RIO
Leilão da Cedae salva Guanabara; Sepetiba ameaçada
Por GILBERTO MENEZES CÔRTES
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Publicado em 30/04/2021 às 17:52
O resultado do leilão de privatização da Cedae, com dois fortes grupos empresariais pagando R$ 22,69 bilhões por três dos quatro lotes ofertados da Companhia Estadual de Águas e Esgotos, que mesclavam serviços em áreas da capital e extensão a municípios do estado, sobretudo do Grande Rio pode garantir, finalmente, a despoluição da Baía de Guanabara. Vai haver um importante aumento de investimentos privados na melhoria dos padrões sanitários e ambientais do Grande Rio, com benefícios para mais de 13 milhões de habitantes.
A concessão, por 35 anos, do Lote 4 (Centro e Zona Norte da Cidade e mais 7 municípios mais ligados à capital cujos esgotos hoje são despejados praticamente sem tratamento na Baía de Guanabara) foi arrematada por R$ 7,2 bilhões (ágio de 187,56%) pelo consórcio Aegea, controlado por fundo soberano de Cingapura e pelo grupo Itaúsa. Nesta região moram mais de 5 milhões de cariocas e fluminenses da Baixada. Depois da própria capital, que abriga mais de 2 milhões de habitantes nestas regiões, as maiores populações são de Duque de Caxias (924 mil), Nova Iguaçu (823 mil), Berford Roxo (513 mil) e São João de Meriti (472 mil, segundo o IBGE).
Pela área 1, que engloba a concessão dos bairros da Zona Sul do Rio e mais 18 municípios, a Aegea pagou R$ 8,2 bilhões, o maior valor, porém, com ágio menor, de 103,13%. Os municípios mais importantes em população e impacto sobre as águas da Baía de Guanabara destacam-se São Gonçalo (o 2º do RJ, com 1,092 milhão de habitantes, segundo o IBGE), Itaboraí (242 mil), Magé (246 mil) e Cachoeiras de Macacu (60 mil).
Como se vê, a Aegea terá a responsabilidade de melhorar o sistema de esgotos com a construção de Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs) nestas regiões e assim contribuir para reduzir o lançamento de esgotos “in natura” de mais de 8 milhões que vivem dos dois lados da Baía de Guanabara. Niterói, com 485 mil habitantes, já privatizou seus serviços de água e esgoto há duas décadas.
A área 2, que engloba os bairros de Jacarepaguá e Barra da Tijuca, que implicará em pesados investimentos para despoluição do sistema lagunar da região, e mais os pequenos municípios de Miguel Pereira e Paty do Alferes, teve lance de R$ 7,2 bilhões (ágio de 129,68%) vencido pelo consórcio Iguá. A instalação de ETEs na região que mais cresce na capital, vai reduzir a poluição dos esgotos lançados por mais de um milhão de pessoas sobre o sistema lagunar na região, beneficiando a qualidade das águas das praias da Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes.
Baía de Sepetiba sob ameaça
Mas a falta de lances para o lote da área 3, que compreende os populosos bairros da Zona Oeste de Santa Cruza, Campo Grande e Bangu, além dos municípios de Itaguaí (134 mil habitantes), Seropédica (83 mil), Paracambi (52 mil), Pinheiral (25 mil), Piraí (29 mil) e Rio Claro (18 mil) pode transformar a já poluída Baía de Sepetiba, onde há o movimentado porto de contêineres e terminais de minério de ferro e carvão, numa região tão problemática como a Baía de Guanabara.
Ainda que em escada bem menor. Preocupa o fato de que além dos municípios e bairros que desovam esgotos na baía terem ficado sem perspectiva de redes de saneamento. A própria qualidade da água da Estação de Tratamento de Água (ETA) que continua operada pela Cedae no Rio Guandu (ela vai vender a água para os concessionários que atenderão os clientes, como faz hoje) pode continuar ameaçada pela ausência de tratamento de esgotos de rios que passam nesses municípios e desaguam no Guandu.
O excesso de esgoto, que gera a geosmina e exige pesados gastos com produtos químicos, poderá ser combatido em Japeri, Queimados, e parte de Nova Iguaçu, se forem construídas ETEs. Mas águas do Rio Claro (em cuja bacia a Cedae estimulou programa de replantio nas nascentes pelos fazendeiros e donos de terras) e do Rio Piraí poderão ser prejudicadas.