Mar sujo e redes de arrasto tornam a pesca amadora bem mais difícil

Por

Carlos Braga, Jornal do Brasil

RIO - A poluição espanta os peixes e causa mutações até nas histórias de pescador. Entre eles, há quem garanta ter fisgado um defunto após horas de espera sem conseguir que um modesto baiacu mordesse seu anzol. Luís Paulo Teixeira Miranda, aposentado da Vale, de 55 anos, lembra de quando tirava do mar do Leblon uns quatro ou cinco peixes bons, como robalos ou pampos, em um dia de pesca às margens da Avenida Niemeyer. Coisa de 15 anos atrás. Hoje, ele diz se dar por satisfeito quando leva uma cocoroca para casa.

Pesco neste ponto há uns 30 anos. Não havia mirante, mas tinha muito mais peixe garante Luis Paulo, que usa dois caniços, um deles, importado da França. Já vi um cara pescar, num só dia, 68 baiacus, que é um dos melhores peixes, caso se saiba fazer. Hoje está muito ruim. As traineiras vêm pegar os cardumes quase na praia.

Amigo de Luís Paulo, o pescador submarino Marcos Vinícius Fagundes, de 36 anos, acha que a debandada da fauna marinha se deve ao esgoto despejado no mar e aos barcos que fazem pesca de arrasto. Segundo ele, as redes de pesca de malha fina, instaladas por pescadores profissionais, capturam peixes pequenos, que, sem valor comercial, acabam jogados fora.

Quando comecei, havia muito robalo, pampo e garoupa. Há uns 15 anos, conseguia pegar 30 kg de polvo por dia compara Marcos Vinícius. Hoje, se procurar bastante, cato no máximo uns 10 kg.

Um dos mais disputados pontos de pesca da cidade fica na ponte de acesso à Estrada do Galeão, na Ilha do Governador. As águas da Baía de Guanabara não são as mais limpas do Rio, mas os pescadores de fim de semana não parecem se importar com isso. A maioria vem da Baixada Fluminense, famílias inteiras com toda o equipamento necessário, o que inclui, além de varas, iscas e molinetes, as caixas de isopor com cervejas, refrigerantes e lanche.

Uma das famílias que dava banho na isca num fim de semana era a de Alex Ferrari, de 24 anos, que pesca na ponte desde os 10 e estava acompanhado por mulher, sogro, sogra, todos moradores de Duque de Caxias. A cada ano, vê menos peixes e mais sujeira, mas não troca a ponte da Ilha por nenhum outro na Zona Sul.

Na verdade, venho aqui porque é mais perto. Dava muita cococoroca e corvina. Mas já puxei um pé-de-cabra e várias camisinhas. Uma vez fisguei até um defunto conta Ferrari. O anzol agarrou e pensei que era um peixe. Puxei com cuidado, porque estava muito pesado. Quando consegui fazê-lo chegar mais perto, percebi que era um corpo. Aqui não é difícil ver presunto boiando.

O Caminho do Pescador, no Leme, é onde o aposentado Helio Stupia, de 76 anos, joga seu anzol atualmente. Morando no bairro há três meses, ele garante já ter içado uma corvina enorme , de mais de um quilo. Para quem duvida do feito, mostra o registro do bicho feito com a câmera do celular. Na foto, um orgulhoso Helio exibe o peixe que pende de sua mão. Ele ensina que a melhor hora para pescar por ali é bem cedinho, se puder, de madrugada. Foi nesse horário que pegou um peixe-porco. Durante a narração de suas aventuras pesqueiras, o caniço de Hélio começou a tremer. Animado, pede para o fotógrafo do JB se preparar. Um amigo faz troça, e promete uma coça se, do mar, vier outra cocoroca. E foi o que a linha trouxe.

Antigamente, a água daqui era limpa. Também as embarcações pegam muito peixe miúdo, acabam com tudo repete Hélio. Mas vai começar a dar peixe-espada. Eles vêm com a lua cheia.

O curioso é que não é difícil encontrar pescadores que não gostam de peixe. Caso do funcionário público Paulo de Souza. Como ele diz, o negócio é fisgar o peixe.

Gosto não. Levo para minha mulher fazer.