RIO

Edifício A Noite, que já foi o mais alto da América Latina, vai virar prédio residencial de luxo

Iniciativa privada comprou imóvel junto à Prefeitura do Rio por R$ 36 milhões

Por JORNAL DO BRASIL
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Publicado em 25/07/2023 às 12:56

Alterado em 25/07/2023 às 12:56

Inaugurado em 1929, edifício foi sede do periódico A Noite Foto: Autor desconhecido

O Edifício Joseph Gire, mais conhecido como Edifício 'A Noite', foi vendido para a iniciativa privada pelo valor de R$ 36 milhões. O contrato foi assinado entre a Prefeitura do Rio de Janeiro, antigo dono, e um consórcio especializado em prédios residenciais de alto padrão. Tratam-se da incorporadora paulista QOPP, que integra o Grupo Vetorazzo, e a carioca Konek Transformação Imobiliária, que juntas pretendem transformar a clássica construção em um prédio residencial.

O governo de Eduardo Paes (PSD) havia comprado o imóvel junto à União em 31 de março deste ano, por R$ 28,9 milhões, bem abaixo do lance mínimo de R$ 98 milhões apresentado em maio de 2021, data do primeiro leilão. Ou seja: teve uma margem de lucro de R$ 7,1 milhões. O objetivo do Poder Público municipal ao adquirir o prédio era justamente de negociá-lo com o setor privado.

Como está abandonado e com sua estrutura completamente danificada, a tendência é que a edificação, inaugurada em 1929 e antiga sede do periódico A Noite, passe por um processo de restauração antes de abrir para novos moradores. A expectativa é de que o novo residencial do Centro do Rio seja um empreendimento completo, com área de lazer e convivência no rooftop (uma espécie de terraço) e vista para o Museu do Amanhã e para a Baía de Guanabara.

O colunista Lauro Jardim, que revelou a compra, esclarece ainda que os novos proprietários do histórico imóvel terão que repassar ao município metade dos lucros que forem gerados pelos incentivos do projeto municipal Reviver Centro - um extra calculado em pelo menos R$ 24 milhões. Ao todo, o negócio deve render R$ 60 milhões, dos quais R$ 31,1 milhões vão diretamente para os cofres do Rio.

O prédio de 22 andares foi construído entre 1927 e 1929, mas estava abandonado nos últimos anos.

História

Construído no terreno onde antes funcionava o Liceu Literario Portugues, o “A Noite” adquiriu seu nome popular porque quando foi inaugurado, em 1929, abrigava a sede do Jornal A Noite – periodico fundado em 1911, por Irineu Marinho. O letreiro do jornal, fixado nos andares mais altos do predio de 22 andares, acabou caracterizando a construcao, que foi projetada pelos arquitetos Joseph Gire – que tambem projetou o Copacabana Palace e o Hotel Gloria – e Elisiario Bahiana, em estilo art déco e erguida em concreto armado.

O edificio e um marco da arquitetura moderna no Rio. Apos sua construcao, a cidade passou por um processo de verticalizacao que mudou sua paisagem. Ate a construcao do A Noite, os predios da av. Central – atual Rio Branco – possuiam ate, no maximo, oito pavimentos. Era do mirante, no terraco do edificio com mais de 100 metros de altura, que se conseguia uma vista privilegiada da cidade e da baia de Guanabara.

O A Noite tambem ja foi um dos focos da boemia nos anos iniciais do seculo 20. A partir de 1936, a entao recem-inaugurada Radio Nacional, sua moradora mais conhecida, ocupou o edificio. Pelos corredores dos quatro andares ocupados pela emissora passaram nomes como as cantoras Emilinha Borba, uma das intérpretes mais populares da Rádio Nacional, e Marlene, além de outros grandes artistas da música popular brasileira como Dalva de Oliveira, Luiz Gonzaga, Cauby Peixoto e Elizeth Cardoso.

Foi no ano de 1940, por conta de dívidas com o Governo Federal, que o prédio passou a ser propriedade da União. Tombado em 2013 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) pelas suas características arquitetônicas e históricas, tornou-se ícone da região portuária da cidade.

“Era – para quem desembarcava no porto do Rio de Janeiro depois de 1930 – a primeira incontornável referência visual. O grande edifício […] era a prova de que a cidade afamada por sua beleza natural tinha também outras credenciais para apresentar-se como um centro urbano moderno e civilizado", diz o trecho do parecer de Marcos Castrioto Azambuja sobre o tombamento do Edifício Joseph Gire.