Gonçalves Dias pede demissão do GSI

Pedido foi foi feito após CNN divulgar vídeo em que ex-ministro aparece no Palácio do Planalto durante atos golpistas de 8 de janeiro

Por GABRIEL MANSUR

Ex-ministro Gonçalves Dias.

A crise que se alastrou no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) culminou na primeira baixa no alto escalão do presidente Lula. O ministro-chefe do GSI, Gonçalves Dias, pediu demissão do cargo, nesta quarta-feira (19), no 109º dia de governo. O pedido foi feito após reunião com Lula e chefes de outras pastas, no Palácio do Planalto.

A pressão para que o general da reserva deixasse o cargo aumentou após a CNN Brasil divulgar um vídeo em que ele aparece circulando dentro do Palácio do Planalto durante as invasões golpistas de 8 de janeiro. As imagens também mostram um dos militares do GSI, que são responsáveis pela segurança de autoridades e do Planalto, conversando e cumprimentando os invasores. Outro trecho mostra servidores do órgão entregando água aos vândalos.

Em comunicado, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República justificou a presença do chefe do órgão no Palácio do Planalto, na qual afirma que os vídeos divulgados mostram a “atuação dos agentes de segurança que foi, em um primeiro momento, no sentido de evacuar os quarto e terceiro pisos do Palácio do Planalto”. E completa:

"Quanto às afirmações de que agentes do GSI teriam colaborado com os invasores do Palácio do Planalto, informa-se que as condutas de agentes públicos do GSI envolvidos estão sendo apuradas em sede de sindicância investigativa instaurada no âmbito deste Ministério e, se condutas irregulares forem comprovadas, os respectivos autores serão responsabilizados”, segue o comunicado do GSI.

Após o pedido de demissão, a Secom, em outra nota, disse que “não haverá impunidade para os envolvidos nos atos criminosos de 8 de janeiro”. Acrescentou que a "violência terrorista que se instalou nos Três Poderes da República alcançou um governo recém-empossado, portanto, com muitas equipes ainda remanescentes da gestão anterior". A justificativa, aliás, foi corroborada pela presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann:

"Agentes filmados colaborando com invasores do Planalto eram do governo Bolsonaro, do GSI do general Heleno, que ainda não haviam sido substituídos. O general Gonçalves Dias sai, mas as investigações continuam. Não adianta vir com armação: Invasores, terroristas e golpistas eram todos da turma de Bolsonaro. Vão pagar por seus crimes", ressaltou, por meio de sua rede social.

Leia a nota na íntegra

A violência terrorista que se instalou no dia 8 de janeiro contra os Três Poderes da República alcançou um governo recém-empossado, portanto, com muitas equipes ainda remanescentes da gestão anterior, inclusive no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que foram afastados nos dias subsequentes ao episódio.

As imagens do dia 8 de janeiro estão em poder da Polícia Federal, que tem desde então investigado e realizado prisões de acordo com ordens judiciais. No dia 17 de fevereiro, a Polícia Federal pediu autorização para investigar militares e, a partir do dia 27 de fevereiro, com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF), tem realizado tais investigações, inclusive com a realização de prisões.

Dessa forma, todos os militares envolvidos no dia 8 de janeiro já estão sendo identificados e investigados no âmbito do referido inquérito. Já foram ouvidos 81 militares, inclusive do GSI. O governo tem tomado todas as medidas que lhe cabem na investigação do episódio.

E reafirma que todos os envolvidos em atos criminosos no dia 8 de janeiro, civis ou militares, estão sendo identificados pela Polícia Federal e apresentados ao Ministério Público e ao Poder Judiciário. A orientação do governo permanece a mesma: não haverá impunidade para os envolvidos nos atos criminosos de 8 de janeiro.

Depoimento programado

Antes mesmo de assinar a carta de demissão, a Polícia Federal já estava no encalço do agora ex-ministro. A expectativa é que Gonçalves Dias seja intimado para depor sobre os ataques golpistas nos próximos dias. A corporação já ouviu 81 militares sobre o caso, mas ainda não marcou a oitiva de G Dias. A revelação de imagens pela “CNN Brasil”, no entanto, aumentou a pressão junto ao órgão para que o depoimento do militar aconteça logo.

 

GSI

O GSI, formado majoritariamente por militares, é o órgão responsável pela segurança das instalações da Presidência da República. Até o início de 2023, também fazia a segurança pessoal do presidente e de seus familiares.

Mas Lula decidiu ter sua segurança composta por policiais federais, alguns que já o acompanharam durante a campanha presidencial. Lula e boa parte do governo têm receio da atuação de militares no núcleo da administração federal. A quantidade de militares que participaram do governo Bolsonaro deixou a impressão no governo petista de que parte das Forças Armadas assumiu uma atuação ideológica.