Desastre nas águas da Guanabara
Transpetro diz que vazamento foi de 60 mil litros de óleo, mas Inea e ambientalistas questionam cálculo
O catador de caranguejo Carlos Alberto Soares, na localidade do Cantinho da Vovó, pega um caranguejo repleto de óleo bruto. No distrito da Praia de Mauá, em Magé, no extremo norte da Baía de Guanabara, o catador diz que não teria como trabalhar no dia seguinte e nem nas próximas semanas. “Vivemos dessa catação, e tem muita quantidade de óleo aqui. Estamos no período de reprodução de caranguejo. O prejuízo pra gente será muito grande”, acentua ele. Carlos Alberto mostrava, com sua experiência, que o vazamento de óleo de um duto da Petrobras naquela região é de grande proporção, conforme antecipou ontem a edição online do Informe JB.
A Transpetro, em nota, disse que 60 mil litros de óleo “atingiram o Rio Estrela e a Baía de Guanabara”. A empresa de transporte e a logística de combustível da Petrobras atribui o vazamento a “um furto de petróleo ocorrido no último sábado à tarde”. E afirmou ainda que metade do óleo despejado já fora recolhido.
Logo após sobrevoar ontem o local do desastre em um helicóptero do Grupamento Aeromóvel da Polícia Militar, o chefe da Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim, Maurício Muniz, afirmou que o vazamento do oleoduto da Transpetro é de “grandes proporções, talvez o maior do Rio nos últimos anos”, afirmou Muniz. “O vazamento veio descendo pelo rio, chegou na região de Magé e já se estende até próximo à Ilha de Paquetá”, a pouco mais de 13 km de distância.”
A própria nota do Inea põe em xeque o parecer da Transpetro. “Segundo informações da empresa, a causa do acidente foi um desvio clandestino em função de uma tentativa de furto do produto, e o volume total vazado entre o momento da detecção (aproximadamente 15/16h), e o momento que foi interrompido (1h da manhã) teria sido de cerca de 60 m3. Essas informações ainda serão avaliadas pela equipe técnica do Inea após a verificação de uma série de fatores. Somente após esse procedimento é que o Inea poderá informar e estipular o valor da multa a ser aplicada”.
Em entrevista ao JORNAL DO BRASIL, Marcos Lima, presidente do Inea, disse que o instituto notificou ontem mesmo a Petrobras, exigindo que a empresa aumentasse o número de embarcações de 12 para 20”, disse Lima. A Transpreto, por sua vez, enfatizou sua operação para conter o vazamento. “350 profissionais, 24.600 metros de barreiras absorventes e de contenção, 12 caminhões, 12 embarcações de apoio, uma aeronave, 3 drones”.
Funcionária do Inea, a bióloga Vânia Cardoso foi acompanhar os trabalhos e contenção do óleo vazado do duto da Petrobras. “O vazamento começou a 200 metros da margem do Rio Estrela, e o óleo chegou ao rio já devastando o mangue desse corpo hídrico e chegando à Baía de Guanabara”, disse a bióloga, acentuando que quem perfurou o duto cavou um buraco de pelo menos três metros na terra.
Membro do Comitê de Bacia de Baía de Guanabara, José Miguel da Silva disse que a estimativa de Transpetro de 60 mil litros de óleo é algo preliminar. “Em 2000, com o vazamento da Petrobras que jogou na Baía de Guanabara 1,3 milhão de óleo , as primeiras informações da empresa davam conta de menos de 10 mil litros. No fim dos cálculos, deu dez vezes mais do que essa primeira estimativa”, disse Miguel Silva, ressaltando que foram muitas horas de vazamento de óleo.
O Inea, em nota, detalhou a informação . “A linha/duto foi interrompida pelo centro de controle da empresa, assim que identificado o vazamento, que foi contido por volta de uma hora da manhã deste domingo (9/12), depois de um trabalho extensivo de escavação no local onde surgiu o afloramento do óleo”. Levando-se em conta que o vazamento foi detectado em torno das 14h do último sábado, foram quase 11 horas para a Transpetro equacionar o problema.