Faltou inteligência?
Socioólogos se dividem sobre razões de a situação ter chegado ao ponto de carros serem incendiados nas ruas D urante a onda de ataques em que 102 veículos foram incendiados no estado, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, disse que as ações criminosas foram uma reação contra a política de ocupação de territórios do tráfico, por meio das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), e também à transferência de bandidos para presídios federais de segurança máxima em outros estados. Mas há quem discorde.
O coordenador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), João Trajano Sento-Sé, creditou a deficiências da Secretaria Estadual de Segurança Pública os problemas de violência que culminaram na invasão do complexo do Alemão.
– O tráfico já vinha acenando com esse tipo de ação havia algum tempo – ponderou. – A inteligência da Secretaria de Segurança, se é que existe, demorou a responder a essas ações, que se espalharam e começaram a percorrer em diversos pontos da cidade e do estado.
Essa lentidão gerou o caos.
Também da Uerj, o sociólogo José Augusto Rodrigues atestou que o tiro dado pela facção criminosa responsável pelas queimas de veículos e arrastões saiu pela culatra.
– Foi uma tentativa do tráfico de drogas de chantagear o governo estadual através do terror na população – analisou. – No entanto, as ações não atingiram seu objetivo principal.
Pelo contrário, a repressão policial aumentou, e parte de seus redutos foi tomada, tornando a situação dos traficantes ainda pior do que antes do início dos ataques.
Já o autor do livro Guerra irregular , Alessandro Visacro, que na obra aborda os conflitos modernos como o terrorismo e as guerrilhas urbanas, corroborou a versão de Beltrame e associou a série de ataques criminosos no Rio de Janeiro aos prejuízos financeiros e à perda de território de traficantes.
– O que acontece no Rio de Janeiro é que a motivação do conflito não é política e ideológica, a violência está associada simplesmente à obtenção de lucros financeiros decorrentes do tráfico de drogas e de armas – analisou Visacro, oficial das Forças Especiais do Exército.