Bolsonaro na Presidência. Mourão não foi eleito, não tem carisma, não tem liderança. Será provavelmente um presidente fraco, que se limitará a conduzir o país, em cenário de menos tumulto, até as eleições de fins de 2022. Posso, claro, estar redondamente enganado. Mas não creio.
Teme-se, também, que Mourão na Presidência venha a favorecer uma candidatura da direita tradicional, atualmente denominada de “terceira via”. Esse candidato da direita não-bolsonarista, o falso “centro”, teria provavelmente apoio de um governo federal presidido por Mourão. Mas e daí? Melhor Lula enfrentar um candidato desses, razoavelmente civilizado, do que correr o risco de perder para Bolsonaro.
O leitor lulista dirá: mas Lula é o favorito, Bolsonaro estará muito desgastado, Lula vencerá as eleições no segundo turno de qualquer maneira etc. Pode bem ser. Mas é um risco que não devemos correr! A reeleição de Bolsonaro talvez seja mesmo um evento de baixa ou média probabilidade – e mesmo isso é discutível – mas, em caso de materialização desse risco, o resultado é catastrófico para o País. Mais quatro anos de inépcia, ideias retrógradas, falta de projeto, perversidade e destruição do Estado, da sociedade brasileira e da própria Nação. Esse é o tipo de risco que não podemos correr.
E tem mais o seguinte: quem quer assistir mais um ano e 8 meses de destruição, patrocinada por Bolsonaro e sua equipe de quinta categoria? Os primeiros dois anos e quatro meses já mostraram do que são capazes. Já não é suficiente?
Uma conjectura para terminar. A direita tradicional, que se apresenta como “terceira via”, só parece viável como segunda via. Tudo indica que o falso “centro” só é competitivo nas eleições de 2022 se Bolsonaro ou Lula saírem do páreo. Lula não conseguem mais tirar. Mas é uma ilusão imaginar que a turma da bufunfa já se conformou com nova presidência de Lula. Até aceitarão, se não houver remédio. Mas querem trabalhar outra candidatura, acredito.
Os cálculos eleitorais da direita não-bolsonarista favorecerão o impeachment? Que assim seja.
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Uma versão resumida deste artigo foi publicada na revista “Carta Capital” em 30 de abril de 2021.
O autor é economista, foi vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, estabelecido pelos BRICS em Xangai, e diretor executivo no FMI pelo Brasil e mais dez países. Lançou no final de 2019, pela editora LeYa, o livro O Brasil não cabe no quintal de ninguém: bastidores da vida de um economista brasileiro no FMI e nos BRICS e outros textos sobre nacionalismo e nosso complexo de vira-lata. A segunda edição, atualizada e ampliada, começou a circular em março de 2021.
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