Crea-RJ constata obras mal feitas em áreas atingidas por enchentes
O Crea-RJ realizou nesta quinta-feira (19) uma inspeção em pontos críticos de enchentes no Rio de Janeiro e na Baixada Fluminense. O presidente do Conselho, Agostinho Guerreiro, em companhia do engenheiro sanitarista Adacto Ottoni, assessor de meio ambiente do Crea, verificaram 'in loco' a situação de rios que transbordaram nas últimas chuvas.
O primeiro local visitado foi o Rio Irajá, na Penha, subúrbio da cidade. Lá foi possível observar que a altura da ponte que passa sobre o rio é muito baixa, criando um túnel que dificulta a passagem da água. Somado a isso, tem a enorme quantidade de lixo que vem pela corrente de água e se aloja no local, dificultando ainda mais o escoamento da água, provocando inundações.
A segunda parada dos membros do Conselho foi no rio Meriti, que corta a rodovia Washington Luiz, na altura da Pavuna, outro subúrbio do Rio. Foi possível verificar que a canalização do rio foi feita de forma errada e que os pilares de sustentação da ponte são mal dimensionados, dificultando a passagem da água. Neste local, havia uma ecobarreira, construída pelo Governo do Estado, que estava totalmente destruída. As margens do rio viraram um enorme depósito de lixo.
O Rio Acari, na Fazenda Botafogo, foi o terceiro ponto visitado. Nele foi possível ver enormes ilhas formadas por lixo, plantas e terra que assoreiam o rio em diversos trechos, prejudicando o escoamento. O rio está canalizado, porém a obra não resolveu o problema das enchentes na região.
"A canalização não atua na origem do problema. O objetivo da canalização é aumentar a capacidade de escoamento do rio para ele não transbordar, mas não adianta, porque só empurra o problema para a parte baixa do rio", afirma o presidente do Crea, Agostinho Guerreiro.
Todos esses rios analisados pela equipe do Crea transbordaram com as chuvas do último dia 11, deixando 13 localidades da cidade do Rio debaixo d'água: Parque Columbia, Irajá, Acari, Jardim América, Guadalupe, Anchieta, Vigário Geral, Parada de Lucas, Pavuna, Manguinhos, Fazenda Botafogo, Cordovil e Complexo do Alemão.
Seguindo para a Baixada Fluminense, a equipe visitou o Rio Queimados, no município de mesmo nome, que na semana passada ficou em estado de emergência. A contenção do rio, recém-construída, foi realizada em apenas uma área. É uma vistosa obra de canalização que alargou um pequeno trecho do rio para aumentar a capacidade de escoamento. O resultado, porém foi desastroso. É que, na periferia da cidade, onde o rio volta à sua largura natural, bem menor, a água da chuva desceu em alta velocidade pelo espaço canalizado e arrastou lixo e esgoto. Com isso, se formou uma barragem o que provocou o transbordamento, inundando a região.
"Temos que implementar obras de engenharia com sustentabilidade ambiental. A canalização de um rio não resolve enchentes, pelo contrário, está agravando os problemas, pois concentra a vazão d' água nas partes baixas e aumenta a magnitude da inundação. Temos que fazer obras que ataquem a causa do problema, que é retendo água nos morros e encostas através de reflorestamento, fazendo saneamento de esgoto, reflorestando as margens, construindo barragens de cheias e bacias de detenção, aumentando a impermeabilidade do solo. Essas obras são muito mais baratas do que essa (do Rio Queimados) que foi caríssima e uma das responsáveis pela inundação", explica o engenheiro sanitarista Adacto Ottoni.
O objetivo da inspeção feita pelo Crea-RJ é fazer um detalhamento dos problemas e apontar soluções de curto, médio e longo prazos que estarão listadas em um relatório, a exemplo do que foi feito depois da catástrofe da região serrana. O relatório vai apresentar soluções relativamente simples e baratas como formas de diminuir o impacto das calamidades provenientes da grande índice pluviométrico que ocorre no verão.
"Estamos produzindo um documento que será enviado ao Governo do Estado, ao Ministério Público e às Prefeituras dos municípios afetados para que não se esqueçam de que existe um Código Florestal que não está sendo cumprido, como, por exemplo, em manter topo de morro florestado ou reflorestá-lo, manter as áreas com inclinação de mais de 45 graus ocupadas só com arvores, as faixas de beira de rio, e tudo isso para evitar essa grande quantidade de água que chega nas partes baixas causando tragédias", comenta o presidente do Crea-RJ.
Agostinho Guerreiro ressalta que no relatório também são recomendadas algumas obras, até mais baratas do que as realizadas pelas prefeituras, como as barragens de contenção para diminuir o volume e a velocidade da água que desce das montanhas, as bacias de decantação, que são buracos feitos em locais estratégicos para impedir, em um primeiro momento, o impacto de uma chuva forte e rápida.
"São obras que podem ficar para sempre, são mais econômicas e podem ser complementadas. É preciso fazer uma intervenção ou uma obra de engenharia pensando também no futuro, para daqui a alguns anos. Se nada for feito, vamos continuar tendo catástrofes desse tamanho ou piores", conclui o presidente do Crea-RJ.