ARTIGOS
Quatro décadas e meia sem JK
Por MAURO MAGALHÃES
Publicado em 28/09/2021 às 08:06
Alterado em 28/09/2021 às 08:06
No dia 12 de setembro, Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-1976) completaria 119 anos. Presidente eleito em 1955, ele poderia voltar a governar o Brasil, nas eleições marcadas para 3 de outubro de 1965.
Sua campanha, JK-65, foi lançada em 20 de março de 1964, pelo PSD (partido fundado por Getúlio Vargas e que elegeu JK em 1955).
Os outros candidatos eram Carlos Lacerda, da UDN, Leonel Brizola, pelo PTB (também fundado por Getúlio Vargas) e Jânio Quadros (ex-presidente, eleito, com o apoio da UDN, e que renunciou em agosto de 1961).
Após a derrubada do presidente João Goulart, entre 31 de março e 1º de abril de 1964, essas candidaturas foram interrompidas e as eleições de 1965 adiadas por mais de duas décadas.
Em 11 de abril de 1964, o Congresso Nacional (integrado por políticos que, em sua maioria, apoiaram a deposição de Jango) elegeu, pela via indireta, o marechal Castelo Branco presidente da República.
José Maria Alkimin, que foi vizinho de Juscelino Kubitschek em Diamantina (onde nasceu JK), entrou na chapa de Castelo Branco como vice-presidente.
Eleito senador por Goiás, em 1962, embora não apoiasse os militares, Juscelino votou em Castelo Branco e em Alkmin, em 11 de abril de 1964. Mas, no dia 8 de junho daquele mesmo ano, foi cassado e perdeu os direitos políticos. Viajou para os Estados Unidos e para a Europa, em exílio voluntário.
Juscelino chegou a voltar, rapidamente, ao Brasil quando os emedebistas Negrão de Lima e Israel Pinheiro (seus amigos e aliados, desde os tempos em que foi prefeito de Belo Horizonte e governador, em Minas Gerais ), opositores ao governo militar, venceram as eleições para governador, em 3 de outubro de 1965, respectivamente, no antigo estado da Guanabara e em Minas Gerais.
Mas, perseguido pelo Doi-Codi, logo retornou ao exterior.
O ex-presidente JK voltou definitivamente ao Brasil depois que Carlos Lacerda o convidou para integrar o Movimento Frente Ampla, que reivindicava a volta das eleições presidenciais, pela via direta.
Para pressionar Juscelino, os militares criaram campanhas de difamação contra ele, com acusações de que fez um governo corrupto.
Ele teve que comparecer às sessões de inquéritos policiais militares para interrogatórios que o envergonhavam. Mas, nunca ninguém conseguiu provar nada contra ele.
Carlos Lacerda também foi cassado pela ditadura militar, após a decretação do Ato Institucional nº 5 (AI-5). Todos os que participaram da Frente Ampla, com Lacerda, JK e Jango também foram cassados, entre dezembro de 1968 e o primeiro semestre de 1969.
Os militares ameaçavam Juscelino constantemente. Em seus últimos anos de vida, ele resistia.
Mas, teve seu nome vetado na grande mídia, com exceção das empresas que pertenciam ao seu grande amigo, Adolpho Bloch.
Um ano antes de morrer (ele morreu em 22 de agosto de 1976), em 1975, queixava-se pelo fato de ter tido seu nome proibido de ser mencionado, por exemplo, na novela "A Escalada", exibida em 1975 pela TV-Globo, que falava da construção de Brasília.
Também teve negado seu sonho de entrar para a Academia Brasileira de Letras. Leitor voraz da Literatura Brasileira, Literatura Francesa, Literatura Inglesa etc, Juscelino Kubitschek sofreu a única derrotada de sua vida, nas urnas. Os militares pressionaram a entidade.
A ABL dependia do governo militar para construir o edifício que existe até hoje, ao lado da sua sede, no Centro do Rio. O terreno tinha sido doado, inclusive, no Governo de JK.
Se Juscelino fosse eleito naquele pleito de votantes literários, em 23 de outubro de 1975, a ABL perderia o financiamento. Ganhou a disputa, então, o escritor goiano Bernardo Elis.
Os amigos testemunharam a tristeza de Juscelino nessa fase. Quem frequentava apartamento do ex-presidente na avenida Atlântica ouviu muitas queixas. Ele ficou magoado, mas diplomático, aceitou a derrota. Para seu consolo, recebeu da União Brasileira de Escritores o troféu Juca Pato, em 1975.
Vítima de um acidente de carro, na rodovia Presidente Dutra, perto de Resende, em 22 de agosto de 1976, ele e seu fiel motorista, Geraldo Ribeiro, morreram imediatamente.
O velório, no dia 23 de agosto de 1976, no saguão do prédio do Edifício Manchete, teve a presença de milhares de pessoas. Todos choravam.
Juscelino era uma pessoa incrível, emocionante.
Em sua homenagem, o povo que foi se despedir do ex-presidente e cantou a música "Peixe Vivo", que era a marca registrada de JK e faz parte do folclore mineiro. Juscelino adorava serestas.
O funeral, em Brasília, também foi inesquecível. Apesar de ter sido perseguido pelos militares, o general Ernesto Geisel, presidente da República naquela época, decretou luto oficial. Amigos e inimigos ficaram abalados pela morte do grande presidente.
Visionário, empreendedor, conciliador, Juscelino foi muito querido e admirado por todos. Ele sempre fará falta.
* Empresário e ex-deputado.