Direita dispara, esquerda míngua e centro fica estável na Câmara
Ao todo, as siglas à direita do centro arrebataram 382 das 513 cadeiras da casa, ou 74,4% do total
Cícero Cotrim - Os partidos de direita foram os grandes vencedores das eleições de 2022, ao menos na disputa pela Câmara dos Deputados. Ao todo, as siglas à direita do centro arrebataram 382 das 513 cadeiras da casa, ou 74,4% do total. É um crescimento de 4,7% na comparação com as eleições de 2018, quando esses partidos elegeram 365 parlamentares, ou 71,1% dos assentos em jogo.
Em contrapartida, a soma dos partidos à esquerda do centro viu a sua bancada eleita na Câmara cair 12,6% entre as eleições de 2018 e 2022. Ao todo, essas siglas elegeram 118 parlamentares neste domingo, 2, contra um total de 135 cadeiras conquistadas no pleito anterior. Os partidos situados no centro do espectro político tiveram desempenho estável, com 13 deputados eleitos em 2018 e 2022.
A classificação dos partidos toma como base um levantamento publicado em 2022 pelos cientistas políticos Bruno Bolognesi, Ednaldo Ribeiro e Adriano Codato. No estudo, 519 membros da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP) classificaram os partidos em uma escala de zero a dez, representando, respectivamente, os extremos da esquerda e da direita em termos ideológicos.
A pesquisa avalia a posição ideológica dos partidos, e não de cada parlamentar no Congresso. Realizado em junho de 2018, o levantamento desconsidera movimentos mais recentes do cenário político, como a fusão de DEM e PSL que resultou na criação do União Brasil. Por um critério de simplicidade, o Broadcast Político manteve inalteradas as notas de todos os partidos e atribuiu ao União Brasil a média entre as notas de DEM e PSL.
O crescimento dos partidos de direita em 2022 é explicado principalmente pelo PL do presidente Jair Bolsonaro, que elegeu 99 parlamentares neste pleito. Em um exercício alternativo que situa a sigla no campo da extrema-direita, a representação deste espectro ideológico na Câmara cresceria de quatro (0,8%) para 103 (20,1%) parlamentares, atrás proporcionalmente apenas da direita (267, ou 52% do total).
O encolhimento dos partidos à esquerda do centro, por sua vez, é explicado pela redução do número de cadeiras ocupadas pelas siglas de centro-esquerda, em especial o PSB (32 para 14) e o PDT (28 para 17). Em contrapartida, as siglas de esquerda ampliaram de 65 para 74 o número de cadeiras conquistadas, puxadas pelo PT (56 para 69), enquanto os partidos de extrema-esquerda cresceram de 10 para 13, com impulso do PSOL (10 para 12).
Estados
O crescimento dos partidos à direita do centro na Câmara se explica em grande parte por uma virada nos Estados. A votação do último domingo resultou em 18 Unidades da Federação migrando a nota média dos partidos de deputados eleitos para a direita, com destaque para Acre, Sergipe, Roraima e Mato Grosso. Apenas nove Estados viram a nota média migrar para a esquerda.
No Acre, que em 2018 tinha elegido um parlamentar de esquerda e um de centro-esquerda, todos os oito deputados federais eleitos em 2022 estiveram em partidos do espectro da direita. O mesmo fenômeno se observou em Sergipe, que elegeu em 2018 um parlamentar de esquerda e um de centro-esquerda e, neste domingo, deu as oito vagas a parlamentares de siglas da direita.
O cenário conversa diretamente com o resultado das eleições para governador e senador. Neste domingo, o PL do presidente Jair Bolsonaro conquistou oito cadeiras no Senado Federal, com destaque para três das quatro vagas em disputa no Sudeste - São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Somados os candidatos eleitos por partidos aliados, o bolsonarismo ganha, no total, mais 14 parlamentares, contando oito do PL, três do PP, dois do Republicanos e um do PSC.