Turismo interno: hora da grande largada 

Por Julio Serson

O setor de turismo no Brasil deixa para trás o amadorismo e a improvisação. Vem se profissionalizando, graças à visão empreendedora de grupos empresariais que enxergam oportunidades e buscam transformá-las em resultados, com geração de renda, empregos, tributos, movimentando a economia e contribuindo para o progresso.

A diversidade da natureza e da cultura neste vasto território motivou um impulso preferencial ao turismo de lazer. Mas há outra vertente que se consolida aos poucos. Trata-se do turismo de eventos, com suas feiras, exposições, convenções, seminários, leilões, festivais, grandes espetáculos. O Brasil situa-se, hoje, entre os dez países que mais recebem encontros internacionais, e há um imenso potencial de crescimento. 

São Paulo concentra metade do total de feiras de negócios de todo o país, girando R$ 13,6 bilhões por ano somente no aluguel de centros de eventos. Mas a maior cidade brasileira já bateu no seu limite, sufocada por gargalos, sendo o principal deles a falta de espaços. O Pavilhão do Anhembi não tem mais reservas até 2016. A propósito: hospedagem não é problema, porque mais de 400 hotéis oferecem cerca de 41 mil quartos, quantidade suficiente para a demanda. 

É preciso inovação, criatividade, investimento público e privado, num processo de avaliação e decisão que não pode ficar, porém, balizado apenas pela Copa 2014 e pela Olimpíada 2016. São duas supercompetições  esportivas com forte atração de público, mas com período limitado. 

Em Brasília, por exemplo, discute-se a implantação de um complexo hoteleiro-turístico num terreno de 80 mil metros quadros, hoje vago, junto ao Setor Hoteleiro Norte. Ele abrigaria hotéis, centro de convenção, parques, áreas de lazer e entretenimento, dentro de uma visão de longo prazo, de que a capital do país tem condições de se expandir como polo econômico, de eventos no turismo de negócios, cultura etc     

Este é um nicho para se aproveitar melhor. No exterior, organizações e entidades empresariais, profissionais, acadêmicas, setoriais e religiosas certamente vão olhar com mais atenção para o nosso país, caso identifiquem por aqui a existência de condições apropriadas.

Apenas 23,3% dos turistas estrangeiros entram no Brasil a negócios ou eventos, enquanto 46,1% (praticamente o dobro) são atraídos por programações de lazer. Quem vem a negócios ou eventos gasta mais: US$ 119,38 ao dia, ante US$ 70,53 no turismo de lazer, conforme pesquisa feita pela Fipe-USP, sob encomenda do Ministério do Turismo e da Embratur, e divulgada no início de outubro do ano passado. O número de estrangeiros que atribuíram ao turismo no Brasil o nível máximo de excelência cresceu de 26,6% em 2009 para 31,5% em 2010. E o índice dos que pretendem retornar ao país chegou a 96%.

Na avaliação por itens, os melhores foram hospitalidade (98%), gastronomia (96%) e hotéis (94%). Guias de turismo, táxis e diversão também obtiveram boas notas. As piores avaliações ficaram para preços (60%), rodovias (66%), telefonia e internet (73%) e sinalização (76%).

A balança comercial no setor permanece desequilibrada. Em 2010, o déficit foi de US$ 10 bilhões (US$ 6 bilhões de entradas, US$ 16 bilhões de saídas). Este ano, se for mantida a média registrada até agora, o saldo negativo deverá situar-se em torno de US$ 14 bilhões. Temos de agir, logo.

O turismo de negócios e eventos precisa ser estimulado, e esse impulso não pode prescindir de uma participação ativa, firme e direta da Embratur, não apenas em suas frentes de divulgação no exterior, como ocorre desde 2003 após a criação do Ministério do Turismo, mas também no âmbito interno.

Com larga experiência acumulada ao longo de 45 anos, completados em 18 de novembro, a Embratur deveria ser reincorporada ao planejamento, definição de diretrizes e de linhas de ação, além da execução de programas destinados a incrementar o turismo nacional, com especial destaque para a atração de visitantes estrangeiros, notadamente em programações de negócios e eventos.

A empresa faz parte da história do turismo brasileiro. Não deve ficar à margem do processo de fomento do turismo interno. Resgatar seu papel e recolocá-la no centro das decisões certamente renderá frutos positivos para o país.

Julio Serson, vice-presidente de Relações Institucionais do Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil, foi presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de São Paulo