Aprovação automática pode comprometer qualidade do ensino, diz Haddad

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Agência Brasil

RIO - A aprovação automática no ensino fundamental, definida em abril pela Resolução 946 da prefeitura carioca, contraria as metas do governo federal de garantir qualidade para o ensino básico. A avaliação é do ministro da Educação, Fernando Haddad, que participou na sexta-feira, 25 de maio, do seminário Problemas e Políticas da Educação, na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

- A indústria da repetência e a indústria da aprovação automática são indesejáveis. O que eu penso é que nós temos de garantir progressão com aprendizado, e há várias maneiras de fazer isso: com seriação ou sem seriação; com ciclo, sem ciclo; com progressão continuada, e não automática, ou sem progressão continuada. Cada município tem o direito de organizar o sistema educacional, conversando com a comunidade, com o magistério, com os diretores, e respeitando a tradição local. Mas também promovendo a mudança que a qualidade de ensino exige, disse o ministro.

Haddad reiterou sua opinião pessoal.

- Eu penso que o Brasil tem sofrido dessas duas dificuldades: a repetência exagerada, e muitas vezes injustificável, de um lado; e a progressão sem aprendizado, de outro lado. São coisas que não contribuem para a qualidade da educação.

O ministro explicou que ainda não conhece toda a proposta da prefeitura carioca e que deseja acompanhar as mudanças. Disse acreditar que não se trata de progressão automática, mas de organização dos nove anos do ensino fundamental em três ciclos. Segundo Haddad, não cabe a intromissão do Ministério da Educação, cujo papel é o de "emitir diretrizes gerais".

O reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Aloísio Teixeira, que participou do seminário, disse ver a questão "com uma certa desconfiança, porque na verdade a questão não é apenas de reter o estudante na escola, mas garantir que ele se forme com um grau de conhecimento adequado". Na avaliação dele, a aprovação automática pode não garantir esse grau de qualidade desejável para o ensino.

Nesta semana, professores das redes municipal e estadual de ensino promoveram manifestações contra a aprovação automática, sob o argumento de que esse mecanismo vai tirar a autonomia deles, além de aumentar a evasão escolar. No município, os professores reivindicaram ainda reajuste salarial de 30% a proposta da prefeitura é de conceder 6%.

Para domingo, 27 de maio o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) marcou nova manifestação contra a aprovação automática, a partir das 10 horas, na Praia de Copacabana.