Michelle recebeu joias em mãos e Bolsonaro conferiu pessoalmente, diz ex-servidora do Planalto à PF
Depoimento contradiz a ex-primeira-dama, que desde o estouro do escândalo negava ter conhecimento do estojo com itens de luxo
A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro recebeu o segundo conjunto de itens de luxo enviado pelo governo da Arábia Saudita, no dia 28 de novembro de 2022. O "presente" milionário, com valor estimado de R$ 2,5 milhões, foi conferido por seu marido e então presidente Jair Bolsonaro (PL) antes de ser entregue em mãos à ex-primeira-dama. A informação foi publicada pelo jornal Estado de S. Paulo, que teve acesso à oitiva de uma servidora que atuava no Palácio do Planalto na época.
A ex-funcionária trabalhava no Gabinete Adjunto de Documentação Histórica (GADH) do Palácio do Planalto, onde prestava serviços ao Gabinete Pessoal da Presidência e tinha a atribuição de receber e fazer a triagem de presentes oficiais. A declaração à Polícia Federal contradiz a ex-primeira-dama, que desde o estouro do escândalo negava ter conhecimento das joias. Nesta terça-feira (25), após repercussão do caso, Michelle disse a jornalistas que só não sabia da existência do primeiro pacote, o que ficou retido na Receita Federal.
Segundo o depoimento da servidora, prestado à Polícia Federal (PF) no contexto das investigações sobre o caso, as joias foram recebidas por Michelle no Palácio da Alvorada, residência oficial da presidência. O conjunto em questão entrou ilegalmente no país, sem ter sido declarado, em outubro de 2021, trazido pela comitiva do então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e conta com cinco itens: um relógio, um anel, um par de abotoaduras, um rosário e uma caneta, todos em ouro com diamantes.
Em um primeiro momento, o pacote de joias chegou a ser avaliado em R$ 1 milhão, mas de acordo com o Departamento de Documentação Histórica, a caixa foi registrada ao dar entrada no Palácio do Alvorada com o valor de US$ 500 mil, o equivalente a R$ 2,5 milhões. Ao todo, Jair Bolsonaro recebeu três caixas de joias do governo da Arábia Saudita, que juntas podem ultrapassar o valor de R$ 19,5 milhões.
O estojo, com itens da marca Chopard, foi devolvido pela defesa do ex-presidente após determinação do Tribunal de Contas da União (TCU).
O depoimento
Ao relatar o episódio, a ex-funcionária destacou que a caixa trazida pela comitiva de Bento Albuquerque foi recebida por ela, pelo chefe, Erick Borges, e por um terceiro funcionário, o museólogo Raniel Fernandes. Ao constatar o valor elevado do presente, o chefe do GADH na época, Marcelo Vieira, teria dito que, por questões de segurança, o material deveria ser enviado do Palácio do Planalto ao Alvorada.
Sempre de acordo com o depoimento, um servidor do Alvorada se deslocou ao Planalto para retirar a caixa. Minutos depois, um funcionário de confiança do clã Bolsonaro, Francisco de Assis Castelo Branco, teria dito à própria funcionária que a caixa já estava em posse de Michelle. A equipe do Estadão teve acesso a documentos oficiais que confirmam que o pacote foi entregue no Palácio da Alvorada e que Jair Bolsonaro visualizou o conteúdo em 29 de novembro de 2022.
Michelle sabia de tudo
A versão da antiga funcionária conflita com o discurso de Michelle, que vinha afirmando desconhecer o conteúdo dos pacotes. Após a reportagem do Estadão vir a público, a ex-primeira-dama confirmou que o pacote chegou à moradia presidencial.
“Essas joias que chegaram no Alvorada foram as joias masculinas (do segundo pacote). Estão associando ao primeiro caso, quando eu falei que não sabia (do primeiro pacote, com joias femininas) e não sei mesmo. Tanto que as primeiras estão apreendidas na Receita e essas do Alvorada estão na Caixa Econômica Federal (devolvidas no mês passado pela defesa de Jair)”, disse.