Muito prazer, eu sou a cidade. O centro do Rio de Janeiro!

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Por ALINE NOVAES E FABIANA CRISPINO

Centro do Rio de Janeiro

Edgar Allan Poe, em “O homem da multidão”, publicado em 1840, nos apresenta um narrador, que, da janela de um café em Londres, vê a cidade. Fascinado por um personagem cuja história deseja conhecer, ele aventura-se pela multidão para desvendar esse enigma. Mas, assim como a cidade, o homem “es lässt sich nicht lesen", (não se deixa ler). Desde então, se instituiu o desafio de decifrar e decodificar os enigmas presentes no espaço urbano.

A cidade, que se apresenta, primeiramente, como um espaço ambíguo, enigmático, labiríntico, surge ressemantizada na literatura, na música, no cinema, nas artes visuais e em proposições teóricas, como as do professor e pesquisador Renato Cordeiro Gomes. Alunas e discípulas do intelectual, recorremos à obra de caráter fundacional nos estudos sobre a vida urbana, Todas as cidades, a cidade: “Entre o cristal e a chama, fixidez e mobilidade”, a urbe é o lugar dos encontros, sejam eles físicos ou simbólicos. Ao se proteger ou revitalizar um espaço da cidade, além da manutenção desses encontros, preservam-se também o espírito de efervescência e renovação que lhes são característicos.

Em uma metrópole como o Rio de Janeiro, tal movimento é fundamental para garantir a contínua adequação do tecido urbano às necessidades da vida contemporânea, bem como para multiplicar as possibilidades narrativas, produtivas e afetivas. Atento a isso, surgiu o plano de cocriações do centro do Rio como organismo vivo, entendendo-o como pessoas, lugares, instrumentos, narrativas e negócios.

Realizado pelo Sebrae em parceria com organizações – como Prefeitura do Rio; Firjan; Cefet; Ibmec; entre outros –, o projeto contempla 11 ideias centrais. São elas: internet grátis; comunicação e divulgação da marca Rio; rodadas e atração de agentes privados; comunicação com o poder público; integração dos agentes de Capital; formação de juventude; fomento das atividades culturais; criação de grupos de mulheres para debater inovação; criação de governança; inovações para os negócios tradicionais; construção e mobilização de políticas públicas.

É importante lembrar que, da Avenida Central (atual Avenida Rio Branco) do início do século 20 ao Boulervard Olímpico de 2016, o Centro do Rio é também o centro das atenções e das emoções dos cariocas. Foi onde a cidade começou; onde surgiu o primeiro arranha-céu do país (o edifício A Noite, próximo ao Mosteiro de São Bento); o primeiro cinema (na região da Cinelândia); e, mais recentemente, onde foram inaugurados imponentes espaços da cena cultural, como o Museu do Amanhã e o Museu de Arte do Rio. O centro faz conviver e convergir pessoas, religiões, cultura, lazer, educação, iniciativa pública, privada e comércio, funcionando como um organismo vivo, que demanda constante alimentação.

Para que esse organismo alcance todo o seu potencial, diferentes setores da sociedade precisam agir em cooperação. Entre eles estão as instituições de ensino superior, que, ao atuarem junto à comunidade, criam possibilidades efetivas de aprendizado e intercâmbio de ideias, democratizando o desenvolvimento social a partir da educação. Na prática, ao expandirem seus esforços para além dos seus muros, as instituições de ensino se aproximam da cidade e beneficiam todos que de algum modo dependem dela.

Lançar luz nos modos de viver a cidade inclui o reconhecimento das contradições próprias do tecido urbano; da celeridade das aglomerações e da velocidade da produção industrial; da poluição sonora e visual; do crescimento da desigualdade social e das precárias condições de vida das classes trabalhadoras. Inclui, também, propostas que nos guiam pelos labirintos desse espaço, que, embora a princípio não se deixe ler, insiste em nos instigar e se apresentar: “Muito prazer, eu sou o centro do Rio de Janeiro!”.

 

Aline Novaes e Fabiana Crispino são Doutoras em Literatura, Cultura e Contemporaneidade e professoras titulares do Centro Universitário Ibmec.