Violência policial aumenta
Número de mortes em supostos confrontos no primeiro mês do fim da intervenção e do início do governo Witzel é o segundo maior da série histórica
Agentes do Estado mataram 160 pessoas em supostos confrontos em janeiro deste ano no Rio, na estreia do governo de Wilson Witzel (PSC), que se elegeu com a promessa de recrudescer a repressão ao crime. É o segundo maior número da série histórica, iniciada em 1998, para o primeiro mês do ano. Em relação ao mesmo período do ano passado, o aumento foi de apenas três vítimas. Na comparação com dezembro de 2018, no entanto, quando ainda vigorava a intervenção federal no estado, o crescimento foi de 82%. Os números foram divulgados, ontem, pelo Instituto de Segurança Pública (ISP).
Houve uma redução de 18% nos registros de homicídio doloso em relação ao mesmo período do ano passado. O indicador de letalidade violenta (homicídios dolosos, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e mortes por intervenção de agente do estado) também caiu, com uma redução de 14% no número de vítimas em relação ao mesmo período do ano passado. Mas na comparação com dezembro passado, esse números também aumentou, para 26% foram registrados 563 homicídios dolosos, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e mortes por intervenção de policiais em janeiro deste ano, contra as 447 de dezembro.
O número de roubos de rua (que abarca roubos a transeuntes e em transporte coletivo) bateu recorde para o mês de janeiro. Foram 11.230 casos registrados, o maior número desde 1991.
Para especialistas, os números prenunciam um aumento ainda maior nos indicadores de morte por intervenção de agente do estado para o mês de fevereiro, em que vários episódios violentos por parte da polícia já foram registrados. O caso de maior destaque foi o de 13 civis mortos durante uma operação policial na comunidade do Fallet-Fogueteiro, no Catumbi, no último dia 8. A ação ganhou declarações de apoio do governador.
"Não sei se dá para considerar como positivo o fato de alguns índices terem baixado. Está pouco claro o que esse governo propõe para a área de segurança pública. Na prática, a polícia continua entrando nas comunidades como sempre entrou, vendo todos como inimigos a serem enfrentados", avalia Eliana Sousa Silva, diretora da ONG Redes da Maré.
Witzel foi eleito prometendo "abater" pessoas armadas de fuzis nas comunidades com tiros "na cabecinha". Entre outros episódios violentos já registrados, a Defensoria Pública investiga a denúncia de que pelo menos duas pessoas teriam sido mortas por franco-atiradores da Polícia Civil do Rio, na favela de Manguinhos, na Zona Norte, em meados de janeiro. Segundo relatos de moradores, os tiros teriam partido de uma torre localizada no principal complexo da Polícia Civil, a Cidade da Polícia, a poucos metros da comunidade.
Na última quinta-feira, moradores da Cidade de Deus, na Zona Oeste, denunciaram a presença de um "caveirão aéreo", um helicóptero que sobrevoou a comunidade e de onde foram feitos disparos, sem feridos. As denúncias vieram por vídeos divulgados nas redes sociais. "O ano passado foi recordista de mortes decorrentes de intervenção policial", afirmou o ouvidor da Defensoria Pública do Estado, Pedro Strozenberg.
Operação tem três mortos
Uma operação da Polícia Militar para reprimir o roubo de veículos nas zonas Oeste e Norte do Rio prendeu, ontem, 12 pessoas e deixou mortas três. A PM informou que os mortos eram criminosos. Houve cinco feridos. Mais de 200 policiais de unidades especiais e sete batalhões participaram da ação, batizada de Corte Cego e considerada uma megaoperação por abranger corredores viários em 18 bairros da capital e quatro cidades da Baixada Fluminense. A operação apreendeu ainda munições, um carregador, quatro pistolas, três granadas e nove rádios transmissores. Cinco carros foram recuperados e 20 motos apreendidas. (Com Estadão Conteúdo e Agência Brasil)