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A renúncia de Jânio

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Por MAURO MAGALHÃES

Publicado em 05/09/2022 às 11:48

Alterado em 05/09/2022 às 11:48

Há 61 anos, no dia 25 de agosto de 1961, o Brasil recebeu a notícia de que Jânio Quadros renunciou ao cargo de presidente da República.

Todos ficaram perplexos, inclusive a maioria de eleitores brasileiros que votaram em Jânio e derrotaram o segundo colocado nas eleições de 1960, o marechal Henrique Teixeira Lott, ligado a Getúlio Vargas e a Juscelino Kubitschek.

O governo deveria durar 5 anos.

Mas, Jânio Quadros só ficou sete meses na presidência.

A surpresa foi tão grande que até senadores e deputados federais da base do governo udenista não imaginavam que Jânio faria o que fez.

O senador Lino de Mattos, do PSP de São Paulo, quis rasgar o bilhete presencial com a declaração de renúncia. Em tentativa desesperada de impedir que o ato se consumasse.

Mas o ministro da Justiça, na época, Oscar Pedroso Horta, não deixou. O documento já tinha sido distribuído à imprensa. E, Jânio já havia deixado Brasília.

Muitos historiadores e analistas políticos concluíram, com o passar do tempo, que Jânio imaginava que sua renúncia não seria aceita pelo Congresso Nacional, pelas Forças Armadas e pelo povo.
Mas, o Congresso Nacional aceitou a renúncia.

Na ocasião, o então ministro das Relações Exteriores, Afonso Arinos, ficou atordoado com a decisão de Jânio.

Jânio apostou no fato de que as Forças Armadas não iriam aceitar o nome do vice, João Goulart, para assumir a presidência.

A carta renúncia de Jânio Quadros dizia: "Fui vencido pela reação e assim deixo meu governo. Nesses sete meses cumpri meu dever. Tenho-o cumprido dia e noite, trabalhando invariavelmente, sem prevenções, nem rancores".

E, concluía: "Retorno agora ao meu trabalho de advogado e professor. Há muitas formas de servir à pátria".

Por causa da renúncia, a reputação de Jânio Quadros ficou manchada até mesmo entre udenistas, como foi o caso de Carlos Lacerda. Que, mesmo antes da decisão do presidente, de renunciar, tornou-se uma espécie de porta-voz da campanha contra ele (ainda no cargo).

Anos depois de ter renunciado, Jânio Quadros acusou Carlos Lacerda pela decisão de deixar o cargo.
Em entrevista para a TV Bandeirantes, em 1982, Jânio afirmou que "Lacerda provocou o dia 25 de agosto" e o chamou de "inimigo".

Após 1964, Jânio Quadros foi um dos três ex-presidentes que teve seus direitos políticos cassados (os outros dois foram Juscelino Kubitschek e João Goulart).

Em 1985, com o apoio do empresariado paulista, elegeu-se prefeito de São Paulo. Derrotou, inclusive, Fernando Henrique Cardoso e Eduardo Suplicy.

Vítima de três derrames cerebrais, Jânio Quadros morreu em fevereiro de 1992.

A filha de Jânio Quadros, Tutu Quadros, de acordo com os jornais e documentos históricos, chegou a denunciar o pai como corrupto e o internou à força em uma clínica psiquiátrica.

Quando o ex-presidente morreu, deixou mais de 66 imóveis para seus herdeiros.

*Ex-deputado e empresário.

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