Paço abre as portas para Burle Marx
Bruna Talarico, Jornal do Brasil
RIO - As pedras portuguesas que ainda compõem a orla de Copacabana não lembram mais o projeto humanista para as calçadas e jardins da Princesinha do Mar. No Aterro do Flamengo, as plantas doentes e as estruturas danificadas já não trazem à memória os 7 anos de obras para expansão do bairro, com projetos lúdicos que integravam a natureza ao ambiente urbano.
Mas para lembrar o centenário de um dos responsáveis pelos maiores projetos paisagísticos da cidade, que em suas formas originais exaltavam o equilíbrio na construção do espaço público e privado, o Paço Imperial abre ao Rio, nesta sexta-feira, as portas da exposição Roberto Burle Marx 100 anos a permanência do instável.
Somente no Rio, levam a assinatura de Burle Marx cenários como o paisagismo da Lagoa Rodrigo de Freitas, os terraços do Palácio Gustavo Capanema, sede do MEC, e os jardins do MAM. Mas muitos dos que usufruem dos 21 espaços abertos projetados para a cidade não conseguem atribuir a obra ao paisagista justamente por causa da depredação do patrimônio público. Com este argumento, Haruyoshi Ono, amigo e herdeiro do escritório de Burle Marx, atenta para a falta de manutenção das autoridades, que leva a uma descaracterização dos ambientes e é sentida no dia-a-dia pelos frequentadores.
A manutenção é um processo natural, que hoje não existe mais. No Aterro, as árvores estão infestadas de doenças e as folhas cheias de insetos. Em Copacabana, as feiras danificam as pedras portuguesas, que também não foram feitas para aguentar o peso dos carros que estacionam nas calçadas aponta. A obra fica descaracterizada e nós, que participamos da construção, sentimos muito.
Trajetória recontada
Na exposição abrigada pelo Paço Imperial a partir de sexta-feira, 335 obras irão desenhar a trajetória de Burle Marx, que além de paisagista foi idealizador de figurinos, cenários, tapeçarias, pinturas, cerâmicas e mesmo jóias. O período da pesquisa durou dois anos e permitiu que, no fim, um amplo acervo representasse não apenas o que produziu o paulista, mas quem foi o homem por trás das intervenções na paisagem carioca.
O bonito é mostrar como a intervenção do homem na natureza foi tão equilibrada no caso de Burle Marx ressalta Lucia Basto, gerente-geral da Fundação Roberto Marinho e realizadora da exposição. O Rio é considerado como Cidade Maravilhosa em grande parte por causa da integração da ação do homem com a paisagem natural.
Lucio Cavalcanti, curador da exposição, acredita que a história da cidade pode ser contada a partir de elementos coletados para a mostra, a maioria inédita para o público.
Muita gente cresceu com essa paisagem já pronta, e não conhece a história por trás de tudo isso lembra. Burle Marx tem relação direta com a história da cidade e do país.