Novais, por Novaes

Parlamentares têm direito a uma tal verba indenizatória para compensar o baixo salário

Por Carlos Eduardo Novaes, escritor

Quer dizer que o deputado Pedro Novais – que caiu de pára-quedas no ministério da Dilma, jogado do avião do Sarney – antes de assumir a pasta do Turismo já botou na conta do governo a excursão que fez ao Motel Caribe em São Luis?

Como você sabe, os parlamentares em Brasília têm direito a uma tal verba indenizatória – era de R$ 32 mil por mês – para compensar seus baixos salários. São gastos com os ossos (duros) do ofício ressarcidos posteriormente mediante a apresentação de notas e recibos. Foi assim que um assessor do Novais chegou à secretaria da Câmara carregando uma pilha de papéis.

– O que é isso? – indagou o funcionário, conferindo as notas – R$ 22 mil só em diárias no Hotel Emiliano? É um dos mais caros de São Paulo!

– Você queria que um deputado de seis mandatos e 80 anos se hospedasse em uma pensão? – e acrescentou – Ele não é povo. É representante do povo! É diferente.

– Ele não é deputado pelo Maranhão?

– Por isso mesmo! Não tem onde ficar em São Paulo!

– Mas por que tantas diárias? Ele despacha de São Paulo?

O assessor ficou irritado com tantas perguntas:

– Vai dizer que você nunca viu uma nota desse valor? Vamos logo com isso!

– Não posso aceitar essa nota sem saber a razão das despesas.

– Ah não? Espera que você vai receber uma ligação do gabinete do senador Sarney. Sarney é padrinho do Novais, sabia?

O funcionário entubou a nota e continuou sua conferência:

– Motel Caribe... – leu em voz alta. – Motel Caribe?

– Tá pensando o quê? Meu deputado tem 80 anos, mas ainda dá no couro!

– Aqui diz que ele promoveu uma festa para 15 casais!! Não posso aceitar essa nota.

– Por que não? Eram todos congressistas!

– Foi alguma reunião partidária? De comissão parlamentar?

– Exatamente! – disse o assessor, aproveitando-se da pergunta – Uma reunião da Comissão de Moral e Bons Costumes!

– Na suíte Bahamas, a mais cara do motel?

– Os outros quartos estavam ocupados por outras comissões.

– Essa nota vai pegar mal. Já imaginou se a imprensa tomar conhecimento? Vai ser um escândalo! Já seria se o deputado tivesse 30 anos e acompanhado de uma única mulher. Com 80, e 15 casais, o escândalo será muito maior!

O assessor estava impaciente:

– Vai ou não vai ressarcir essa despesa? Mistura essa nota com as outras que ninguém vai reparar... é tudo verba indenizatória!

– Tudo bem – consentiu o funcionário da Câmara, pensando no emprego. – Tem algo mais para abater?

– Só mais essa, da farmácia. Quinze embalagens de Viagra!