ARTIGOS
A importância da Frente Ampla
Por MAURO MAGALHÃES
Publicado em 29/01/2023 às 12:44
No atual momento brasileiro, é muito importante resgatar e saber dos grandes acontecimentos, ocorridos, na recente história do Brasil, para preservar e respeitar a Democracia.
Criada em 1966, a Frente Ampla contra a ditadura militar instaurada em 1964, com a deposição de João Goulart, foi formada por Juscelino Kubitschek, Jango e Carlos Lacerda.
E, teve a participação de políticos dos extintos PSD, PTB e UDN, além de outros partidos ligados a JK, Goulart e Lacerda.
Tive o enorme prazer de participar da elaboração do manifesto de a Frente Ampla, com Carlos Lacerda e o histórico jornalista Hélio Fernandes.
O texto foi escrito no apartamento onde Lacerda morava, no Rio de Janeiro.
Lembro bem de que, quando o texto foi concluído, Lacerda, satisfeito com o resultado, lembrou que já era bem tarde. Estávamos todos com fome. Excelente na preparação de pratos rápidos e caseiros, o ex-governador do extinto Estado da Guanabara foi para a cozinha e nos preparou algo com ovos, que comemos, felizes. Com uma dose de uísque para relaxar.
Do lado de Juscelino Kubitschek, Jango e Lacerda, também participaram dos encontros para a mobilização da Frente Ampla, os ex-ministros Rafael de Almeida Magalhães, Renato Archer e Wilson Fadul, os ex-deputados Doutel de Andrade, José Gomes Talarico, entre outros amigos queridos, que se aproximaram, durante o movimento, independentemente de suas posições ideológicas.
A Frente Ampla teve apoiadores que incluíam políticos conservadores, de centro, centro-esquerda, esquerda. Ideologias distintas.
Todos queriam a volta da Democracia e das eleições Diretas para presidente da República, governadores, prefeitos. Pois, a partir da ditadura militar, só continuaram permitidas as eleições para o Legislativo.
A partir de 1965, um decreto, com base em ato institucional assinado pelo Marechal Castelo Branco e ex-presidente Castelo Branco, determinou a extinção dos partidos.
Foi instituído o bipartidarismo.
Além de criticar o bipartidarismo, Carlos Lacerda jamais digeriu a proibição de eleições diretas para presidente da República, em 1965. Ele e todos os seus fiéis seguidores batiam na tecla de que os militares tinham prometido não mexer nas eleições presidenciais, após a derrubada de Jango.
Lacerda e JK eram candidatos à presidência da República, em 1965.
E, certamente, um deles venceria.
Mesmo divergentes, tenho certeza de que o perdedor iria respeitar a decisão do povo.
O manifesto da Frente Ampla, lançado em 1966, pleiteava eleições diretas, reforma partidária, desenvolvimento econômico e adoção de política externa soberana.
O texto, publicado no jornal “A Tribuna da Imprensa”, teve boa aceitação no MDB, partido para o qual foram os políticos que seguiam JK, Jango e Lacerda, inclusive eu, que era deputado estadual.
No dia 19 de novembro de 1966, Lacerda e Juscelino (exilado em Lisboa) emitiram a Declaração de Lisboa, onde afirmavam a intenção de trabalhar juntos numa frente ampla de oposição.
Lacerda passou então a buscar entendimentos com Goulart, com os setores mais à esquerda do MDB, chamados "corrente ideológica".
Já em 1967, através dos ministros Magalhães Pinto e Hélio Beltrão, os militares passaram a tentar convencer Lacerda a abandonar suas posições e colaborar com o governo.
Com a recusa de Lacerda e suas críticas públicas ao governo, em agosto, o ministro da Justiça Luís Antônio da Gama e Silva proibiu a presença dele na televisão.
No dia 24 de setembro Lacerda viajou para o Uruguai e no dia 25 se encontrou e divulgou nota conjunta com Goulart defendendo a Frente Ampla.
Em 5 de abril de 1968, a Frente Ampla foi definitivamente proscrita, através da Portaria nº177 do Ministério da Justiça.
Carlos Lacerda foi cassado depois da edição do Ato Institucional número 5 e teve seus direitos políticos suspensos por 10 anos, em 31 de dezembro de 1968.
A minha cassação aconteceu em 1969 e não me arrependo de ter participado da memorável Frente Ampla.
A participação de vários partidos em torno da Democracia é fundamental.
Viva a Democracia!
Mauro Magalhães. Ex-deputado e empresário.