EDITORIAL

Um país sem futuro

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Por JORNAL DO BRASIL
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Publicado em 29/09/2022 às 15:30

Alterado em 29/09/2022 às 17:31

O país está na expectativa do debate desta noite entre os presidenciáveis na TV Globo. O confronto direto entre os candidatos pode levar a fração ainda indecisa dos 156,4 milhões de eleitores brasileiros a mudar de opinião na reta final e escolher, já neste domingo, o presidente da República que vai comandar o Brasil pelos próximos quatro anos, a partir de 1º de janeiro de 2023. Ainda que o desfecho seja adiado para 30 de outubro, a verdade é que, com Lula ou Bolsonaro, nada vai mudar em profundidade na vida brasileira.

No plano político, as mesmas famílias da oligarquia que controla há décadas a vida brasileira e os meios de comunicação vão continuar mandando. Nesta virada de milênio, com o país fortemente urbanizado, mas com todas as carências sociais do subdesenvolvimento, o reinado dos velhos coronéis da política dos grotões perdeu um pouco de importância. Nas máfias, pede-se “bençãos” aos “novos padrinhos”. No Brasil, ganharam espaço as alianças com pastores evangélicos e chefes de milícias, que controlam importantes redutos eleitorais. Outra parte dos aglomerados urbanos mais pobres está sob domínio do tráfico.

No plano estrutural, salvo a enorme diferença de empatia para com os mais pobres e a questão social historicamente demonstrada pelo ex-presidente Lula, em comparação à insensibilidade social e humana de Jair Bolsonaro, como ficou patente e de modo estarrecedor na pandemia da Covid-19, que ceifou a vida de mais de 685 mil brasileiros, não se pode esperar muita mudança. Bolsonaro, que sempre militou nos partidos do Centrão, concorre à reeleição com amplo apoio do Centrão. No passado, cooptado por Lula no mensalão.

Assim como as famílias tradicionais controlam a política, na economia, o oligopólio bancário e a baixa concorrência em diversos setores - diante da inação das agências reguladoras que não arbitram os conflitos entre os agentes econômicos e muito menos protegem os consumidores, a política econômica de juros altos, em meio ao quadro fiscal incerto, vai continuar privilegiando no horizonte imediato - pelo menos até o fim de 2023 - os banqueiros, o caixa das grandes empresas e os cerca de 100 mil rentistas que lucram com aplicações financeiras. Não se espere que Lula vá mudar isso. Ao contrário, ele é um dos causadores.

Pouco se ouviu dos dois líderes das pesquisas sobre as maiores aflições das famílias brasileiras: a fome, o desemprego e o endividamento a juros escorchantes que já ameaça quase 67 milhões de brasileiros. Bolsonaro gaba-se de ter reduzido o preço do litro da gasolina. Melhor seria reduzir o litro de leite, que custa 30% a mais. Em 2018, quase 63 milhões de brasileiros tinham dívidas e contas em atraso. Na época, o candidato Ciro Gomes defendeu o uso dos bancos públicos para renegociar as dívidas a juros módicos e prazos elásticos para devolver poder de compra às famílias. Bolsonaro se gaba do PIX, concebido e iniciado pelo Banco Central no governo Temer. Mas nada fez para acudir os devedores em quatro anos de mandato.

Lula, agora, incorporou a ideia de Ciro a seu programa de governo, buscando também atrair seus eleitores. Jair Bolsonaro, na busca desesperada pela reeleição, quer ampliar ainda mais o endividamento dos brasileiros, criando empréstimos aos beneficiários do Auxílio Brasil, cujo pagamento do atual valor de R$ 600 mensais só está garantido até 31 de dezembro, como todo o pacote de benesses eleitorais temporárias. Diante do enorme risco, os bancos mais responsáveis, incluindo o Banco do Brasil, evitam entrar nessa área.

O nível do debate político é decepcionante. As metas de mudança climática que vão alterar o perfil da industrialização e da matriz energética em todo o mundo exigem que o Brasil, 6º país mais populoso e o 5º em área territorial, boa parte ainda em florestas, tenha presença assertiva e indispensável nos foros de discussão sobre meio ambiente e os destinos da humanidade. Mas há ausência quase completa de discussões sobre o futuro da inserção global do país na campanha eleitoral. O tema foi praticamente alijado nas trocas de visões e de questionamentos entre os candidatos.

Com um nível tão rasteiro nos debates no plano federal, o que se poderia esperar dos confrontos de ideias entre os postulantes aos governos dos estados e aos que pretendem representar os interesses dos cidadãos e contribuintes do Estado do Rio de Janeiro, na Assembleia Legislativa, na Câmara e no Senado Federal? O naipe dos candidatos diz quase tudo. A política fluminense se abastardou sob a influência dos pastores evangélicos e milicianos. Tudo misturado com as práticas políticas do Centrão.

Esse coquetel levou à eleição do ex-juiz Wilson Witzel, em 2018, cujo despreparo ficou evidente na rodada de entrevistas do JORNAL DO BRASIL com os candidatos à época. Seu vice, que pegou carona, o então desconhecido Cláudio Castro, hoje postula a reeleição. Seu cartão de visita são as ações violentas contra as comunidades carentes do Grande Rio. O governador em exercício, que torrou o dinheiro da privatização da Cedae no recapeamento de pequenos trechos de estradas no interior, para fechar alianças com as lideranças políticas locais, em vez de fazer projetos estruturantes, como a ligação ao porto do Açu, um dos maiores projetos do estado, no Norte fluminense, saca estatísticas ilusórias que atestariam a forte recuperação econômica do Estado: a criação de milhares de novas empresas e a retomada dos empregos. Qualquer estudante de economia sabe que nos tempos atuais é o setor de serviços que tem mais empresas que geram a maior parte dos empregos. No caso do Rio, o setor de serviços supera a média nacional. Assim, as “novas empresas” correspondem ao renascimento, via mudança da razão social, das que fecharam na pandemia e estão recontratando com salários mais baixos. Que não se engane o eleitor.

Um de seus apoiadores é o senador Romário, cuja passagem no Senado foi pífia em atos e atitudes. Apesar de aliado do presidente Jair Bolsonaro, não trouxe nenhum projeto relevante para transformar o Rio de Janeiro. A função de um senador, como representante do Estado, é garantir a defesa dos interesses maiores da comunidade e dos empresários fluminenses. Ambos - governador e senador - se omitem nas bolas divididas em prol de questões fundamentais ao desenvolvimento do Estado do Rio, como a construção de novas rotas de escoamento e processamento do gás e do petróleo do pré-sal da Bacia de Santos no litoral fluminense para gerar novas oportunidades de emprego e renda na indústria, como a construção naval.

Com a provável eleição do ex-presidente Lula, o Rio de Janeiro necessita ter no Senado um político que dialogue com o governo federal e este nome é André Ceciliano, um candidato que pode honrar o Estado, pois, como presidente da ALERJ, tem lutado por projetos que devolvam esperança aos trabalhadores, empresários e cidadãos fluminenses.

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