Aumenta procura por grupo que atende compulsivos por compras
Camilla Lopes, JB Online
RIO - Atrasada para a reunião do grupo de apoio aos compradores compulsivos que funciona na Santa Casa de Misericórdia, Centro do Rio, Sônia Maria, 54, aceitou conversar com o JB por uma motivo especial:
Acho que se eu falar com você minha família vai me entender.
Sônia faz parte de um grupo de 10 pessoas que se reúnem duas vezes por semana para o tratamento de um distúrbio novo e ainda incompreendido pela sociedade: a compulsão por compras, que, segundo a coordenadora do grupo de apoio, a psicóloga Carolina Alamy, vem aumentando muito nos últimos meses.
Para ela, é preciso que as pessoas entendam, sobretudo a família dos pacientes, que o transtorno da compulsão por compras é uma doença grave e não um caso de falta de caráter.
A família dessas pessoas geralmente fica muito magoada, porque o portador do distúrbio acumula dívidas, não consegue se controlar. Por isso, nossa orientação é para que os parentes que convivem com o paciente participem da terapia explica.
A coordenadora já não sabe o total dos pacientes atendidos. No entanto, afirma que a média de cada grupo deve ser de no máximo 12 participantes.
Eu lamento não podermos tratar os pacientes individualmente, porque esse é um serviço gratuito e tentamos fazer o melhor possível.
Dia de sol com cartão
Apesar de ainda não contar com a compreensão da família, Sônia se diz plenamente consciente de que é portadora de um distúrbio.
Eu sei que tenho um problema grave. Um dia, por exemplo, fui na Caixa Econômica Federal e um homem que eu nunca tinha visto na vida me ofereceu um cartão de crédito com R$ 1.500. Quando recebi o cartão numa manhã linda de sol, eu me enfiei num shopping e só saí de lá quando detonei tudo. Na hora não penso em como vou pagar relata.
Aliás, a sensação de receber uma correspondência que possa conter uma cartão de crédito ou um convite para comparecer a agências bancárias para fazer um empréstimo foi descrita pelas participantes do grupo como uma das melhores do mundo .
Até quando vamos sacar dinheiro o caixa eletrônico sempre tem uma mensagem para gastarmos todo o nosso limite de crédito. As letras ficam grandes na tela, é horrível diz Juliana Almeida, 25 anos, vários empréstimos para pagar e cartões com limite estourado.
O crédito fácil, as liquidações e os atendentes do chamado telemarketing ativo têm um peso maior na vida de um portador de compulsão por compras.
Telemarketing
X, que pede para não ser identificada, tem problemas em dizer não .
Quando uma atendente de telemarketing liga para a minha casa oferecendo qualquer coisa eu seguro o telefone com tanta força que minha mão sua. Eu deixo queimar a comida mas não consigo dizer que não quero.
A propaganda, a promoção e a oferta de crédito não são responsáveis pela compulsão, mas, com certeza, a pessoa que sofre do mal, quando vê uma liquidação, não consegue se controlar. O comportamento é completamente irracional. Para essas pessoas ter dinheiro no bolso é como o alcoólatra ter uma garrafa de bebida.