À véspera do verão, o desabastecimento da Águas do Rio pode estar apenas começando
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A tal “paralisação temporária” no sistema de Ribeirão das Lajes, informada pela concessionária Águas do Rio em comunicado no último dia 17 (leia abaixo), na verdade, pode ter vindo para ficar. E promete sérios transtornos aos consumidores durante o próximo verão, que começa neste sábado, 21 de dezembro.
A extensão dos danos já dá para ser sentida no próprio comunicado, ao contabilizar as localidades atingidas pelo problema. Já Daniel Okumara, diretor de Saneamento e Grande Operação da Cedae, comentou, contudo, em audiência pública realizada na terça-feira (17), na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj):
“Se a adutora (da linha 2 de Ribeirão das Lajes) for secada, nunca mais poderá voltar à carga”, avisou. Okumara disse que está em estudos a possibilidade de injeção da água proveniente desta linha no sistema Guandu. E que a retirada desta carga poderá “causar falta d’água em comunidades inteiras”.
E não se trata de problemas com velhas tubulações. A linha 2 é de 1948, “temos diversas estruturas antigas, que funcionam adequadamente, é uma operação que tem de ser trabalhada, estudada constantemente, porque é como um organismo vivo, de alta complexidade”, analisa.
Conforme Humberto Lemos, vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Água, Saneamento e Meio Ambiente (Sintsama-RJ), a Cedae já comprou ou pretende comprar um conjunto de bombas para instalar em Lameirão, a elevatória que bombeia a água do Guandu para o Rio de Janeiro, a fim de suprir o que deixará de entrar pela linha 2 de Ribeirão das Lajes.
E, quando essas novas bombas entrarem em operação, “o custo da energia vai aumentar muito, porque não foram feitos estudos técnicos”, completa Lemos, que também atribui os problemas com a linha 2 à incapacidade dos técnicos da Águas do Rio de operarem o complexo sistema.
“As equipes da Cedae levavam uns 50 anos se especializando nessas operações. Com salários baixos, a Águas do Rio possui grande rotatividade de mão de obra, que não tem tempo para aprender”, aponta.
Em vídeo do Seropédica News, o vereador Vaguinho Neguinho (PRD), de Nova Iguaçu, cobra da funcionária Aline Magno, então gerente de Comunicação da Águas do Rio, explicações ao prolongado desabastecimento de água na cidade da baixada fluminense. Ela confirma a decisão de desativar a linha 2 após a sucessão de rompimentos de adutoras, inclusive a de Rocha Miranda, onde morreu uma idosa.
O JORNAL DO BRASIL perguntou à Águas do Rio se a suspensão da linha 2 de Ribeirão das Lajes é temporária ou definitiva. Até o fechamento desta reportagem, porém, não obteve resposta.
O sistema Ribeirão das Lajes
Segundo a Cedae, a Represa de Lajes, que abastece a unidade de tratamento, recebe as águas dos rios Piraí, Pires, da Prata e Machado. Ela integra a Bacia do Rio Guandu e tem 338,8 km² de extensão.
O Sistema de Abastecimento de Água Integrado Ribeirão das Lajes entrou em operação em 1940, quando foi concluída a linha 1 da adutora. Em 1949, foi a vez da linha 2 passar a suprir o abastecimento do então Distrito Federal e do Estado da Guanabara, que até antes da fusão com o antigo Estado do Rio de Janeiro, era só atendido pelo Sistema Acari, sujeito à sazonalidade.
As duas linhas foram projetadas para produzir 456 mil metros cúbicos de água a cada 24 horas, em duas etapas de 228 mil metros cúbicos.
Comunicado da Águas do Rio
A Águas do Rio informa que a distribuição de água tratada em partes da capital e da Baixada Fluminense foi afetada, nesta terça-feira (17/12), por uma paralisação temporária no Sistema Ribeirão das Lajes. Responsável pelo Complexo Hidrelétrico de Lajes, a Light suspendeu momentaneamente, durante o período da manhã, a disponibilização de água para este sistema, sob gestão da Cedae.
O volume de água recebido pela Águas do Rio através do Sistema Ribeirão das Lajes já foi restaurado, no entanto, a queda no fornecimento comprometeu a distribuição em partes do Centro e das zonas Norte e Sul da cidade do Rio de Janeiro, além de áreas dos municípios de Japeri, Nova Iguaçu e Queimados.
Na tarde desta quinta-feira, 19, o abastecimento nestas regiões estava em recuperação, processo que ocorre de forma gradativa, em 36 horas, podendo levar mais tempo nas áreas elevadas e nas pontas das redes de distribuição. Neste sentido, a Águas do Rio orienta que os seus clientes mantenham a água de cisternas e caixas d’água reservada para atividades essenciais, adiando tarefas que demandem alto consumo, até a regularização do fornecimento.
Regiões afetadas:
· Rio de Janeiro: Benfica, Bento Ribeiro, Bonsucesso, Cachambi, Caju, Catete, Catumbi, Centro, Cidade Nova, Cidade Universitária, Complexo do Alemão, Del Castilho, Engenho da Rainha, Engenho Novo, Estácio, Flamengo, Gamboa, Glória, Guadalupe, Higienópolis, Honório Gurgel, Ilha do Governador, Inhaúma, Jacaré, Jacarezinho, Lapa, Laranjeiras, Madureira, Mangueira, Manguinhos, Maré, Marechal Hermes, Maria da Graça, Olaria, Oswaldo Cruz, Penha, Penha Circular, Pilares, Praça da Bandeira, Ramos, Riachuelo, Rocha, Rocha Miranda, Sampaio, Santo Cristo, São Cristóvão, São Francisco Xavier, Saúde, Tomás Coelho, Turiaçu, Vasco da Gama, Vicente de Carvalho, Vila da Penha e Vila Kosmos
· Japeri: Engenheiro Pedreira, Bananal, Caramujos, Das Granjas, Dos Eucaliptos, Marajoara, Mucajá, São Cosme e São Damião, Vila Guandu, Cidade Sr Do Bonfim
· Nova Iguaçu: partes de Jardim Guandu, KM-32, Lagoinha e Prados Verdes
· Queimados: Distrito industrial, Marajoara, Santo Expedito, Santa Rosa, Valdariosa e partes de Coimbra e Vista Alegre.
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Versões diferentes para causas do aumento de tarifas
Quando o governador Claudio Castro assinou o termo de conciliação com a Águas do Rio para justificar o aumento de 9,83% a 14,28% (com inflação de 4,87%), em 21 de novembro de 2024, a justificativa foi de que a empresa identificou, ao assumir o serviço, a cobertura inicial de coleta de esgoto menor do que a indicada como existente no edital. O que exigiria investimentos extras e reduziria a receita prevista para a operação.
Apesar da água potável ser uma necessidade básica, cujo conteúdo mínimo de dignidade da pessoa humana está previsto na Constituição, o lucro da empresa que ganhou a concessão passou a ser a prioridade.
E, como já foi dito pelo JB, é de se estranhar que a concessionária, pré-selecionada no edital por ter experiência comprovada na prestação de serviço, não tenha conferido as informações do edital durante os seis meses em que se preparou para assumir a concessão. E tenha chegado a pagar 90% de ágio pelo aparentemente lucrativo negócio.
O Estado, por sua vez, preferiu optar por aumentar a cobrança a prorrogar o prazo da concessão. A solução pouparia o bolso dos consumidores, mas poderia prejudicar o recebimento dos R$ 3,8 bilhões restantes, dos quais, R$ 2,4 bilhões para o Estado e prefeituras.
Outra versão
Só que na audiência pública da última terça-feira (17) na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), a origem apontada pelo presidente da Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico (Ageneresa), Rafael Menezes – ex-delegado da Polícia Civil -, para o novo preço foi o aumento de 5% para 17% nas tarifas sociais. Custos que precisam ser rateados entre todos os consumidores.
Na Alerj corria a versão de que a empresa foi em campo nas comunidades, para somar novos CPFs a esses grupos que necessitam das tarifas sociais e ter mais um motivo para engordar o seu cofrinho...