POLÍTICA

O mundo só tem olhos para Lula, estrela da COP27

...

Por POLÍTICA JB com Sputnik Brasil
[email protected]

Publicado em 29/11/2022 às 09:52

Alterado em 29/11/2022 às 09:52

Lula não tem do que reclamar Foto: Reuters/Ueslei Marcelino

Lucas Rocha - O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, foi a sensação da COP27. O retorno do petista a uma conferência do clima das Nações Unidas gerou grande euforia internacional, com uma efusiva recepção e destaque na imprensa internacional. Isso, no entanto, ofuscou o fim do governo Jair Bolsonaro, que cancelou a participação no evento.

Apesar de Lula se colocar para o mundo como presidente do Brasil antes mesmo de assumir — com uma série de viagens ao exterior e reuniões com autoridades internacionais desde antes das eleições —,  analistas acreditam que a reclusão de Bolsonaro é o principal responsável pelo ofuscamento do governo atual.

A cientista política Marília Closs, pesquisadora da Plataforma CIPÓ e doutoranda no Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), esteve presente na COP27 e disse à Sputnik Brasil que Lula foi, de fato, recebido como uma das principais figuras da conferência — o jornal francês "Le Monde" chegou a compará-lo a um rockstar.

"Lula foi a pessoa mais importante e mais badalada dessa COP. O discurso principal dele — o Lula participou de várias agendas — foi disputadíssimo. A fila para entrar era gigantesca, ele lotou não só a sala principal, mas também a sala anexa onde tinha telão, e mesmo assim ficou muita gente de fora. Ele era, de longe, a grande sensação e, em alguma medida, a presença dele na segunda semana da COP até ofuscou outros eventos, porque a agenda dele foi a mais importante", avalia Marilia.

"Os olhos do mundo estão sim voltados para o Lula agora. Ele é uma das figuras mais importantes do planeta, não só por ser uma figura política muito relevante, mas também porque o retorno dele significa o retorno da política externa brasileira e a construção de uma nova política ambiental e climática, falando especificamente sobre a pauta da COP27", acrescenta a pesquisadora.

Closs acredita que a expectativa aumenta em razão do "cenário de desmonte de políticas ambientais, de negacionismo climático e de isolamento internacional" durante o governo Bolsonaro. "Lula é o oposto disso tudo", aponta.

Giorgio Romano Schutte, professor de relações internacionais e economia da Universidade Federal do ABC (UFABC) e membro do Observatório de Política Externa e da Inserção Internacional do Brasil (OPEB), acredita que "os olhos do mundo já estavam voltados para Lula antes mesmo de ele ganhar as eleições".

"Eu nunca vi uma eleição no Brasil sendo tão acompanhada em vários lugares do mundo, na Europa, na América Latina, nos Estados Unidos, na África. Em primeiro lugar pela lembrança do Lula com uma grande capacidade de comunicação e liderança. O mundo está carente de lideranças. Na questão ambiental, mas também em outras áreas. O Brasil é um país que é chamado para participar das soluções dos vários problemas internacionais", afirma.

Questionado sobre se essa atenção dada a Lula coloca Bolsonaro em segundo plano, o analista responsabiliza o próprio governo por isso. "O Bolsonaro mesmo se colocou fora do cenário internacional. Os amigos estão fora do governo. É normal, eles já estão se auto-ofuscando", disse.

Marilia faz a mesma análise e aponta que "o que mais ofusca o governo Bolsonaro é ele ter sumido, ter desaparecido". "A virada é natural porque agora o Brasil vai voltar a ter governo", declarou.

Schutte pondera que "o Brasil agora precisa definir prioridades e pautar sua própria agenda" para não ficar refém de interesses externos. Por isso o professor diz ter dúvidas sobre o que esse otimismo exacerbado pode provocar.

"Essa alta expectativa pode ajudar porque o Brasil vai ter grandes oportunidades, mas atrapalha se a gente se perder e ficar diluindo as energias. Precisa focar no que é de interesse do Brasil, onde o Brasil realmente pode fazer uma diferença, no que pode criar uma capacidade industrial e tecnológica no país… [O Brasil vai ter] oportunidades e poder de negociação com empresas internacionais, mas tem que tomar cuidado. Não pode se deixar ser manipulado, não pode trabalhar para pautas dos outros", observa.

Closs acredita que essa expectativa toda gera maiores pressões no governo, mas não as enxerga de forma negativa. A pesquisadores, inclusive, aponta que isso faz o Brasil ter que se atualizar e estar à frente dos debates. Como exemplo, ela cita o discurso de Lula sobre o acordo de perdas e danos aprovado na COP.

"Há muita expectativa com esse novo governo, mas eu não acho que isso atrapalhe, pelo menos a princípio. Acho que o Lula chega com uma pressão internacional para que o Brasil volte a ser um ator na agenda de clima e meio ambiente e isso significa que ele está se comprometendo desde agora", destaca.

"A euforia internacional abre diversas portas para o Brasil. Não só em termos de governança internacional, mas também em termos de investimentos. O retorno imediato do Fundo Amazônia é uma sinalização muito importante. A eventual presença dos Estados Unidos no Fundo Amazônia também é muito importante. Quando a gente fala de clima e meio ambiente, tem que existir um investimento do Norte no Sul. É reparação histórica. E o Lula auxilia muito nesse processo por ser uma figura internacionalmente muito bem vista, muito respeitada", diz Closs.

 

 

Tags: