Amarildo: delegado Ruchester é investigado pela CGU
Ruchester abriu as investigações do caso Amarildo
O delegado Ruchester Marreiros Barbosa, que abriu as investigações sobre o desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza da favela da Rocinha, Zona Sul do Rio, está sendo investigado pela Corregedoria Geral Unificada (CGU), por supostos erros técnicos cometidos durante uma investigação de tráfico na comunidade. As investigações de Ruchester à frente da 15a. DP (Gávea) coincidiram com o período em que Amarildo desapareceu da Rocinha, após ser levado por policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) local para uma "averiguação".
O delegado chegou a concluir no seu inquérito que Amarildo tinha sido sequestrado por traficantes e sua casa servia como "base" pelos criminosos da região, acusando ainda a mulher do pedreiro, Elisabeth Gomes, de ligação com o tráfico na favela. Ruchester chegou pedir a prisão de Elisabeth, mas a Justiça não atendeu à solicitação do delegado. Após o fechamento do relatório policial, o delegado foi transferido para a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) e mais recentemente foi realocado no cargo de adjunto na 12ª Delegacia de Acervo Cartorário (DEAC).
Em agosto, o delegado apresentou um vídeo gravado por ele e o inspetor Halter Pitter, onde um menor acusa o traficante Thiago Silva Mendes Neris, o Catatal, pelo sumiço de Amarildo. Foi baseado nesse episódio que Ruchester pediu a prisão preventiva da mulher de Amarildo. O vídeo foi gravado no Hospital Miguel Couto, onde o jovem se recuperavam de ferimentos.
No dia 11 de setembro, o mesmo jovem prestou novo depoimento na Divisão de Homicídios (DH) e revelou que havia recebido dinheiro do inspetor da Civil para mentir. O menor disse também que o major Edson dos Santos foi ao hospital para oferecer segurança e o aluguel de um imóvel fora da Rocinha, na condição dele continuar incriminando Catatal. Ele foi além nas informações e disse que Wellington Lopes, que também participou da gravação dos policiais da delegacia da Gávea teria sido beneficiado também para prestar falso testemunho e já estava morando em uma casa alugada pelos policiais em Jacarepaguá. No depoimento que deu a Ruchester, Wellington afirmou que havia sido torturado em frente à casa de Amarildo. Depois do testemunho na DH, o menor e a sua mãe foram colocados no programa de Proteção à Testemunho e levados para fora do Rio. O episódio envolvendo Ruchester e Pitter levanta indícios de que o relatório assinado pelo delegado pode pertencer a uma grande farsa e, como outros fatos já comprovados pelo Ministério Público, pode ter sido forjado para beneficiar os PMs da UPP.
A abertura do inquérito pela CGU foi publicado nesta quinta-feira (24/10) no Diário Oficial do Estado, o que indica que as investigações já estão acontecendo. Apesar do procedimento ser justificado por erros técnicos no exercício do trabalho, novas revelações sobre o caso Amarildo devem surgir nos próximo dias. O Ministério Público do Rio confirmou que recebeu as placas de quatro veículos ocupados por agentes do Bope que chegaram à Rocinha às 23h50min do dia 14 de julho, ou seja, após a sessão de tortura que Amarildo foi submetido por 40 minutos e resultou com a sua morte. Os nomes dos policiais do Bope também foram fornecidos ao MP, que vai investigar o motivo da ida dos PMs na comunidade.
No início de outubro, foi divulgado que o inspetor da Polícia Civil, Halter Pitter, manteve contato com o ex-comandante da UPP da Rocinha, major Edson dos Santos, acusado pelo MP da morte de Amarildo. Escutas telefônicas feitas pela Divisão de Homicídio (DH) revelaram que Pitter, logo após o depoimento do soldado na delegacia da Gávea, contou à Edson que o soldado Rodrigo Avelar “tem que tomar um ‘se liga’ porque está muito desesperado, igual a ‘uma galinha’”. Em uma das 14 ligações telefônicas entre o policial civil e o major, no período de 15 de agosto a 11 de setembro, Pitter comentou com Edson que “esses moleques [Policias Militares da UPP] têm que tomar umas porradas se deram um mole desses”. Em outro trecho toma uma posição quanto a sua participação no caso: “acho que vão chamá-lo na Corregedoria [major Edson dos Santos], por isso estou largando de mão, sabia que alguém não ia gostar do que vocês fizeram”.
Atualmente, Halter Pitter está lotado na delegacia de Repressão a Crimes de Informática (DRCI), por onde também passou o delegado Ruchester Marreiros antes de ser novamente transferido para a 12ª Delegacia de Acervo Cartorário (DEAC). Ambos foram transferidos da 15a. DP logo após a divulgação do relatório policial que incriminava a família de Amarildo de Souza e assinado por Ruchester. Pitter foi o responsável pelas investigações que deram origem a operação Paz Armada, realizada na Rocinha no dia em que Amarildo desapareceu.
Procurada pelo Jornal do Brasil, a Polícia Civil disse que as transferências de delegados são rotinas administrativas e ocorrem com frequência para oxigenar os quadros da Polícia Civil. A nota confirma que o delegado Ruchester está sendo investigado pela CGU, no inquérito da Operação Paz Armada e a investigação está em andamento. "Os investigados são afastado ao término dos Processos Administrativos Disciplinar (PAD) quando comprovada a culpabilidade", explicou a nota.