Zona Portuária pronta para zarpar

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João Pequeno , Jornal do Brasil

RIO - Idealizada desde o final dos anos 70 e elaborada em projetos da Secretaria Municipal de Urbanismo no início desta década, a tão falada, e adiada, revitalização da Zona Portuária do Rio parece mais perto de sair do papel agora, quando um acordo da prefeitura com os governos federal e estadual permitirá construções em terrenos (62% da União) na área formada pelos bairros Saúde, Gamboa, Santo Cristo e Caju além de parte de São Cristóvão até então indisponíveis.

A transformação em um ponto de atração residencial, econômica e cultural de uma área hoje abandonada pelo esvaziamento de atividade econômica e evitada por ser considerada perigosa pode vir com o fim do viaduto da Perimetral, a abertura ao público da orla junto ao Cais do Porto e o estímulo à construção residencial e empresarial, temas que o Jornal do Brasil aborda segunda e terça-feira, em várias palestras reailzadas no auditório do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)..

Projeto tramita na Câmara

Participante da mesa de abertura da conferência A Revitalização da Zona Portuária do Rio de Janeiro, o secretário municipal de Desenvolvimento, Felipe Góes, apresentou detalhes do projeto numa audiência pública na Câmara Municipal, na última sexta-feira. Para pôr em prática o programa de revitalização, batizado de Porto Maravilha, a prefeitura depende da aprovação o projeto de lei complementar 26/2009, que cria a Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto (Cdurp), municipal e destinada exclusivamente a administrar a intervenção na Zona Portuária, dividida em duas fases.

A Fase 1, exclusivamente com recursos da prefeitura, terá investimento em habitação (com 500 novas unidades de moradia previstas), saneamento e dragagem. Já tem licitações em andamento, podendo começar ainda em 2009 e terminar em dois anos. Já a fase 2, numa operação consorciada com os governos estadual e federal, começa após a aprovação do projeto, com possibilidade de ser iniciada em 2010 e concluída em um período de quatro a cinco anos prevê o secretário, que falará na segunda mesa redonda de segunda-feira na conferência.

Mais moradias

Um dos pontos essenciais para o sucesso do Porto Maravilha é conseguir atrair moradores para a Zona Portuária, aumentando sua população de 22 mil para 100 mil habitantes. A região administrativa hoje está em 24º lugar entre as 32 do Rio de Janeiro no ranking municipal do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

Já é consenso em projetos urbanísticos que não adianta tentar recuperar uma área só com empresas, sem estimular a habitação. Bairros não se desenvolvem sem pessoas morando neles frisa o secretário sobre o trabalho da Fase 1, que já teria R$ 200 milhões garantidos da prefeitura.

No total, o Porto Maravilha prevê a utilização de 489 mil metros quadrados com potencial de construção em uma área total de aproximadamente 5 milhões.

Entre as obras de tráfego e reconstrução de espaço público, a demolição da Avenida Perimetral, entre a Praça Mauá e a Rodoviária Novo Rio, dará espaço à área de livre acesso ao Cais do Porto. O trânsito da Avenida Rodrigues Alves passará para um túnel, enquanto uma rua paralela ao cais será aberta entre a Avenida Venezuela e a Rodoviária, para dar vazão ao volume de tráfego da Perimetral e facilitar, inclusive, o acesso à Linha Vermelha, utilizando terrenos da Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA).

Este mesmo trecho, junto à Leopoldina, é alvo da maior polêmica gerada pelo projeto, já na Fase 2, de operação consorciada entre governos municipal, estadual e federal e com orçamento estimado em cerca de R$ 3 bilhões. Voltada para empreendimento de edifícios comerciais na elaboração do Porto Maravilha, a área em torno da Avenida Francisco Bicalho, incluindo uma parte de São Cristóvão, terá licença para construção de prédios de até 50 andares, o gabarito mais alto segundo a nova regulamentação e cujos impactos sobre o já complicado trânsito local com saídas para zonas Norte, Sul e Centro do Rio, além de Niterói ainda são desconhecidos.

Deveríamos ter mais discussões sobre o projeto para conhecê-lo mais a fundo afirmou o vereador Paulo Pinheiro (PPS).