Embaixadora da França cita respeito ao processo do voto no Brasil
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Eduardo Gayer e Thaís Barcellos - A quatro dias da reunião em que o presidente Jair Bolsonaro pretende apresentar a embaixadores um Powerpoint com suas desconfianças em torno das urnas eletrônicas, a embaixadora da França no Brasil, Brigitte Collet, deixou claro que tem respeito pelas instituições e pelo processo eleitoral brasileiro.
"A cultura, as ideias, e mesmo os ideais, sempre desempenharam um papel primordial na nossa relação. Nossos dois países estão comprometidos com a democracia, baseada no respeito a todos os direitos humanos, aos processos eleitorais e às instituições fortes", afirmou a embaixadora.
A declaração foi dada na noite de ontem em festa na área externa da embaixada da França, em Brasília, para marcar o 14 de julho - dia em comemoração à Queda da Bastilha, estopim para a Revolução Francesa. Vinhos e queijos brie foram servidos à beira da piscina, na presença de diplomatas e representantes da cultura francesa, como o chef e apresentador de televisão Erick Jacquin.
Na próxima segunda-feira, às 16 horas, no Palácio da Alvorada, Bolsonaro pretende reunir embaixadores para apresentar a eles suas desconfianças sobre o sistema eleitoral brasileiro e para criticar a atuação dos ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo apurou o Broadcast Político, a equipe do Itamaraty distribuiu constrangida os convites para o encontro, ciente da mistura do aparato diplomático com os planos político-eleitorais do presidente.
Bolsonaro é crítico das urnas eletrônicas e defende que venceu as eleições de 2018 no primeiro turno, e não no segundo, como de fato aconteceu, quando derrotou o petista Fernando Haddad (PT). Até hoje, o presidente nunca apresentou provas para embasar sua tese. Na oposição, avalia-se que Bolsonaro ataca o sistema eleitoral como forma de preparar o terreno para tentar invalidar as eleições se perdê-las para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O discurso de abertura de Brigitte Collet também foi marcado por críticas à invasão da Rússia à Ucrânia. Na avaliação da embaixadora, o Brasil “se uniu claramente” às condenações impostas a Moscou. Embora o País tenha apoiado moção de repúdio à guerra na Organização das Nações Unidas (ONU), Bolsonaro costuma dizer que tem posição de “neutralidade” no conflito.
“A comunidade internacional se manifestou de forma maciça contra essas graves violações do direito internacional. Nosso parceiro brasileiro se uniu claramente a essa condenação. A voz do Brasil se faz ainda mais importante por ser, atualmente, membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas, e por aspirar, com nosso apoio, a um assento permanente", disse a representante da França no Brasil.