O impasse da violência urbana
Carolina Bellei , Felipe Sáles e Paula Máiran , Jornal do Brasil
RIO - Não é este o Estado que queremos , reconheceu nesta quinta o governador Sérgio Cabral Filho, quando se referiu à rotina mórbida que o Rio enfrenta, com baixas civis e de policiais em meio à guerra oficial em curso contra o crime. Ontem, dois policiais militares foram executados na Lagoa e, perto dali, horas antes, no Leblon, um homem morreu em troca de tiros entre policiais e traficantes. Cabral Filho afirmou que não vai recuar em sua determinação de prosseguir no enfrentamento armado da violência.
Para autoridades e representantes da sociedade civil, o que está em questão não é a validade da política de enfrentamento percebida pela maioria como necessária mas a eficácia e o custo social do modelo de execução dessa política.
O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, garantiu ontem que ninguém autorizou, autoriza e autorizará ninguém a matar .
Para Beltrame, quem provocou os recentes episódios foram bandidos, acostumados a atirar a qualquer momento :
Com críticas oportunistas e o achincalhe à política de segurança, a sociedade perde disse Beltrame.
A Associação Brasileira de Indústria de Hotéis (ABIH) defende a política de confronto:
Os últimos crimes e a atual política são coisas distintas, mas obviamente que os crimes abalam a imagem do Rio disse Sérgio Nogueira, superintendente da ABIH.
Fundador do Rio de Paz, Antônio Carlos da Costa, cobra mais treinamento e salários dignos.
Sem uma investigação eficaz, a impunidade vai vencer a guerra.
O presidente do Clube dos Cabos e Soldados da PM, Jorge Lobão, pediu a retirada dos fuzis das ruas:
Armamos pesadamente homens sem
preparo e estressados.
O deputado Marcelo Freixo (PSOL) concorda:
Não se trata de aceitar ou não o confronto, a questão é de que forma isto é feito. Toda polícia se confronta com a ilegalidade, mas a política tem de ser voltada para a redução no número de mortos.
Para o presidente da Associação dos Militares, Auxiliares e Especialistas, Melquisedec Nascimento, qualquer investimento só será eficaz com homens motivados.
Um salário de R$ 800 nunca vai atrair as melhores mentes da sociedade para a corporação.
Clamor comunitário
Evelyn Rosenzweig, presidente da Câmara Comunitária do Leblon, aprova a melhoria salarial:
A polícia tem que ser bem paga, assim como médicos e professores. A polícia é mal tratada.
Ana Simas, da Associação de Moradores da Fonte da Saudade, exige mais inteligência:
Há mais de um ano solicitamos uma investigação aqui no bairro. Jorge Barata, da Associação de Moradores do Méier é mais crítico:
Essa política é inconseqüente, de faroeste. Foi adotada nas comunidades carentes e só veio à tona quando chegou ao asfalto, quando atingiu as classes mais altas - disse.
Jogar a culpa nos PMs é covardia, o governador os chama de débeis mentais para tirar o dele da reta.