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Projeto UÇÁ inicia nova edição da Operação LimpaOca na Baía de Guanabara

Iniciativa pioneira garante renda a catadores e Baia mais limpa durante defeso do caranguejo-uçá

Por JB RIO
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Publicado em 02/11/2023 às 09:40

Alterado em 02/11/2023 às 09:40

Caranguejo Uçá Foto: reprodução da internet

Até 31 de dezembro de 2023, a captura, a manutenção em cativeiro, o transporte, o beneficiamento, a industrialização, o armazenamento e a comercialização do caranguejo-uçá estão proibidos no estado do Rio de Janeiro. No Rio, a Operação LimpaOca, iniciativa do Projeto UÇÁ — desenvolvido pela ONG Guardiões do Mar, com o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental —, garantirá renda a catadores e pescadores artesanais durante esse período de defeso do crustáceo. Os trabalhadores ajudarão a retirar resíduos sólidos dos manguezais da Baía de Guanabara e em troca receberão um auxílio mensal.

Essa é a oitava edição da força-tarefa, que já retirou 51 toneladas de lixo de 47 hectares do recôncavo da Guanabara. Reeditada em 2014, a Operação é uma ação inédita criada em 2001 pela ONG Guardiões do Mar. Os profissionais engajados na atividade recebem uma bolsa-auxílio mensal, por três meses, para coletar os resíduos durante duas manhãs semanais.

Nesta Operação, que teve início em 19/10 e se estenderá até 18/01/24, estão envolvidos 30 catadores e pescadores, associados à Associação de Pescadores de Itambi (Acapesca). Os resíduos serão coletados na APA de Guapi-Mirim, em uma área de aproximadamente 12 hectares. A expectativa é que sejam retiradas sete toneladas de resíduos sólidos da região.

Além da renda, outra vantagem para esses trabalhadores, de acordo com o presidente da ONG Guardiões do Mar, Pedro Belga, é que após o período de defeso, eles poderão voltar a trabalhar com mais segurança nos manguezais, devido à retirada de materiais como ferro, seringas, vidros e diversos materiais cortantes, que podem ocasionar graves acidentes. “Muito além de catar lixo, são disseminados conhecimentos e promovemos boas práticas para esta parcela da sociedade que entende, na prática, que o manguezal, além da importância ambiental, é sua principal fonte de renda”, destaca ele.

Após a Operação, os catadores poderão contar também com mais caranguejos durante a captura, por terem respeitado o período de reprodução do crustáceo e ainda pela diminuição das mortes desses animais, que ocorre, muitas vezes, devido ao entupimento de suas tocas pelo lixo.

"A retirada dos resíduos aumenta ainda o espaço livre para que mudas de mangue se estabeleçam e não tenham que competir por espaço com os resíduos sólidos, proporcionando o crescimento de novas árvores, cujas folhas são o principal alimento do caranguejo-uçá, que, por sua vez, terá espaço para construção de suas tocas“, explica a coordenadora geral do Projeto UÇÁ, Janaina Oliveira.

A Operação LimpaOca foi considerada referência nacional pela Plataforma EduCares do Ministério do Meio Ambiente, em 2014.

Replicação de boas ideias

Devido aos números exitosos da Operação LimpaOca em prol do meio ambiente e dos povos tradicionais, outras iniciativas estão replicando a metodologia. É o caso dos projetos Do Mangue ao Mar, realizado pela ONG Guardiões do Mar, em convênio com a Transpetro, e do Guapiaçu, que tem o patrocínio da Petrobras. O primeiro realizará seis atividades de limpeza nestes próximos três anos, na Baía de Guanabara e Baía de Sepetiba (três em cada baía), envolvendo, no total, 126 pescadores e caranguejeiros, com previsão de retirada de 35 toneladas de resíduos. O primeiro lugar a receber a operação é a “Ilha de lixo” na Baía de Guanabara, destaque na imprensa nacional em 2019, após denúncia de pescadores à ONG Guardiões do Mar.

Já o Projeto Guapiaçu, que assim como o Projeto UÇÁ, é integrante da Rede de Conservação Águas da Guanabara (REDAGUA), pretende reaplicar a Operação LimpaOca em espaços não atendidos pelos demais projetos, potencializando a prestação de serviços ecossistêmico nos manguezais da Baía de Guanabara. Nesta fase, foi escolhida para atendimento a localidade de Suruí, em Magé, onde atua a Associação de Caranguejeiros e Amigos dos Mangues de Magé – ACAMM, envolvendo, nos próximos 3 anos, 90 pescadores artesanais e catadores de caranguejo do município. A previsão é alcançar 30 toneladas de lixo retiradas do ecossistema e 12 hectares de manguezal beneficiados.

Projeto UÇÁ

Desde 1998, a ONG Guardiões do Mar atua como incubadora de projetos e ações socioambientais que produzem conhecimento científico e mobilizam lideranças comunitárias e de povos tradicionais para a conservação de manguezais e combate ao lixo nos ecossistemas costeiros. É a realizadora do Projeto UÇÁ, com o patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, iniciativa que mais retirou resíduos sólidos no recôncavo da Guanabara na última década: coletou mais de 51 toneladas de lixo de 47 hectares deste ecossistema com a Operação LimpaOca, restaurou 182 mil metros quadrados de florestas de mangue na APA de Guapi-Mirim e plantou mais de 64 mil árvores das três espécies de mangue.

Pioneira em educação ambiental inclusiva, foi vencedora do Prêmio Hugo Werneck (2017) e do Prêmio Firjan Ambiental (2020). Integra a Rede Águas da Guanabara – REDAGUA, a Rede Nacional de Manguezais – RENAMAN, participa da Rede Manguezais Litoral Norte de SP e do Movimento Viva Água – Baía de Guanabara. Para o triênio 21/24, atua em ações integradas com realização de serviços ecossistêmicos, educação ambiental e pesquisa em seis municípios que fazem parte da região hidrográfica da Baía de Guanabara. Mais informações em facebook.com/projetouca/ e no Instagram @projetouca.

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