Armazenar em um banco privado, ou doar as células-tronco para um banco público?
Armazenar em um banco privado, ou doar as células-tronco do cordão umbilical para um banco público? Este é um questionamento de muitos pais. Entretanto, é uma decisão única e exclusivamente deles. Há vários questionamentos médicos referentes ao uso do sangue do cordão umbilical no próprio doador, conhecido como autólogo. Alguns médicos defendem ser inútil, outros apoiam a decisão, baseados no futuro das pesquisas destas células-tronco, que apesar de novas já apresentam resultados promissores. O fato é que afirmar que no caso de leucemia, por exemplo, o sangue do cordão umbilical já terá sofrido mutações no útero da mãe, no caso de crianças com a doença, não é cientificamente comprovado, por isso é fato também não existir um consenso entre médicos e especialistas no assunto.
No Brasil, realmente o número referente ao uso de células-tronco do cordão umbilical para uso autólogo ainda é pequeno, isto porque há menos de 10 anos que os mesmos começaram a ser armazenados no país. Mas em países como o México, por exemplo, já houve casos com sucesso.
Hoje, o sangue do cordão umbilical já pode ser usado no tratamento de mais de 80 doenças consideradas graves, não se trata de um seguro de vida, mas de uma chance a mais para quem passa e sofre com isso.
Claro que há células-tronco em várias partes do corpo, como a da medula óssea, gordura, dente de leite, entre outras. Entretanto, o sangue do cordão umbilical é virgem, não foi afetado por nada de ambientes externos, como medicação e estresse, por exemplo.
Hoje há os bancos públicos e os bancos privados, assim como há a saúde pública e a saúde privada, ou seja, cabe a você decidir que tipo de serviço quer utilizar. O que o BCU Brasil defende e apoia, mesmo sendo uma instituição privada, é que nunca descarte este rico material. Infelizmente, o número de hospitais e laboratórios que fazem a coleta para doação para um banco público ainda é pequeno, mas temos a certeza de que os investimentos nesta área só têm a agregar aos papais e ao futuro da saúde no país. Atualmente, eles possuem somente 13 bancos públicos em funcionamento no país, que fazem a coleta somente em hospitais credenciados pela BrasilCord, um total de menos de 30 hospitais em todo o Brasil, de acordo com dados da Fundação do Câncer (https://www.cancer.org.br/projeto-brasilcord).
E isto limita o acesso aos papais que desejam doar para os bancos públicos. Claro que as mesmas estarão disponíveis para serem usadas para qualquer pessoa que necessite, mas por conta da miscigenação de raças está cada vez mais difícil encontrar uma pessoa compatível, enquanto armazenando em um banco privado a compatibilidade é de 100% podendo colaborar com o tratamento do próprio doador, ou ainda há a chance de 25% de o material ser compatível com um membro próximo da família, como pais e irmãos.
Além disso, os médicos e associações contra o armazenamento nos bancos privados falam em chances mínimas de uso, dizendo que as chances de uma pessoa desenvolver atualmente uma das doenças que podem ser tratadas com células-tronco do cordão umbilical são ínfimas, mas não fala quais são as chances de encontrar alguém compatível nos bancos públicos, que também é baixa. Só para se ter uma ideia, no caso das células-tronco da medula óssea, a chance de encontrar um doador compatível é de 1 a cada 100 mil, de acordo com dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer). Por isso que em muitos casos optam pelo uso das células do próprio doador, sendo que estas são passadas por uma máquina que, explicando de maneira leiga, limpa as células-tronco que são usadas no próprio paciente, como foi o caso do Reinaldo Gianechini.
Hoje há centenas de pesquisas sendo realizadas com resultados positivos no tratamento usando as células-tronco do cordão umbilical. Uma delas é um estudo da Duke University (EUA), realizado em 2010 com crianças e bebês com paralisia cerebral, que foram tratadas com sangue do seu próprio cordão umbilical e apresentaram melhoras significativas nas habilidades motoras e de fala. Quem é pai ou mãe sabe do que estou falando.
Por fim, se o armazenamento do sangue do cordão umbilical nos bancos privados fosse algo que a comunidade científica já tivesse comprovado ser 100% ineficaz, certamente existiriam leis que coibiriam esta prática, autorizando apenas a doação para os bancos públicos, além de não ser incentivada por médicos em todo o país. Esta é a prova que vale a pena guardar ou doar, tendo a certeza de que a evolução das pesquisas para o tratamento de inúmeras doenças é algo certo, e em breve mais oportunidades para promoção da saúde serão alcançadas com as células-tronco.
* Adriana Homem, médica, é sócia e responsável técnica do BCU Brasil (Banco de Cordão Umbilical).