RJ: coordenador do AfroReggae diz que recebeu ameaça de presos
Rio de Janeiro - O coordenador do AfroReggae, José Junior, afirmou que se envolveu na negociação com os traficantes porque recebeu telefones de moradores e dos próprios bandidos. Ele revelou o teor da conversa que teve com o grupo. "Eu disse que eles deveriam se entregar para não morrer. Que não deveriam colocar moradores expostos a esse tipo de violência", afirmou.
Ele afirmou que antes de entrar na favela recebeu garantias da Polícia Militar de que de "iria respeitar a integridade física de cada um" em caso de rendição e prisão. José Júnior também revelou que nenhum dos traficantes com os quais conversou falou em enfrentamento direto com a polícia. "Ninguém falou sobre enfrentamento, não quer fizer que não vá acontecer."
No final da tarde deste sábado o coordenador do AfroReggae afirmou que ficou muito chateado porque recebeu uma carta do presídio federal de Catanduvas, no Paraná, com ameaças pelo trabalho de tentar tirar as pessoas do tráfico. Ele deixou a favela da Grota, no Complexo do Alemão, por volta das 18h após tentar negociar a rendição de traficantes, mas voltou para falar com os jornalistas.
José Junior chegou ao Complexo do Alemão no início da tarde deste sábado, para auxiliar na negociação da rendição dos criminosos. Ele subiu a comunidade, passando pelas barricadas da polícia e disse que foi tentar resolver o problema. O coordenador do AfroReggae não deu detalhes de quando recebeu a carta e sobre o conteúdo das ameaças.
Mais cedo, o comandante do Batalhão de Choque Polícia Militar do Rio, coronel Waldir Soares Filho, disse que acredita que há a possibilidade que traficantes tentem passar pelo bloqueio da polícia, ao invés de se entregar, conforme o recomendado. "A hipótese mais real é essa, de tentar passar sem ser identificado", disse.
De acordo com o comandante, a recomendação é de que os traficantes se rendam apresentando as armas sobre a cabeça como determinam as normas internacionais. Segundo ele, até o momento ninguém se apresentou dessa forma. Desde o início dos ataques, no último domingo, pelo menos 38 pessoas morreram em confrontos no Rio de Janeiro.
Violência
Os ataques tiveram início na tarde de domingo, dia 21, quando seis homens armados com fuzis abordaram três veículos por volta das 13h na Linha Vermelha, na altura da rodovia Washington Luis. Eles assaltaram os donos dos veículos e incendiaram dois destes carros, abandonando o terceiro. Enquanto fugia, o grupo atacou um carro oficial do Comando da Aeronáutica (Comaer) que andava em velocidade reduzida devido a uma pane mecânica. A quadrilha chegou a arremessar uma granada contra o utilitário Doblò. O ocupante do veículo, o sargento da Aeronáutica Renato Fernandes da Silva, conseguiu escapar ileso. A partir de então, os ataques se multiplicaram.
Na segunda-feira, cartas divulgadas pela imprensa levantaram a hipótese de que o ataque teria sido orquestrado por líderes de facções criminosas que estão no presídio federal de Catanduvas, no Paraná. O governo do Rio afirmou que há informações dos serviços de inteligência que levam a crer no plano de ataque, mas que não há nada confirmado. Na terça, a polícia anunciou que todo o efetivo foi colocado nas ruas para combater os ataques e foi pedido o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para fiscalizar as estradas. Foram registrados 12 presos, três detidos e três mortos.
Na quarta-feira, com o policiamento reforçado e as operações nas favelas, 15 pessoas morreram em confronto com os agentes de segurança, 31 foram presas e dois policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) se feriram, no dia mais violento até então. Entre as vítimas dos confrontos, está uma adolescente de 14 anos, que morreu após ser baleada nas costas. Além disso, 15 carros, duas vans, sete ônibus e um caminhão foram queimados no Estado.
Ainda na quarta-feira, o governo do Estado transferiu oito presidiários do Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste do Rio, para o Presídio Federal de Catanduvas, no Paraná. Eles são acusados de liderar a onda de ataques. Outra medida para tentar conter a violência foi anunciada pelo Ministério da Defesa: o Rio terá o apoio logístico da Marinha para reforçar as ações de combate aos criminosos. Até quarta-feira, 23 pessoas foram mortas, 159 foram presas ou detidas e 37 veículos foram incendiados no Estado
Na quinta-feira, a polícia confirmou que nove pessoas morreram em confronto na favela de Jacaré, zona norte do Rio. Durante o dia, 200 policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) entraram na vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, na maior operação desde o começo dos atentados. Os agentes contaram com o apoio de blindados fornecidos pela Marinha. Quinze pessoas foram presas ao longo do dia e 35 veículos, incendiados.
Durante a noite, 13 presidiários que estavam na Penitenciária de Segurança Máxima de Catanduvas, no Paraná, foram transferidos para o Presídio Federal de Porto Velho, em Rondônia. Entre eles, Marcinho VP e Elias Maluco, considerados, pelo setor de inteligência da Secretaria Estadual de Segurança, diretamente ligados aos atos de violência ocorridos nos últimos dias. Também à noite, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, assinou autorização para que 800 homens do Exército sejam enviados para garantir a proteção das áreas ocupadas pelas polícias. Além disso, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, anunciou que a Polícia Federal vai se integrar às operações.
Na sexta-feira, a força-tarefa que combate a onda de ataques ganhou o reforço de 1,1 mil homens da Brigada de Infantaria Paraquedista do Exército e da Polícia Federal, que auxiliaram no confronto com traficantes no Complexo do Alemão e na vila Cruzeiro. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, a polícia permanecerá nas favelas por tempo indeterminado. A troca de tiros entre policias e bandidos no Complexo do Alemão matou o traficante Thiago Ferreira Farias, conhecido como Thiaguinho G3. Uma mulher de 61 anos foi atingida pelo tiroteio na favela e resgatada por um carro blindado da polícia. Foram registrados quatro mortos e dois feridos ao longo do dia. Um fotógrafo da agência Reuters foi baleado no ombro e hospitalizado.
Na parte da noite, o Departamento de Segurança Nacional (Depen) confirmou a transferência de 10 apenados do Rio de Janeiro para o presídio federal de Catanduvas (PR). Também à noite, a Justiça decretou a prisão de três advogados do traficante Marcinho VP e a Polícia Civil anunciou a prisão de sua mulher por lavagem de dinheiro.
Atualizada às 19h34