Rede municipal do Rio: prova conclui que situação melhorou
Fernanda Malta , Jornal do Brasil
RIO - Para a secretária municipal de Educação, Claudia Costin, uma boa direção faz uma escola funcionar . Por isso, diretores e funcionários das 50 escolas mais bem colocadas no ranking elaborado após a avaliação da Prova Rio serão premiados pela rede municipal de ensino, dentro do Termo de Compromisso de Desempenho Educacional. Ao todo, 126.966 alunos do 3° e 7° anos do ensino fundamental foram testados em matemática e português. As diretorias das 50 escolas do topo da tabela têm, agora, o compromisso de ajudar os 50 colégios com piores desempenhos. A Prova Rio, aplicada em novembro, vai gerar o Índice de Desenvolvimento Educacional (Ideb), que mede o desenvolvimento escolar dos alunos.
De acordo com a secretária, os resultados constataram que alunos do 3° ano mostraram progresso, chegando a apresentar notas superiores ao padrão estabelecido para o 5° ano.
Isso mostra que estamos no caminho certo. Saímos de um estado crítico para o intermediário analisa Claudia Costin.
Já as provas realizadas por alunos do 7° ano não foram tão satisfatórias. A secretária julga que o motivo é o acúmulo de déficits em conhecimentos gerais:
Agora que a gente dispõe de dados que permitem estratégias mais variadas, podemos agir e corrigir caminhos previamente adotados.
Escolas de ponta
Os colégios Barão Homem de Melo, em Vila Isabel (Zona Norte) e Roberto Burle Marx, no Recreio dos Bandeirantes (Zona Oeste), conquistaram, respectivamente, as primeiras posições do 3° e 7° ano em língua portuguesa.
Boa parte do sucesso pode ser atribuída às diretoras Maria Elizabeth Barbosa da Silva e Sara de Carvalho, que receberão, junto com os funcionários da equipe, a premiação anual.
A diretora Maria Elizabeth afirma que a prioridade da escola é o bem estar de todos. Segundo ela, a parceria formada por serventes, alunos e direção é o segredo para impulsionar o aprendizado.
Todos precisam vestir a camisa do colégio. O aluno não aprende só com o professor. Quando ele percebe que todos se preocupam com seu bem estar, sente-se mais feliz, mais seguro afirma a diretora da escola, que garantiu um Ideb igual a 6,6, considerado no padrão europeu.
No Burle Marx o sucesso é parecido, mas a ordem é outra: para a diretora Sara de Carvalho, a motivação dos alunos depende do ambiente de convivência.
Compete a mim, como gestora, incentivar o trabalho da equipe o tempo inteiro, para não esmorecerem. São muitos os boatos de que os salários vão atrasar, por exemplo, e tenho que garantir a sensação de que todos dividem uma mesma linguagem explicou Sara, que está à frente do colégio há seis anos, desde sua fundação.
O Burle Marx teve o Ideb igual a 5,9, mas, no próximo ano, a diretora espera atingir a meta de 6,1, considerada alta.
Alunos do 9° ano preocupam
A secretária Claudia Costin ainda informou que dos 1.885 alunos do 9° ano que realizaram provas de segunda época, 83,7% foram aprovados.
É interessante perceber que se não houvesse provas de segunda época, 1.577 alunos seriam reprovados.
Escola em área de risco surpreende por bom resultado
Alunos com melhores notas destacam o ambiente escolar
Caio de Menezes
Uma das melhores colocadas na Prova Rio de Portugûes para o 3º ano estuda na Escola Municipal Barão Homem de Melo, no Maracanã (Zona Norte). Eloah Silva Pinto Mota, de 9 anos, sonha igualar a quantidade de diplomas que sua mãe, professora de geografia, tem na parede de casa.
Gosto muito da estrutura que a escola oferece. Tenho certeza de que a qualidade dos professores e a harmonia existente entre as pessoas serão fundamentais quando eu crescer. Cada atividade diferente, como feiras de ciências e mostra de talentos, serve para que eu possa passar mais tempo envolvida com o colégio e professores analisa a menina.
Ela conta que um de seus sonhos é manter uma tradição de família.
Minha mãe tem um monte de certificados e diplomas em sua parede. Quando crescer, eu quero que na minha falte espaço para pendurar novos diplomas, por isso me aplico nos estudos planeja.
Cláudia Maria Pinto, mãe de Eloah, e professora da Escola Municipal Orsina da Fonseca, na Tijuca (Zona Norte) avalia a escola em que a filha estuda.
Há um clima familiar na Barão Homem de Melo que estimula a criança a aprender. Minha filha já gosta de ler e de estudar, e, lá, fazem essa vontade aumentar. Ela até falou que estava com saudade da escola, que as férias estavam demorando para acabar revela.
Entrosamento
Já na Escola Municipal Roberto Burle Marx, em Jacarepaguá (Zona Oeste), o diferencial, de acordo com a mãe de um dos alunos, é a interação entre pais e professores.
A escola é muito organizada, seu ponto forte é esse entrosamento. Sempre ligam, dizem se o aluno precisa de reforço, ou se está desatento, bagunceiro. Com essas informações, podemos cobrar nossos filhos, fica mais fácil conta Silvia Spinelli Calado, mãe de Pedro, um dos melhores colocados na Prova Rio de Português para alunos do 7º ano.
A escola é muito legal e, diferente das outras escolas públicas. Aqui não há sujeira ou falta de professores. Isso facilita muito para a gente. Sem falar que, com a quantidade de exercício que fazemos, é impossível não aprender as matérias diz Pedro.
Sua colega Paula Marques Babo Alves destacou-se em Matemática.
Saí do colégio PH e fui muito bem acolhida lá. Foi onde descobri o que quero ser. As aulas de dança e teatro são maravilhosas, quero trabalhar com isso anuncia.
Para mostrar que a recuperação pode vir a qualquer momento, a escola municipal Embaixador Ítalo Zappa, em Vargem Pequena (Zona Oeste), serve de exemplo. Foi o único colégio localizado em área conflagrada da cidade a ficar entre os 50 mais bem colocados do ranking.
Esse exemplo indica que o caminho é possível. Temos uma diversidade muito grande de desempenho entre escolas situadas em diferentes áreas geográficas, mas entre as que estão em regiões conflagradas, apenas a Ítalo Zappa não apresenta um baixo rendimento ressaltou a secretária municipal de Educação, Claudia Costin.
Entre as 50 piores escolas incluídas no ranking, 14 fazem parte do projeto Escolas do Amanhã, voltado para 150 estabelecimentos em áreas de tráfico armado ou milícia.
Ajuda da comunidade
A diretora Milene Stanislovaitis, 43 anos, é responsável pela educação de 950 crianças da Ítalo Zappa, que, divididas em três turnos, estudam da educação infantil ao 4° ano. Além disso, há também uma classe especial para deficientes mentais, com crianças de diferentes idades. Todos eles são moradores da comunidade Bandeirantes, ao lado do colégio. A maior preocupação de Milene é com os alunos que, de um dia para o outro, desaparecem.
Muitos têm família no Norte do país e, quando alguém fica doente, saem do Rio para se juntar aos parentes. É complicado conseguir resgatar esses alunos de volta preocupa-se
Para a diretora, a participação dos moradores da comunidade é fundamental na motivação dos estudantes. Muitos deles são mães e pais, que, pelo menos uma vez por semana, aparecem na escola para ler histórias com as crianças. Além dos amigos, há também uma iniciativa privada que oferece aos alunos do colégio aulas de balé e teatro, além de passeios pela região.
As ajudas são essenciais para encantar os alunos e fazer com que eles não desistam de comparecer às aulas.