Reféns da conexão oscilante

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Thiago Feres, Jornal do Brasil

RIO DE JANEIRO - Conseguir conexão com a tão falada internet grátis nas áreas beneficiadas pelo projeto Rio Estado Digital se tornou quase um milagre. Recorrentes problemas estão provocando muitas reclamações por parte dos usuários, sejam eles turistas ou cariocas.

O primeiro ponto a ser beneficiado pela ideia foi a orla de Copacabana (Zona Sul). Segundo a secretaria estadual de Ciência e Tecnologia, a instalação naquela área tinha como prioridade atender os turistas. O inusitado é que sequer os funcionários do quiosque da prefeitura do Rio, localizado no Posto 2 para informações turísticas, conseguem navegar na grande rede com a internet grátis.

O sinal aqui até existe. O problema é que ele sofre muitas oscilações. Tem dias que não consigo conectar à internet, o que é muito grave pra gente que atende os turistas informou a funcionária Patrícia Rodrigues, 25.

Ainda na orla, o argentino Sebastian Lopez conta que após tentar duas vezes sem sucesso a conexão com a rede gratuita, optou por pagar pelo serviço no hotel em que ele está hospedado.

Na Avenida Brasil, uma das principais portas de entrada da cidade, o projeto foi inaugurado no dia 16 de dezembro do ano passado. O pouco tempo de funcionamento das antenas equipamentos novos não garante a eficácia do serviço.

Já estive sem a minha internet particular aqui na empresa e a conexão do governo não funcionou. Meu computador reconhece a rede da Avenida Brasil, mas eu não entro na internet. É impressionante - confessou Marcos Marques, 38, dono de uma oficina na beira da via.

Para a conexão gratuita chegar até a Avenida Brasil, foram investidos R$ 4,5 milhões e instaladas 163 antenas ao longo dos 58 quilômetros de extensão da via, que corta 28 bairros do Rio. A idealização do projeto foi feita pelo núcleo de pesquisas da Uerj - Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

Os equipamentos foram implantados pela empresa Mibra Telecom. De acordo com o seu sócio-proprietário, Nilton Trindade, a dificuldade é maior quando se pretende instalar as antenas em áreas com o solo irregular.

Sofremos bem mais para instalar antenas em favelas, por exemplo. Na Avenida Brasil foi mais fácil, mas estamos com outros problemas que não estavam nos nossos planos afirmou.

Secretaria admite problemas

O secretário estadual de Ciência e Tecnologia, Alexandre Cardoso, admitiu que o projeto enfrenta um período de instabilidade e revelou que não esperava que os equipamentos fossem se tornar alvo de vândalos.

Em apenas uma semana, 15 quilômetros de fibra óptica foram roubadas na Avenida Brasil. Por isso, alguns pontos estão com sinal zero disse.

O secretário anunciou que todo o projeto está ganhando uma plataforma de monitoramento, o que vai permitir um controle do número de acessos por cada antena instalada.

A medida vai evitar quedas de conexão. Vamos saber quando um número grande de pessoas estiverem captando o sinal do mesmo ponto.

Reclamações do serviço também no Santa Marta

A dificuldade de conexão afeta também os moradores no Morro Santa Marta, em Botafogo (Zona Sul), e ainda causa prejuízos para os comerciantes do setor.

O proprietário Luiz Paulo Assis, dono da LP&F Informática, que funciona no interior da favela, afirmou que a promessa de internet gratuita para os moradores da comunidade não foi cumprida. Segundo o comerciante, a baixa qualidade do serviço representou prejuízo para seu negócio.

Imaginei que haveria procura por receptores, e realmente houve. Mas como a internet nunca funciona direito, ninguém mais compra. As pessoas notaram que esse serviço é furada, e o sinal não chega em suas casas. Comprei 10 receptores e só vendi três reclamou.

Já Thiago Firmino, morador na parte mais alta do morro, classificou como instável o serviço de internet gratuita.

O secretário de Ciência e Tecnologia, Alexandre Cardoso, disse que as antenas fornecedoras da conexão aos moradores da comunidade foram atingidas recentemente por um raio, o que prejudicou o serviço. Ele informou que técnicos já estão trabalhando para resolver o problema, não só no Santa Marta, mas também na Avenida Brasil.